Capítulo 14: Sentimentos escondidos poderiam afogá-lo

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"Você não entende que tudo que eu fiz por você? Que tudo o que é especial sobre mim é você?" (Grandes Esperanças - Charles Dickens).

Lee Kwan abotoou os botões brancos de sua camisa xadrez em tons de roxo e preto. Vestiu uma calça de linho preta e calçou um sapato que considerava formal. Dobrou até os cotovelos as mangas compridas da blusa e se cobriu com um pesado casaco. Por fim, foi até o banheiro e penteou seu cabelo de um jeito diferente. Partindo sua franja ao meio de modo que uma parte de sua testa ficou aparente. Também passou gel em suas madeixas para deixá-las mais alinhadas.

Colocou sua mochila nas costas e, ao assobiar alegremente, foi descendo as escadas ao apoiar sua mão no parapeito que possuía arabescos talhados na madeira. Sua mãe estava na cozinha conversando com a cozinheira que trabalhava para a família. Quando ouviu os passos se movendo apressadamente pelos degraus de granito.

Se assustou ao ver seu filho saindo aquele horário em plena segunda-feira.

- Para onde você vai tão cedo? Tem algum compromisso? - perguntou a senhora Lim.

- Sim. De lá vou direto para a universidade. - falou ao andar em direção a porta.

- Não quer almoçar antes? Logo a comida estará pronta!

- Não, mãe. Eu vou comer no refeitório. E não me espere para o jantar. - colocou a mão na maçaneta e fez uma pausa apenas para dar um sorriso a sua mãe. Como se pedisse para não se preocupar com ele.

- E que compromisso inesperado é esse? Vai sair com alguém? Porque nunca te vi indo trabalhar tão arrumado assim! - foi até Lee Kwan e cruzou os braços. Estava muito desconfiada.

O rapaz soltou uma risada alta e com a mão livre segurou o ombro da senhora Lim.

- Vou até o café da família Masai falar com o Tom. Precisamos tratar alguns assuntos sobre o evangelismo que faremos amanhã.

- Quer dizer que por causa do Tom você colocou essa roupa que usa para ir ao culto? - foi a sua vez de dar uma risada irônica - Eu sei que senhorita Davies trabalha lá! Porque fui eu que consegui o emprego para ela! E você já sabe o que penso sobre isso! Ou se esqueceu? Porque se tiver esquecido terei que...

- Preciso ir, mãe. - retirando a mão de seu ombro, acenou e saiu porta afora com o mesmo sorriso como se nada disso o tivesse abalado.

Parou na entrada e respirou fundo. Por um breve momento quis acreditar que os pensamentos de sua mãe sobre Yarin haviam mudado. Para a sua decepção acabou de saber que continuavam os mesmos. Apesar de ter a acolhido assim que a moça chegou naquele país com seus pais. Até buscou pelos melhores profissionais da saúde mental para ajudar a garota a lidar com o triste incidente no Brasil. Pagando alguns meses de terapia de seu próprio bolso.

Todavia, antes mesmo dos Davies chegaram na Coréia do Sul, a senhora Lim já deixou avisado que não admitiria um relacionamento muito próximo entre ele e a garota.

- Eu nem a conheço! - respondeu Lee Kwan quando sua mãe lhe disse isto - Mas não se preocupe quanto a isso.

- Assim espero!

Seu filho mais novo sempre foi um grande exemplo em vários sentidos, menos na teimosia. Quando o garoto teimava em querer uma coisa, nada e nem ninguém era capaz de mudar a sua opinião. Temendo assim que o rapaz colocasse Yarin em sua cabeça como uma ideia que precisaria correr atrás até vê-la se tornar real.

Teve que lidar com esse comportamento insistente de Lee Kwan quando o rapaz decidiu assim que terminou o ensino médio que iria estudar biblioteconomia. Quando o seu pai havia investido muito em sua educação para vê-lo se formar em economia ou administração para gerir a empresa da família no ramo da construção civil. Mas a sua resolução era que queria fazer aquilo que gostava. No momento, seu maior prazer estava nos livros e no silêncio de um ambiente fechado onde há centenas de prateleiras. Descobriu essa paixão ao fazer um estágio de meio período na parte administrativa da biblioteca da Universidade Nacional de Seul.

O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora