Capítulo 6

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Laura

Eu acordei assustada, a primeira sensação que tive foi a de conforto, o colchão onde eu estava deitada era tão macio que eu facilmente comparava a nuvens. Assim que me levantei percebi que eu vestia uma roupa diferente, uma blusa preta qualquer que definitivamente não era minha, em desespero eu procurei saber se eu ainda vestia minhas roupas intimas e descubri que sim, meus cabelos estavam úmidos e o quarto parecia ser maior do que o meu antigo apartamento inteiro, a chuva caia forte e não havia anoitecido ainda. O que mais me surpreendeu foi o Bored deitado na ponta do colchão, ele me encarava enquanto eu ainda me via sentada em meio a cobertas, e assim que o barulho de um trovão soou em nossos ouvidos, o pequeno dócil animal veio até mim e ficamos encolhidos juntos protegendo um ao outro. Encontrei alguém com o mesmo medo que o meu, acabei sorrindo com isso, ninguém nunca me entendeu realmente, mas ele o faz com uma perfeição literalmente animal.

Fiquei ali até a tremedeira passar, tinha medo de por meus pés descalços no chão e ao olhar envolta percebi a dimensão do quarto, ele era escuro, tinha paredes na cor gelo e uma na cor preta, haviam três portas e uma de vidro, essa provavelmente levava até a sacada, a cama era enfeitada com colchas e lençóis brancos e cinzas, e tinha um cheiro que me arrepiou por inteira. Era o cheiro dele, eu estava no quarto dele, esse era o quarto do Manoel, na casa do Manoel, com o cachorro do Manoel e uma blusa DO MANOEL TAMBÉM. Eu queria chorar, tanto de vergonha quanto de desespero, mas não tive tempo e nem lágrimas, uma das portas se abriu com cautela e logo ele apareceu usando uma calça de moletom com uma blusa de malha que marcava todos os músculos que eu não fazia ideia que existiam, carregava uma bandeja com água e coisas para comer.

- Você acordou – Eu apenas engulo em seco, nem tem como eu falar "Não. Eu estou dormindo ainda" – Está com fome? – Conforme a pergunta soava em meus ouvidos a necessidade de algo para hidratar meus lábios e forrar meu estomago aparecia, mas não disse nada. – Eu não sei cozinhar – Seus olhos encararam a bandeja já pronta – mas tinha um bolo que eu comprei ontem, água e um suco de caixinha – Ele suspira – Tem algumas frutas também, mais tarde nós podemos pedir algo.

Ele vem até a cama e coloca a bandeja apoiada em minhas pernas, que agora estavam bem amostra devido a camiseta.

- Obrigada – é tudo o que eu digo, mas acabo desconfiando, quando a esmola é muito alta até o santo desconfia – Eu... Não estou com fome.

- Coma – Ele toca em minhas mãos e eu me arrepio tão forte que fico com vergonha – Não coloquei nada, quer que eu coma um pedaço do bolo? – Assinto com a cabeça. Tiro um pedaço e levo o garfo até a sua boca, o vendo receber e mastigar sem preocupação alguma – Quer que eu prove as outras coisas também? – Algo dentro de mim diz que é patético, então eu apenas nego.

Comecei a comer o bolo que percebo ser de laranja, era fofinho e doce, o suco de maracujá era leve e só de comer um pouco eu percebo que tudo é muito diferente da minha realidade, o conforto está previsto em todos os lugares deste cômodo, e até a camiseta que eu estou usando tem algo de diferente. Pode ser paranoia minha, mas tudo aqui é diferente...

- Está melhor? Você estava tremendo muito quando eu te vi

- Era ansiedade – Eu murmuro mexendo na colcha da cama – Obrigada

- Pelo que?

- Por tudo – Eu sabia que o certo a fazer era agradecer, ele tinha tentado me ajudar desde o início e eu precisei chegar em um estado decadente para perceber que ele só queria o melhor, mas o que eu posso fazer? Eu sempre fui sozinha, é difícil entender que existem pessoas boas no mundo. – Foi você quem me trocou?

- Foi, mas eu não vi nada...

- Você mente mal – Dou um curto sorriso

- Você também, temos algo em comum.

Entre Cordas & MelodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora