Capítulo 17

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Laura

Existem situações que são extremamente novas para mim, e as novidades são sempre bem-vindas quando eu vivencio com a companhia de Manoel, agora por exemplo estamos dividindo a poltrona de rafia da sacada do quarto dele, não está frio e pela primeira vez eu decidi notar o céu daqui. Uma mão dele me fazia cafuné e a outra estava entrelaçada na minha, a brisa leve as vezes golpeava os nossos corpos, mas servia apenas para eriçar o pelo.

- Tem uma livraria enorme em Alexandria – Eu digo lembrando de lhe fazer um pedido – Você pode me trazer algum livro de lá? Em inglês, se tiver...

- Posso, quer mais alguma coisa? – Nego e me seguro um pouco mais em seu corpo. – Sentirei sua falta... – Ele deixa um beijo em minha cabeça e suspira.

- Eu não. – Minto de brincadeira e ele ri. – Mas só por precaução, você acha que pode me ligar toda noite antes de dormir?

- Claro, o fuso é de uma hora apenas... – Eu o encaro, a barba já estava por fazer e pinicava toda vez que raspava em mim, mas era bom. – Promete que ficará bem?

- Prometo tentar... – Deixo um beijo em sua bochecha.

- Durma comigo hoje? – Eu poderia dizer não, mas quem eu queria enganar? Eu não o verei pelos próximos dias e eu sei que isso me fará muito mal, então é melhor eu aproveitar o pouco dele agora...

- Durmo. – Ele sorri com a resposta, e logo me aperta mais ao seu corpo... Eu me sentia na liberdade de guardar aquele momento em meu coração, como algo novo em nossas vidas... A recorrente presença dele em situações assim fazia do simples algo muito mais importante, ele coloria meus momentos e na verdade, ele era a razão deles existirem.

- Então vamos agora para a cama, assim você não desiste – E eu não reclamei, deixarei só por hoje ele me carregar quarto à dentro sendo seguido por um cachorro e pela lua, que insistia em iluminar os quartos pelas janelas.

Torcia para que o cheiro dele impregnasse em minha roupa, assim eu não teria que viver sem algo que me lembrasse ele, apesar de que eu já havia decorado sua voz, sua maneira de mexer as mãos e até seus tiques. Me sentia mal por ter guardado tanta informação dele em minha mente, mas me sentia parte dele por conta disso... Queria ser um refúgio, assim como ele era o meu naquele momento. Seu tórax muito mais musculoso do que eu pudera alguma vez descrever servia de um travesseiro quente, a mão dele já estava traçando desenhos imaginários em minhas costas por baixo da camiseta e os lábios dele, às vezes, me presenteavam com algum beijo na testa. Me sentia feliz por receber aquele carinho, algo dizia que era certo, o meu lugar...

[...]

Manoel

Velava pelo sono dela, decorava cada traço, cada respiração, aroma, textura... Ali, deitada em minha cama e em cima de mim, era o lugar dela. Dormindo tranquilamente, sem preocupações, saudável, ela precisa se manter assim e para ela ficar exatamente desse jeito eu preciso voltar, não posso morrer, não agora...

É errado reclamar de uma vida, quando você claramente sabe que outras pessoas vivem em uma situação pior, ou até mesmo a pessoa que você ama vive algo difícil, mas eu reclamaria facilmente da minha condição atual. Logo agora que eu sei o que é amor, eu preciso mesmo ir sacrificar a minha vida? Tudo pela família, mas até que ponto?

Não quero perder a Laura, nem sei como contar isso para ela... Sinto como se eu a traísse, estou omitindo algo que não tenho como mudar em minha vida, isso é errado. Mas como ela reagirá? Tenho medo, pela primeira vez eu sinto medo...

O relógio marcava 5h e eu realmente não queria levantar daquela cama, mas era necessário. Me sentia mórbido, era péssimo pensar que não voltaria. Eu me troco rápido, minha mala já estava pronta, mas meu coração ainda não estava preparado, assim que eu saio do banheiro noto que Laura não estava mais na cama e o cheiro de café fresco invadia fortemente o meu quarto, ela era perfeita...

Entre Cordas & MelodiaOnde histórias criam vida. Descubra agora