Capítulo 19

34 2 0
                                    

Laura

A manhã de domingo chegou junto com um sentimento estranho que nunca havia sentido. Dormir no quarto dele havia me ajudado em partes já que eu conseguia sentir seu cheiro, mas meu coração acordara apertado naquela manhã. Mesmo com Bored tentando me fazer reagir eu estava exausta, era uma sensação muito nova, que me fazia querer chorar, mas segurar a bile na garganta.

Não era a mesma coisa sem ele ali, poderia ser o primeiro dia, mas era uma merda ter que fazer café e adoçar porque só eu iria toma-lo durante o dia, ou esquentar a comida na radiação do micro-ondas sem ter ele para dizer que quando mais velho ficaríamos verdes... Alí, eu nomeei minha saudade de Manoel, porque era apenas ele que eu ansiava ou sentia falta.

Ainda durante a tarde me permiti pensar um pouco sobre como pode ser me apaixonar, gostaria de que nada nunca mudasse, mas a mudança me parece cada dia melhor... A paixão nunca foi um foco para mim e talvez nunca seria se não fosse por ele, não tenho certeza da paixão, nem do amor, mas tenho confiança nele e em meu coração, e acreditei que ali o mais puro seria a sinceridade vinda do meu amigo bombeador de sangue, que parecia animado com qualquer situação de amor gentil.

Durante a segunda-feira eu havia decidido que iria focar bastante em meus estudos e entender o que estava acontecendo comigo. Passei horas mexendo na internet e estudei bastante, mas não perdi a oportunidade de procurar algo sobre amor e paixão.

Alguns casais gravavam como haviam se conhecido, outros respondiam perguntas e respostas um sobre o outro, mas o melhor de tudo aquilo mesmo, era ver o brilho no olhar, semelhante ao que eu ando tendo.

Não gostava de pensar que a minha história com o Manoel está sendo uma típica da Disney, onde ele chegou e me salvou, levou a pequena gata borralheira para um castelo, deu a ela amor, carinho, comida e um cachorro e viveu feliz para sempre. Ao mesmo tempo me sentia sortuda por ele ter me encontrado naquele dia e insistido em mim, como ninguém nunca fez em momento algum. E foi pensando assim que eu só deixei para lá, não importando como tudo começou, mas só deixando o agora acontecer.

[...]

Foram os cinco dias mais estranhos que eu já havia passado, tive que lidar com os meus sentimentos de saudade, fé e amor, sem ao menos ter certeza do que eles são... Passei grande parte estudando, mas quando eu percebi que dormir no quarto de Manoel me deixava mais leve, descobri que a saudade era um sentimento cruel para alguém que nunca teve nada na vida. Assim foi, quando ele parou de me ligar, tive que me agarrar nas esperanças dele estar bem e me contentar apenas com as mensagens, e foi péssimo. Mas pior ainda foi quando eu tive certeza de que estava apaixonada, eu havia acabado de receber minha primeira nota do semestre, e queria muito contar para ele. E no final, a única coisa que importa é quem é a primeira pessoa que você pensa em contar quando algo bom acontece na sua vida, não é?

Pois então, era ele... E ele não estava, então eu tive que ficar quieta. Também passei a sentir falta dele nos cafés, nos almoços, nas jantas... Ele era meu maior pensamento, me sentia quase vazia... Era cruel com o meu coração, que havia treinado todos esses anos ser forte, e que agora sofria de saudade e antecipação, porque já tínhamos uma resposta para aquele que aflorava a ginastica artística dentro dele...

Por falar nisso, dei um duplo twist carpado quando o elevador fez barulho e Bored levantou uma orelha, eu não estava em uma das minhas melhores situações físicas. Comer doce no sofá da sala usando roupa velha e larga enquanto lê um livro não era nada atraente, eu sabia que meu cabelo estava uma bosta e que provavelmente havia açúcar grudado em minha boca, mas eu simplesmente caguei... Fui correndo até o elevador que já abria suas portas, meu coração pulava junto comigo de antecipação e animação, Bored estava ao meu lado abanando o rabo com uma energia que eu acho que nunca pude presenciar, mas que era linda de se ver... Até que o elevador abre, parecia que eu não o via a anos e que tudo passou a ser em câmera lenta, Bored foi correndo até ele, a mala parou no meio do caminho e mesmo com um ar de cansado ele levantou o cachorro no colo e deixou um beijinho perto do nariz... Eu acabei petrificando, infelizmente minhas pernas ficaram grudadas centímetros antes de chegar aos mínimos degraus que há dividindo o hall da sala, poucos metros dele, algo como dúvida e insegurança começaram a querer nascer em mim novamente e eu acabei ficando no mesmo lugar, mas com o entusiasmo parecido ao do cachorro.

Entre Cordas & MelodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora