-Capítulo 20-

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- Estou sem fome...

- Sem isso, docinho. Só um pouco.

- O que você fez com o corpo do meu avô?

- Levei ele em uma feiticeira. Pra retirar a marca e ter uma noção por onde a alma dele caminha.

- E depois?

- Depois o que, Lisa?

- Não sei se você entende isso, mas aqui é muito diferente do inferno, Jennie. Se vocês fazem o que bem entender com o corpo de um demônio ou sei lá o que, aqui é diferente. Não posso largar o corpo do meu avô em qualquer lugar, ele tem que ser velado e enterrado.

- Hey, se você está frustrada não desconta em mim, ok? Nesse momento eu sei o que é bom ou não para o seu avô e para você, então abaixe a sua bola.

- Preferia ficar sozinha agora.

Se eu pensasse ela saberia, então resolvi falar do mesmo jeito. Ela se levantou tão estressada quanto eu e sumiu entre a parede. Olhei para Kuma deitado no tapete da sala e a única coisa que eu pensava era no sonho. Me joguei no sofá encarando o teto, a miragem mais agradável que eu tinha. O medo era algo que me consumia assim que o nome de Jennie vinha na minha cabeça, não era medo dela, era o medo sobre os assuntos referentes a ela. Um demônio e uma humana, como isso daria certo? Eu morava na Terra, ela no inferno. Poderia achar um demônio, eu poderia achar um humano. Mas seria igual? Ela poderia se cansar de cada palavra que eu falava. Pois as vezes pareciam chatas demais, insuportáveis demais, a poderia sufocar demais.

Demonstrar demais.

O seu silêncio as vezes me matava, ser escutada as vezes me agoniava, pois poderia estar sendo inconveniente e ela não falaria se eu tivesse.

Mas como eu poderia saber? Era nova. Meu coração era novo sobre aquilo, demônios, marcas, feiticeiras, magias, entidades. Aonde eu me encaixava em um tudo aquilo? Foi por algo destinado ela ter me conhecido? Ver que eu precisava de ajuda? E se eu não precisasse? Ela não me veria. Queria parar de pensar nela, pois ficava aflita nunca sabendo ao certo, nunca tendo uma certeza. Ficava nervosa, medrosa. Mas ficava bem e sorria pro nada só ao lembrar dela. Era emoções novas, e eu não sabia se era bom gostar daquilo. Me apegar naquilo. Me apegar a ela. Mas era tarde demais, pois o meu lugar seguro era ela.

Acabei indo pro trabalho naquela manhã sentindo uma tristeza fora do normal. Ela não veio me ver de manhã como fazia. E nem me acompanhou até a empresa. O resto do dia foi sem graça no meu apartamento. Olhava para a parede esperando ela voltar e tentar de alguma forma me desculpar pela grande babaca que eu havia sido. Eu só podia esperar.

Eu brincava com a minha gargantilha, com um pingente de asas pratas. Minha avó disse que isso foi a única coisa que os meus pais deixaram para mim. Dês que me entendo por gente não tirava aquilo por nada no mundo.

Quando eu estava me preoarando para dormir escutei latidos do Kuma e a sua coleira fazendo barulho, olhei para trás a vendo ali parada no começo do corredor. Tinha um semblante cansado e preocupado.

- Me desculpa? Se eu falei algo que não deveria, no momento errado. Eu sei, Lisa, você havia acabado de ver algo trágico, eu não deveria ter te deixado sozinha, mesmo você querendo.

- Porque está me pedindo desculpas sendo que a errada sou eu?

- Porque eu falei com a minha prima, e em um relacionamento em uma briga mais precisamente, ceder é a melhor escolha. Assumir a culpa é o melhor a ser feito, pois assim faz tudo ficar bem de novo. E eu quero que tudo fique bem de novo.

- Perguntaria se você é real? Mas será em vão pois eu sei a resposta.- corri em sua direção sendo recebida pelo os seus braços finos, me envolvendo de um modo protetor como se ela deixasse claro que nada iria acontecer comigo.

Mas não era bem aquilo.

Olhei bem pra ela, bem no fundo dos olhos delas, e a beijei profundamente, absorvendo tudo que eu conseguia, sentindo tudo o que eu podia. Quando a beijava o medo ia embora, era por esses motivos que eu desejava constantemente a minha boca e a minha língua junto a ela. Começava a esquecer de respirar quando as nossas línguas brigavam, pois tudo isso, pois ela, me fazia esquecer de tudo lá fora, e focar em nós. No momento e no ato.

- Deixaria eu dormir na sua cama mais uma vez, docinho.

- Você sabe que pode, coisinha insuportável...

The Pact ( Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora