"Talvez, quando criança, tenha vislumbrado um mundo tão livre como raramente eu nunca verei novamente." (Grandes Esperanças - Charles Dickens)
Quando tinha cerca de onze anos de idade, Yarin Davies fazia diariamente aquilo que mais amava: nadar no rio que ficava praticamente no quintal de sua casa. Ela costumava tomar banho em suas águas toda manhã antes de ir para a escola. Também quando chegava da aula, logo após o almoço, colocava seu biquíni vermelho e ia se jogar novamente no afluente. Tempos depois, seus primos chegavam e juntos se divertiam por horas debaixo do sol.
Nessa época, não havia sequer alguma preocupação em passar protetor solar. Nem se importava com os raios ultravioletas que castigavam sua pele. A deixando morena e sempre com as bochechas rosadas. Não sabia o que era palidez nessa época. O que também não tinha conhecimento era sobre sentimentos de baixa autoestima e nem pensamentos depressivos. Só sabia sorrir ao correr sobre um pequeno píer de madeira e dar um mortal carpado que havia aprendido com um de seus tios.
Yarin também não possuía tantos medos. Se sentia uma menina normal como as outras. Não costumava também se comparar. Tudo que fazia era aproveitar o fato de sua casa estar a beira de um rio largo, sem uma correnteza violenta e de águas escuras nos pontos mais profundos. Queria ser uma daquelas garotas que faziam acrobacias em uma piscina durante as olimpíadas. Ou ser uma do grupo que dançava de forma rítmica. Porque se sentia uma verdadeira sereia de água doce. Queria fazer isso o resto da vida.
Até que algo inesperado começou a acontecer com seu corpo e mudar completamente a sua rotina. A impedindo de continuar fazendo aquilo que mais amava. Praticamente a segregando das outras crianças, que continuavam se divertindo como sempre sob os raios solares.
De repente, um questionamento a tira desse devaneio.
- Você vai mesmo para o trabalho quando sairmos daqui? Poderíamos ir até o restaurante e almoçamos com sua mãe. O que acha?
Naquela manhã de terça-feira, ao estar sentada em uma poltrona branca ao lado de William, com uma planta ornamental no meio os separando, Yarin esperava a sua vez de ser atendida pelo dermatologista Joon Chung. Ela e seu pai acordaram mais cedo que de costume, para se locomover de metrô durante uma hora até chegarem ao distrito de Gangnam-gu. Mensalmente compareciam a Clínica Médica e Estética chamada Seoul Guide Medical onde fazia seu tratamento de pele.
- Eu já pedi para o Masai Tom ficar trabalhando no meu lugar até às nove horas. Após isso, ele terá que sair para resolver umas coisas do evangelismo que terá hoje a noite. Então não vai dar para eu faltar ao trabalho, pai. - falou com certo tom de pesar.
Esticou o braço e tocou as mãos grossas de William. O homem sorriu docemente para a menina.
- Tudo bem. Na minha próxima folga podemos ir, não é? Ou podemos ir á Busan! Faz tempo que não vejo o mar! Estou sentido falta de uma praia. - ficou animado e apertou a mão de sua filha.
- O senhor sabe que não posso pegar sol. - essa declaração fez a alegria do pai se desfazer - Mas podemos ir no final da tarde e passar a noite por lá. - continuou para novamente animá-lo.
Nesse instante, uma porta de correr foi arrastada. Uma mulher alta, cabelo preso em um coque e usando jaleco, saiu ao olhar uma lista grudada em uma prancheta.
- Senhorita Davies? - a assistente do Dr. Joon a chamou.
- É minha vez. Vou tentar não demorar, papai. - soltou sua mão e levantou-se para entrar no consultório a sua frente.
Logo Yarin passou pela entrada e sentou-se em outra poltrona branca. Agora para falar com o dermatologista que a atendia.
- Bom dia, senhorita Davies. Me conte como foi seu último mês? Sentiu alguma melhora no aspecto das manchas? Principalmente as de seu rosto?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)
RomanceESTA É A PRIMEIRA VERSÃO DO LIVRO 📖CAPÍTULOS INÉDITOS E FINAL EXTRA NA EDIÇÃO EXCLUSIVA LIVRO FÍSICO NO MEU SITE E-BOOK PELA @AMAZONBR O QUE VOCÊ FARIA COM UM VASO QUEBRADO: CONSERTARIA OU JOGARIA FORA? MAS SE ELE FOSSE UMA PESSOA COBERTA DE RACH...