Capítulo 14

38 2 0
                                    

Laura

- ACORDAAA É SABADOOOOOOO – Eu chego muito animada no quarto de Manoel, havíamos passado aquela semana tranquilamente, tirando o início que foi uma baderna... Eu estava menstruada, e nessa época do mês a minha animação fica fora do normal, assim como minha tristeza que se acentua. Claro que ultimamente eu tenho ficado melhor, mas as vezes bate uma bad.

- Pelo amor de Deus, fecha essa cortina – Ele reclama com a voz rouca, uma das coisas que mais me animavam de manhã era a voz dele, sempre lenta e rouca falando bom dia, mais grossa do que o normal...

- Precisa acordar, para fazermos coisas legais de final de semana – Pulo em sua cama e o chacoalho, gostava de sentir a textura da pele dele na minha e nesses últimos dois dias tenho entendido a necessidade dele de sempre me tocar, porque virou uma vontade minha também...

- O que você quer fazer hoje? – Ele suspira bem forte e abre os olhos aos poucos, uma de suas mãos sobe até a minha cintura e me puxa para deitar junto.

- Eu queria levar Bored para passear no parque - A mão dele entra por de baixo de minha camiseta e traça alguns desenhos imaginários em minhas costas – E também queria ver se consigo consertar o meu violão, sinto muita saudade de tocar – Ele me encara e deixa um beijo na ponta do meu nariz, eu sempre fico muito contente com esse carinho, as vezes até sinto saudade. Parece que ele acalma meu coração, uma maneira simples de falar "eu estou aqui".

- Podemos fazer isso. Sem problemas, mas você poderia ter me deixado dormir mais – Eu dou risada e me sento na cama. – Você ainda está de pijama, poderíamos apenas voltar a dormir.

- Não, vamos logo... Você pode escolher o almoço – Ele sorri largo e então levanta até antes de mim...

[...]

Manoel

Ela corria igual uma criança atrás do cachorro, eu fico cada vez mais animado com a sua presença em minha vida, sou ciente de que não quero que ela vá embora, mas não sei como isso vem se desenvolvendo em sua cabeça. Há muitas coisas que não tocamos no assunto, como por exemplo os dotes culinários dela, sinto que facilmente ela poderia abrir um restaurante, ela faz de tudo, e parece que até gosta, mas como isso aconteceu? Eu não sei... Em compensação, descobri que ela adora dançar músicas que ela mesma produz, como ontem à noite, quando ela dançou enquanto batucava a colher de madeira na tampa da panela, nada muito bonito, nem compassado, mas completamente divertido. Naquele momento, enquanto ela coloria meu olhar com sua dança virtuosamente desengonçada, eu me questionava quando foi que alguém olhou para aquela menina e pensou que tinha o direito de fazê-la sofrer... Ela é capaz de me proporcionar momentos simples que superam todos os momentos bons que tive em toda a minha vida, suas sardas me fazem crer que ela é o meu universo em forma de gente, seu maior planeta é o coração, com toda certeza.

Ali, enquanto eu segurava seu celular e tirava algumas fotos dela em segredo, me via completamente apaixonado por qualquer coisa que tinha ligação com ela. Seu cabelo, seu cheiro, seus livros, suas teorias, suas paixões... Queria tê-la por perto a cada minuto e até me esquecia dos problemas da empresa, ela merece o meu melhor sempre e eu decidi que era isso que eu sempre a daria. Ela me dava a sua melhor versão, mesmo eu duvidando haver alguma versão ruim dela...

Tenho adiado nossa conversa sobre minha viagem na próxima semana, porque eu quero dar esses dias para ela se sentir à vontade. Assim, quando eu lhe comunicar sobre isso quero apenas que ela tenha certeza de que ficar em casa me esperando é o melhor a fazer, pode parecer loucura, mas é isso o que eu quero. Aquele lugar é dela também, nossa casa, nossa vida... Mesmo ela não acreditando em tudo isso, ainda...

- Ainda temos água? – Assinto enquanto lhe entrego a garrafinha e ela se senta ao meu lado na grama, dá alguns goles e depois fecha – Por que você não brinca com a gente?

- Você está até rouca de tão cansada, acho que deu por hoje... – Dou risada, ela estava inteiramente suada, alguns fios soltos do seu penteado estavam grudando em seu rosto e suas bochechas estavam incrivelmente vermelhas, estava linda, alegre, radiante... Ela reluzia, como isso era possível? – Até tem manchas de barro em sua calça...

- É... Tem, mas sou eu quem lavo – Ela dá de ombros e me encara divertida. – Alias, senhor Vitalli.... – Ah pronto – Como o senhor se virava quando morava sozinho? Quer dizer.... Eu faço tudo em casa, até limpei a cozinha ontem...

- Primeiro, eu adorei que você usou "em casa" – Passo meu braço direito em volta do seu corpo e a puxo para mais perto – Segundo, eu vivia comendo na casa de Vincent, mas... Bom, você já sabe.

- Ele começou a namorar – Ela sorri e me incentiva com o olhar a continuar.

- Na limpeza, uma vez a cada 15 dias vai uma moça limpar... – Ela para um pouco e me olha um tanto seria...

- Uma moça? – Eu assinto com a cabeça e vejo uma expressão de surpresa em seu rosto, não entendo muito bem, mas logo Bored aparece tirando a atenção da ruiva... – Mas como eu estou sujo, mãe... Olha como eu sou espoleta e me sujei inteirinho – Ela faz uma voz mais doce e engraçada e passa as mãos pelo corpo de Bored, que simplesmente se joga e aproveita cada carinho. É amigo, eu te entendo...

- Vamos tirar uma foto? – Pego meu celular e estendo, esperando Laura se juntar a mim com Bored no colo... – Sorriaaaa

É. Eu realmente acredito que posso viver com eles para o resto da minha vida, sem problema nenhum....

[...]

Havíamos passado na loja de instrumentos, o moço nos disse que para aquele violão não teria mais volta, quando a Laura o ganhou ele já era velho e com a agua adentrando na madeira, acabou corroendo boa parte do que mantinha a integridade, compensava comprar outro do que consertar aquele. Mas ela não gostou muito da notícia, já havíamos almoçado, eu até tentei propor um filme, porém Laura continua em seu quarto estudando para não ter que pensar naquilo, eu poderia comprar um violão novo, só não sabia se seria bem visto aos olhos dela... Então eu realmente ficava de mãos atadas. Não sabia se esses eram os momentos em que eu ficava por perto eu dava o espaço dela para respirar, só não queria vê-la triste.

- Oi – Ela diz baixo chegando na cozinha, nessa semana eu percebi que seus cabelos costumam ser uma desordem, mas começaram a brilhar, ela anda cuidando mais deles.

- Oi. Como está? – Eu estava sentado no banco do balcão que separava a cozinha da sala, acho que muito mais pensativo do que o necessário.

- Bem – Ela engoliu um comprimido com ajuda da água que veio buscar, encharca uma toalha na pia da cozinha e coloca alguns segundos no micro-ondas, talvez esteja com cólica.

- Você precisa de alguma coisa? – Me atrevo a perguntar e ela vem até mim, em um ato que me surpreende Laura se enfia no meio das minhas pernas e repousa sua cabeça em meu ombro, seus finos braços abraçam o meu corpo e ela suspira – Está tudo bem?

- Vai ficar... – Deixo um beijo no topo de sua cabeça e passo os meus braços ao seu redor.

- Como estão seus estudos?

- Uma bagunça. Agora que eu fico o dia inteiro estudando, me sinto exausta... Você anda me acostumando mal. – Dou risada e ela se afasta, indo buscar a toalha no micro-ondas.

- Você quer algo?

- Não... Obrigada.

- Vou subir com você – Ela dá de ombros, e então eu logo me vejo a seguindo até o quarto mais quente daquela casa fria.

Entre Cordas & MelodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora