『New Year』

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『𝐒𝐨𝐟𝐢𝐚 𝐂𝐚𝐫𝐬𝐨𝐧 𝐏𝐎𝐕
𝐕𝐚𝐧𝐜𝐨𝐮𝐯𝐞𝐫, 𝐂𝐚𝐧𝐚𝐝𝐚́
𝟑𝟏 𝐝𝐞 𝐃𝐞𝐳𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟐𝟏

E mais um dia que acordo cansada, precisando de férias. Mas não faço ideia de quando e como terei isso novamente; a residência está sugando ainda mais minha energia depois de todo o ocorrido e que voltei aos poucos a essa rotina caótica.

A avenida principal de Vancouver está com todas as pistas travadas, até a expressa que me faz chegar mais rápido ao hospital. Para onde quer que se olhe o que se vê são intermináveis fileiras de carros e motos, espremidos entre faixas por onde se arriscam os mais apressados. Uma garoa fina suja o vidro mais do que molha, enquanto aguardo o movimento desse trânsito caótico. Porque eu tinha que ser escalada para trabalhar justo na virada de ano, sabendo que nessa época o trânsito fica pior que no natal.

No rádio do carro, o repórter informa com a voz rápida que um acidente com vítima fatal é o motivo para o congestionamento quilométrico que afeta toda aquela região. Indiferentes, alguns motoristas começaram a buzinar como se o som fosse fazer com que a remoção da vítima fosse agilizar, detestava isso, era fácil se irritar ao sentir a impaciência diante da morte de alguém. Puxei o celular do bolso para observar o mapa tentando encontrar uma saida, mas aparentemente tudo estava vermelho, com tráfego intenso.

- Não tem como a ambulância chegar até a vítima com esse trânsito - falei comigo mesma, será que o certo era descer para ver a situação - Talvez seja bom descer e ver como estão as coisas... - peguei minha maleta de primeiros socorros descendo do carro e travando o mesmo. Não estava frio, mas a garoa fina era o suficiente para causar calafrios - E vamos ao trabalho... - caminhei pela calçada ao lado dos carros completamente loucos para querer sair dali.

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Às vezes mudanças nos fazem ter medo, pois não sabemos o que pode acontecer se caso as executamos. Deitada sobre a cama do quarto de descanso observava o sol fraco que entrava pela janela aberta após a boa chuva pela manhã, mais um dia naquele lugar que estava se tornando familiar. O tique-taque do relógio sobre a porta, o ruído dos passos dos enfermeiros pelo corredor, o som dos instrumentos cirúrgicos na sala de esterilização, nada mais incomodava.

- Eu sei de tudo isso, Sofia! E vamos seguir com o protocolo... - disse - Sou neurologista há anos, especialista em medicina intensiva e de emergência. E você, uma ótima médica, nós dois sabemos quando uma lesão cerebral é irreversível...

A voz de Martin não saia da minha cabeça, não queria acreditar que havia perdido uma paciente, uma criança que tinha uma vida pela frente e tudo isso por causa de erros do primeiro hospital que havia passado, como explicaria a família que eles não poderiam mais ver a filha e muito menos contemplar da recuperação dela. A raiva era tanta que já não sentia mais a dor em minhas mãos que causei com minhas próprias unhas, sabia que fazer parte da medicina exigiria muito pulso firme, mas tinha determinadas situações que não dava para suportar.

- Ódio, ódio, ódio - gritei aos prantos.

- Eu sei que está aqui, então irei entrar - advertiu já fechando a porta - Você saiu transtornada daquela sala, iria vim atrás de você, mas teria que dar a notícia a família primeiro - suspirou sentando na poltrona ao meu lado.

- Isso foi tão injusto... - falei com a voz chorosa - Ela não merecia! Era só uma criança indefesa, Martin... - solucei de tanto chorar.

- Nós fizemos tudo que era possível como médicos, Sofia - segurou minha mão - Eu sei que se sente afetada porque desde que voltou para cá as coisas saíram um pouco do seu controle, mas você precisa voltar a ser pulso firme!

𝐋𝐚 𝐃𝐢𝐬𝐭𝐚𝐧𝐜𝐞 (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora