Madara foi o primeiro. Ele nasceu e no ano seguinte, Kagami. Mais um ano, Fugaku.
No começo, quando eram só os três, Fugaku viveu à sombra dos mais velhos.
Kagami era inteligente, habilidoso e gentil. Madara era forte e tinha espírito de líder.
Os dois eram bons com luta, armas e em conversar com o povo, e mesmo as rainhas incentivando Fugaku a tentar de tudo, inclusive história, música e livros, ele não queria. Queria ser bom com "coisas de homem", como Tajima dizia. Príncipes precisavam ser fortes, saber lutar e ser bons estrategistas.
E ele não era bom com nada disso.
Madara e Kagami sempre o chamaram para todas as atividades, para treinarem e saírem juntos, mas em algum momento Fugaku começou a negar. Como se sentia sem habilidades ou talento, sentia-se protegido agradando o pai, que não aprovava alguns comportamentos dos filhos mais velhos já naquela época. Foi assim que ele se fechou para si mesmo.
Quando tinha oito anos, Izuna nasceu. Dois anos depois, Obito, cujo parto levou a rainha Uchiha, que já era debilitada. Kagami e Madara criaram os dois mais novos. Fugaku observava como os irmãos mais velhos corriam para os caçulas sempre que choravam, sempre que chamavam, sem hesitar um segundo. Não os amava, não sentia vontade de suprir as necessidades deles, não sabia por que ele deveria cuidar dos irmãos se Tajima, que era o pai, não dava a mínima para eles. Continuava seguindo o exemplo do rei e achando seus irmãos idiotas por alimentarem, limparem e colocarem seus irmãos para dormir conforme Mito os ensinava.
Tampouco gostava de Mito e das coisas que ela tentava ensinar para a filha Kushina. Achava Kushina suficientemente preparada para ser rainha, porque era fria e impetuosa e sempre desafiava a mãe. Kushina era dois anos mais velha que Madara, e casou com um primo distante um ano após Obito nascer. No ano seguinte ao casamento, teve um filho. Um filho de quem nunca cuidaram.
Mito, Kagami e Madara fizeram esse papel também.
Os príncipes mais novos foram crescendo e foi com inveja que Fugaku constatou a leveza e rapidez de Izuna para lutar, o quanto ele pensava rápido na hora dos combates e o quanto era resistente. E foi com desprezo que ele o observou declinar a espada e se ater aos estudos acadêmicos. História, economia, estratégia, geografia, o escritório é que era seu lugar, e ele só treinava o corpo porque era necessário. Anos depois Obito se mostrou um péssimo lutador e ninguém se surpreendeu quando ele e uma Mito já adoentada se trancavam nas salas de estudos para aprenderem "coisas de princesa".
Foi mais ou menos nessa época que Fugaku percebeu o quanto genuinamente odiava seus irmãos. Odiava como Madara era arrogante, como encarava Tajima de cima mesmo aos quinze anos. Odiava como ele agia como se fosse pai dos príncipes mais novos. Como olhava para Fugaku com desconfiança sempre que ele se aproximava de Kurama, como lhe dava ordens, como lhe dirigia a palavra.
Rápido ele percebeu que não importava o que fizesse, não atingiria Madara. Madara odiava Tajima, mas sempre que Fugaku agia como Tajima, não causava em Madara nenhum ódio, apenas tédio ou desprezo.
Odiava Kagami por ele ser tão perfeito em tudo, por ser seguidor fiel de Madara, por ter todo o reino aos seus pés. Odiava Izuna e Obito por serem tão amados pelos irmãos. Odiava Kurama e aqueles olhos vermelhos.
E foi esse ódio que o levou a tentar atingir Madara de baixo: atacando Izuna. Fazia comentários sobre como ele era um idiota inútil e lhe dava surras, mas sempre que Madara chegava no ato, Fugaku não conseguia não ficar apavorado. Odiava a si mesmo. Tentava lembrar que devia parecer superior quando encarasse o irmão, mas sempre faltava a coragem, e ele só conseguia rezar para que Madara não o batesse, pois ele não teria forças para revidar.
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O espelho, a espada e o escudo | SNS
FanfictionDois camponeses do penúltimo estamento, duas famílias na realeza onde primos casam entre si, o reino passa fome e ninguém toma o poder há milhares de anos. Um cântico antigo que diz que quando o Sol e a Lua se encontrarem, cada pedaço de terra que e...