Capítulo 10 - I keep waiting

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Não conversamos depois. Fui com Octavia e Raven até a portaria, e elas se despediram. Octavia pediu para que eu fosse forte e paciente, e "ignorasse a babaca da Lexa".

—Ela ama você. Só não vê isso ainda, por que... Bem, porque é idiota. Só a ignore. Ignore a babaca da Lexa, até que alguma de vocês duas decidam que não conseguem ficar sem o corpo uma da outra — Disse. É claro que eu ri. Abracei as duas, e elas seguiram seu caminho.

A cirurgia de Annabeth demorou longas 9 horas, que eu gastei ora andando pelos corredores, ora sentada na frente da sala de cirurgia, tentando captar algum sinal de vida. Eu precisava ligar para a editora e explicar o motivo de nunca mais ter enviado os capítulos do livro, mas não conseguia fazer aquilo agora. Por causa de Anna, e bem...

Lexa parecia ter decidido fazer o mesmo que eu. Sentar e esperar, depois de ter percebido que andar para lá e para cá não ajudaria em nada. Eu percebia em sua expressão facial que ela queria puxar assunto. Mas eu não estava preparada para ouvir desculpas, e muito menos aceita-las. Levantei-me e voltei a andar pelos corredores do hospital, e ela não me impediu.

Quando a cirurgia acabou, ás 10 horas da noite, vários médicos saíram da sala. Suas expressões eram desanimadoras, o que me deixou desesperada. Emori veio logo atrás, conversando com um médico mais alto.

—Clarke! — Ela sorriu quando me viu — Foi um sucesso. Dr. Murphy fez a cirurgia.

Fiquei paralisada, sentindo apenas meu sorriso crescer no rosto.

—Pelo que é visível agora, conseguimos retirar o tumor — O doutor afirmou, com um sorriso orgulhoso no rosto, apesar de parecer exausto.

—Ela está livre do câncer? — Sorri, não conseguindo mais me controlar — Podemos leva-la para casa?

—Não. Não. Eu sinto muito, Clarke. Nós estamos apenas começando. Annabeth está desacordada, e vai ficar sob observação até que desperte, e então, vamos apenas checar como está antes de começar a quimioterapia e a radioterapia. Será um período difícil, mas vocês sempre terão nosso apoio.

—Apesar de não ser o conto de fadas que eu sempre espero para ela, isso é ótimo. Obrigada por tudo, vocês são ótimos no que fazem, eu realmente não sei o que dizer — Ri.

—Bom, agora eu preciso ir. A cirurgia foi longa e eu preciso descansar antes da próxima. Nós nos vemos depois, senhoritas — O doutor olhou para mim, e depois para Emori, então apenas sorriu e saiu.

Emori me lançou um olhar indescritível. Um olhar que fazia parecer que ela era uma adolescente, corando pelo seu primeiro amor. Olhei para trás, onde o Doutor havia parado para cumprimentar uma criança, e depois para ela de novo.

—Quer falar sobre isso? — Perguntei, apesar de querer ver Annabeth naquele momento. Emori olhou para os lados e sorriu.

—Acho que posso conversar um pouco. Isso acabaria com minha pose profissional, mas merda, é visível, não é?

Assenti. Sentamos-nos nas cadeiras de espera em frente a sala de cirurgia. Lexa não estava por perto, o que era bom, porque eu não conseguiria me concentrar.

—Você gosta dele — Chutei, mas estava bem claro. Ela apertou os lábios e olhou novamente para os lados.

—De forma estritamente profissional, eu estou louca por esse cara. Eu não quero que ele perceba o quanto eu estou sendo falha no meio profissional, mas ao mesmo tempo quero que ele perceba e perceba que é igualmente falho.

Ri da sua confissão desesperada.

—Ele olha pra você de um jeito diferente e isso é visível. Mas talvez esteja com medo de demonstrar o que sente porque você não demonstra. Por que não tenta uma aproximação?

—Não é tão seguro...

—Nada seguro vale a pena — Falei, abaixando o volume à medida que Lexa se aproximava de nós. Ela olhou diretamente para a doutora, procurando alguma informação.

—Foi um sucesso. Mas creio que tenha que pedir para que aguarde alguns minutos, enquanto esclareço alguns assuntos para Clarke. Você pode esperar certo?

Lexa olhou para mim, e depois para Emori, e por último para mim de novo. Seu olhar era um misto de tristeza e confusão. Eu não conseguia vê-la assim. Ela sabia que só um olhar e algumas palavras me fariam cair em seus braços. Mas isso não aconteceria tão cedo. A morena se virou e voltou a caminhar pelo corredor.

—Pelo visto não sou só eu que preciso conversar — Emori cantarolou. Olhei-a nos olhos.

—Isso acabaria com minha pose profissional?

Nós rimos. Emori estava sendo uma amiga maravilhosa naquele período.

—Você sabe que não somos casadas, certo?

—Sim, e adivinhe quem contou — Ela fez uma careta segurando o riso — Annabeth disse que se vocês não começassem a namorar, ela ia ficar muito brava com as duas.

—É provável.

Contei a história do começo ao fim, e ela ouviu cada palavra atentamente. Não esqueci um sequer detalhe de cada momento. E nenhum dos nossos altos e baixos. Quando terminei de falar, chegando a situação que enfrentávamos agora, ela suspirou.

—Ela não sabe como lidar com a situação. Mas ela quer falar com você. Eu vi isso quando ela veio até aqui. Mas ela não sabe o que dizer — Hesitei, olhando minhas mãos — Lexa ama você. Ela tinha seu telefone depois de todo esse tempo e só estava esperando o momento certo de voltar. Mas precisam ser pacientes agora. Ela pode não estar tão pronta quanto você.

—Eu esperei por ela por todo esse tempo. Mesmo que outras e outros tenham passado por minha vida, eu sempre vou esperar por ela, Emori — Falei baixo — Eu a amo.

A enfermeira sorriu e ficou de pé, estendendo a mão para mim.

—Então a espera não será longa.

Fomos até a sala de cirurgia. Uma parede de vidro nos separava da pequena Annabeth que dormia. Estudei cada traço facial. Os cílios longos, os lábios avermelhados entreabertos e a bochecha rosada. Eu a amava tanto que me assustava às vezes. Pensei na proposta de Lexa, sobre ficar com ela. Eu queria tanto ficar com essa garotinha. Queria cuidar dela e dar a melhor infância possível. Mas eu sabia que se ficasse com ela, Lexa desapareceria, sempre se culpando de ser irresponsável e não poder ficar. Eu não me importava com sua irresponsabilidade. Eu a amava.

Emori foi até a porta, e eu continuei olhando a pequenina. Estava tão encantada e ao mesmo tempo tão aliviada por não tê-la perdido. Emori deu um leve aperto em minha mão direita, me tirando dos meus pensamentos. Olhei para a direita, procurando vê-la, mas não era ela.

Lexa tinha as mãos espalmadas e a testa encostada no vidro. Seus olhos estavam fechados com força, e lágrimas grossas escorriam por suas bochechas. Olhei para Emori. Ela tinha um pequeno sorriso nos lábios. Sua expressão quase dizia "é agora, Griffin".

É agora, Griffin.

Assim que tirei as mãos de Lexa do vidro e as coloquei em volta dos meus ombros, e diferente do que achei que faria, ela enterrou a cabeça em meu pescoço. Fechei os olhos, sentindo seu cheiro e fiquei mais calma enquanto sentia-a ficar mais calma. Era como se estivéssemos conectadas, como se eu pudesse sentir tudo o que ela sentia. E no momento, ela sentia medo. A Lexa assustada e insegura que ela lutara todos esses anos para que não aparecesse estava começando a se mostrar de forma clara. Eu queria mostrar que a amava mesmo assim e a queria por perto, mas sabia que podia estragar tudo se dissesse algo.

Não fui eu que estraguei tudo.

Lexa se afastou um pouco. Seus olhos encontraram os meus quando ela encostou a testa na minha, e ela me olhou profundamente, com aquela habilidade única de transformar segundos em um infinito. E por um segundo infinito, eu pensei que tudo ficaria bem. Mas ela beijou minha testa e sussurrou um pedido de desculpas, com uma voz fraca. Não consegui me mover depois disso.

Lexa Woods enxugou as lágrimas, e se afastou. Afastou-se até que eu só conseguisse ver o vulto de cabelos meio cacheados chegando até a recepção, e então, provavelmente abrindo a porta e saindo. E depois disso, eu não a vi mais. E apesar de tudo, continuava esperando. 

As Long As We Are TogetherOnde histórias criam vida. Descubra agora