『Just for this night』

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『𝐃𝐨𝐯𝐞 𝐂𝐚𝐦𝐞𝐫𝐨𝐧 𝐏𝐎𝐕
𝐒𝐞𝐚𝐭𝐭𝐥𝐞, 𝐖𝐚𝐬𝐡𝐢𝐧𝐠𝐭𝐨𝐧
𝟐𝟎 𝐝𝐞 𝐅𝐞𝐯𝐞𝐫𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟐𝟐』

Arfei sentindo uma dor aguda no lado esquerdo do meu corpo, estou fraca pelos incontáveis dias sem me alimentar, aquela altura do campeonato meu corpo estava marcado pelo meu agressor. Sinto uma raiva crescer dentro de mim, precisava sair dali o mais rápido possível, dou uma breve olhada no lugar que estou presa sentindo-me familiarizada com tudo ali. Quantos dias estou aqui? Quantos dias estou sendo abusada sexualmente?

Meu corpo todo está doendo, eu não vou conseguir sobreviver, não vou conseguir sair daqui. Foco minha visão no homem a minha frente bem próximo de mim, dou uma joelhada em seu estômago finalizando com um chute no seu rosto, o corpo dele despenca até o chão debruçado e com sangue saindo da sua boca. A porta é escancarada fazendo um barulho estrondoso, um calafrio percorre meu corpo com a aproximadamente do novo homem ao quarto, diferente daquele que está sendo arrastado para fora, ele é mais forte e musculoso. Minhas costas colidem com a madeira fria no chão, mordi meu lábios inferior com força reprimindo um grito de dor, logo seu corpo está por cima do meu e não consigo evitar as lágrimas escorrer pelas minhas bochechas.

Vai acontecer novamente…

Sento na cama sentindo minha respiração ofegante e meu corpo febril ao mesmo tempo dolorido, como se eu tivesse revivido o meu pior pesadelo novamente. Passo minhas mãos no rosto a fim de limpar algum vestígio do sono, era para ter sido uma soneca da tarde e não um momento do meu trauma voltar. Está sendo assim desde o acontecimento com a Sofia meses atrás, vê-la sofrer feminicídio trouxe as lembranças do meu passado à tona.

Não contei a garota ou para outra pessoa sobre os pesadelos, não queria preocupar eles com algo que aconteceu anos atrás, principalmente para Sofia que está enfrentando seu trauma aos poucos. Rolo na cama sentindo a maciez dos lençóis abraçar minha pele, estou em um hotel fora da cidade para conseguir me infiltrar na festa clandestina de hoje. É algo que mudaria o rumo da investigação, eu saberia com quem estamos lidando e quem poderia estar comandando tudo isso.

Espero que o disfarce esconda a minha real identidade, não queria morrer lá dentro ou ser alvo deles de algum modo, por isso decidi mudar a cor do meu cabelo para um ruivo escuro. Ninguém sabia dessa mudança radical e iria contar no dia seguinte, nem mesmo a Sofia está sabendo. Suspirei ao pensar na garota, nos últimos meses ficamos bastante próximas uma da outra, fizemos vários programas juntas e com a presença do meu filho, também compartilhamos a mesma cama diversas vezes. Podemos dizer que virou um hábito, toda vez que eu ia para Vancouver acabava ficando na casa da garota e dormíamos juntas.

Como eu posso deixar de ter sentimentos por ela com nós duas agindo dessa forma?

Quase todos os dias ela está indo para o hospital cumprir sua residência que está prestes a acabar, cada dia é uma ansiedade e um medo diferente. Sabia que ela não está bem 100% para voltar a trabalhar após passar por um trauma como o abuso sexual, porém, ela não podia dar o luxo de tirar alguns dias para se cuidar. Lina e eu estamos sempre cuidando da garota da melhor forma que dá, principalmente para mim que estou longe a maior parte da semana, portanto, estou sempre atenta ao celular esperando uma mensagem da garota.

Havíamos conseguido o mandato de busca e prisão para o ex-namorado dela, além da medida protetiva, mesmo assim ela corria risco. Porém, Sofia decidiu ir para o hospital hoje e quem sou eu para discordar dela ou até mesmo prende-la dentro de casa. Talvez a minha vontade seja essa, mas não podia protegê-la do seu próprio sofrimento, dos seus medos, ela precisava voltar a sua rotina antiga aos poucos e canalizar seu trauma.

𝐋𝐚 𝐃𝐢𝐬𝐭𝐚𝐧𝐜𝐞 (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora