O espelho, a espada e o escudo | SNS

O Escudo - Parte 3

O Templo estava vazio, apesar de aberto o tempo inteiro. Tinham duas explicações para aquilo.

A primeira era a razão pela qual o lugar estava aberto: quando a Coroa obrigava os moradores a acreditarem e louvarem o único deus que haviam inventado há tantos anos, ele não era acessível. Nem o Templo ficava aberto, nem o Livro era no idioma deles, nem havia muitos exemplares. A população não estava acostumada a ter permissão para chegar perto do divino, e provavelmente nem passara em suas cabeças visitar o Templo.

A segunda razão era a que explicava estar sempre vazio: eles não acreditavam no Sol e na Lua. E chegar neles, àquele ponto de suas vidas, com dois novos deuses, dizendo-lhes que aquele que eles adoraram toda a vida fora inventado pela Coroa, isso seria difícil. Claro que eles tinham visto os sinais dos deuses: tinham visto o reino inteiro ser renovado; tinham visto Naruto e Sasuke vencerem os demônios. Mas como convencê-los de que aquelas obras haviam sido coisa dos deuses?

- Não é certo obrigá-los - disse Naruto.

- De jeito nenhum. Isso nos diferenciaria muito pouco dos reis. Todo o mundo pode acreditar naquilo que achar melhor.

- Isso. Nosso papel é mostrar para eles sobre os dois.

- Você sente que eles estão aqui quando entra no Templo? - e com "eles", Sasuke se referia aos deuses.

- Sim. Ashura esteve silencioso demais nos últimos dias. Será que eles foram embora?

- Indra também. Eu não sei. É estranho não ter outra voz me direcionando. Como se tudo estivesse nas minhas mãos. Eu não me sinto um deus. Me sinto muito mais uma espécie de sacerdote - Naruto sorriu.

- Eu também. Eu sei a verdade, mas não me sinto assim. Assim como não me sinto um "príncipe".

- Para mim, está mais do que claro que você é um príncipe - Sasuke respondeu sorrindo. Naruto sentiu as bochechas corarem.

- Para mim, o mesmo.

Há muitos dias, os dois esforçavam-se para agirem como príncipes, estudando idiomas e estratégias de batalha, treinando como soldados, conhecendo as pessoas de todo o reino, anotando propostas de leis e, sobretudo, estudando o caminho dos deuses.

Ainda era estranho entrar no Templo e ver suas próprias imagens nas paredes, imagens de batalhas, imagens que provavam que eles estavam longe de serem simples sacerdotes.

Para Madara, ser um deus encaixava como uma luva. Desde o primeiro momento ele sentiu que fazia todo o sentido e aceitou o fardo. Ele era príncipe, poderia ser rei, e fora criado desde sempre ouvindo de um reino inteiro o quanto era grandioso. Para Naruto, Sasuke e Hashirama, que eram acostumados com tudo, menos com a grandeza, não era assim tão simples.

Para Naruto e Sasuke, especialmente, eram muitas as mudanças. Em primeiro lugar, havia o quarto luxuoso. Abriam os olhos e se deparavam com o teto, que não parecia um teto, e sim o próprio firmamento. Aquela imagem que os lembrava de sua verdadeira natureza, com olhos coloridos e astros na pele.

Em segundo lugar, havia aquele relacionamento. Por mais intensos que os dias de guerra tivessem sido, ainda era um relacionamento novo. Por mais que fossem almas gêmeas, ainda se perguntavam se daria certo, se deveriam mesmo dormir e acordar juntos todos os dias, como se casados fossem.

Ao mesmo tempo, não queriam mudar nada. No fim do dia, depois de tantos afazeres, depois de tanta coisa tendo sido feita, os músculos falhados de tanto treinar, as mentes enevoadas pelo estudo exaustivo do dia, os braços do outro lhes traziam vida nova. Era recarregar. Acordar de manhã um com o outro era iniciar do jeito certo.