"Você era a encarnação graciosa de todas as fantasias que a minha mente alguma vez concebeu." (Grandes Esperanças - Charles Dickens)
Fazia dez graus celsius naquela noite de final de outubro. Parecia que o clima já estava começando a sua transição de outono para o início do inverno. Theodor estava parado há quase cinco minutos na frente da biblioteca antiga da Universidade Nacional de Seul.
Quando respirava saía de sua boca um ar esbranquiçado como uma névoa. Estava tremendo de frio. Mas seus pés não se moviam. Sabia que precisava entrar ali para entregar o livro que havia achado há quase uma semana. Por mais que não tivesse falado nada a Yarin, sentia que havia feito uma promessa a ela de entregar o objeto. Porém não somente isto. Queria assumir toda a responsabilidade. Tanto pela perda quanto por estragar a capa e deixá-lo com um odor inebriante.
Por mais que em sua cabeça ainda martelava as palavras que havia lido naquela mensagem, queria fazer algo que provasse que não era o tipo de homem que ela achava. Já havia sido acusado por sua ex-namorada de tantas coisas. Amanda O'Connor já o chamou de idiota quando ele pediu perdão por algo que ela havia feito de errado. Também o chamou de pão-duro quando o rapaz disse que não iriam mais sair com tanta frequência para os famosos pubs irlandeses, porque precisava economizar para a sua viagem para a Coréia do Sul. Em uma das suas últimas brigas havia o chamado de irresponsável e sem compromisso, porque o jovem disse que não teria como ficar indo a cada dois meses para a Irlanda somente para vê-la.
A relação dos dois que estava se desgastando desde o dia que recebeu o resultado de que havia sido aprovado no mestrado em Seul. Amanda não conseguia aceitar um namoro á distância. Alegava que não conseguiria se satisfazer apenas com ligações e vídeos chamadas. Ela queria sempre algo mais. Desejava poder sair aos finais de semana e fazer finalmente a viagem para Dublin que Theodor havia lhe prometido.
Não conseguia também se imaginar dormindo sozinha todas as noites. Confessou que acabaria se sentindo tão carente que poderia se refugiar em outras companhias. Talvez durante esse processo acabasse se envolvendo com outra pessoa apenas para que não se sentisse tão só.
- Pelo menos você é sincera, Mandy. - disse Theodor a ela enquanto se olhavam ao estarem deitados lado a lado sobre sua cama de casal.
- Acho que não faz mais sentido continuarmos com isso, Theo. - a moça parecia triste, mas não tanto quanto seu namorado.
- O que você quer dizer? - ergueu seu tronco e ficou apoiado nos cotovelos. Estava deitado com a barriga para cima. Usava apenas uma calça moletom.
- Que eu estou terminando aquilo que não temos razão nenhuma de continuar. - Amanda se aproximou dele.
O encarou com aqueles seus grandes olhos azuis. Passou a mão sobre o cabelo ondulado de Theodor e deu um sorriso de canto ao encostar seus lábios sobre os dele.
- Considere isto como o nosso último beijo.
Levantou-se e recolheu seus pertences que estavam espalhados pelo quarto do rapaz. Colocou tudo na pequena mala que havia levado para passar uns dias na casa dele, a fechou e segurou a haste. Saiu a puxando sobre as rodinhas e parou na soleira da porta.
Virou rapidamente apenas para dizer:
- É difícil admitir isso, mas você sempre foi bom demais para mim. Talvez por isso o nosso fim fosse inevitável.
Esta era a última lembrança que tinha de Amanda. Seus cabelos ruivos caindo sobre as costas, o vestido florido que Theodor havia lhe dado como presente de aniversário de namoro. Mas a recordação mais antiga que tinha era dela se oferecendo para lhe pagar uma bebida em um pub. Ainda era final de tarde e o sol estava indo embora por detrás das montanhas verdes. Theodor estava sentado do lado de fora do estabelecimento e não tinha pedido nada ao garçom. Apenas contemplava o céu que estava alaranjado. Era o momento preferido de sua irmã caçula.
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O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)
RomanceESTA É A PRIMEIRA VERSÃO DO LIVRO 📖CAPÍTULOS INÉDITOS E FINAL EXTRA NA EDIÇÃO EXCLUSIVA LIVRO FÍSICO NO MEU SITE E-BOOK PELA @AMAZONBR O QUE VOCÊ FARIA COM UM VASO QUEBRADO: CONSERTARIA OU JOGARIA FORA? MAS SE ELE FOSSE UMA PESSOA COBERTA DE RACH...