Capítulo 6: Tentou esquecer aquele que a fez se sentir mais humana

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"É impossível saber até onde a influência de um homem simpático, honesto e cumpridor de seus deveres se estende no mundo; mas é perfeitamente possível saber até que ponto essa influência tocou a nós." (Grandes Esperanças - Charles Dickens)

Theodor acabara de ligar para o mesmo taxista que o buscou no aeroporto no dia que chegou a Seul. O homem disse que faria de tudo para chegar o mais rápido possível, pois o rapaz lhe disse que havia uma garota gravemente ferida e teria que ir com urgência ao hospital mais próximo.

– Não precisa exagerar! – disse Yarin tentando parar de chorar e se recompor.

O que fez Theodor perceber que ela amava usar a expressão "não precisa".

– Claro que precisa! Deixa-me dá uma olhada nisso! – se aproximou da moça e sem pedir licença tocou em sua testa. O que a fez dar um gemidos de dor e se encolher.

Mas não foi o bastante para pará-lo. O rapaz pegou os cabelos de Yarin, tirou os fios que estavam grudados em sua testa e enrolou todos num coque alto. Executou com presteza como se fizesse isso todos os dias no cabelo de alguma menina.

Após isso, vasculhou dentro de sua mochila e retirou de lá uma caixa com lenços umedecidos. Ambos estavam em silêncio e Yarin parou de protestar. Permitiu-se ser cuidada por aquele estranho. O que não era algo que ela faria em uma situação comum. Mas parecia que estava incapaz de relutar por conta da dor de cabeça, que aumentava junto com a ardência nos joelhos, mãos e testa.

– Vou tentar limpar ao redor do seu ferimento. – avisou e logo em seguida passou o lenço em seu rosto ensanguentado. O que a fez se encolher ainda mais e murmurar. – Está doendo muito? – perguntou ao estar com o corpo curvado sobre o dela.

– Um pouco. – não queria admitir que estava doendo muito porque não queria que ele a levasse ao hospital. – Mas eu cuido disso em casa. Não precisa se preocupar mais! – afastou a mão dele e se atreveu a encará-lo.

– Sim, eu preciso! – voltou a limpar sua testa. Dessa vez, ela deu um grunhido alto – Ainda me diz que está doendo um pouco? Acho que você precisa de pontos. Por isso tem ir ver um médico, senhorita!

– Senhor Delacroix, me deixe em paz! – se arriscou em levantar-se. Apenas para ficar tonta, vê-lo rodar em sua visão e voltar ao banco bruscamente.

– Continua tonta, não é? Deve ser por causa da pancada em sua cabeça. Isso é coisa séria, senhorita! Você disse que não quer deixar sua mãe preocupada, mas caso não for ao hospital e voltar para casa assim, não acha que a deixará mais atordoada? – ouvi-lo falar tudo isso de forma compassada como se precisasse ter cuidado na escolha das palavras, a fez rir em meio á dor.

– Pode falar inglês comigo. Se for melhor para você. – falou com um sorriso no canto de sua boca de lábios grossos.

"Essa moça deve ser norte-americana" pensou consigo mesmo.

– Meu coreano é tão péssimo assim? – brincou ao se afastar um pouco para jogar os lenços sujos em uma lata de lixo.

– A língua coreana é tão diferente do que estamos acostumados que não posso julgá-lo como péssimo. – deu outra risadinha como se não tivesse parado de chorar a poucos minutos.

– Obrigado. – deu de ombros também com um sorriso brotando de seus lábios finos e rosados.

Nesse momento o táxi chegou para alivio de ambos. Estavam começando a se sentir constrangidos com o andamento daquela conversa. Yarin já estava se culpando por se permitir ser tão amigável com aquele estranho. Enquanto ele estava se recriminando por estar cuidando demais daquela garota. Não queria que interpretasse sua ajuda do jeito errado.

O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora