Capítulo 17: Uma notícia inesperada pode mudar um futuro planejado?

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"Dê-me sua mão, você sabe o que é isso? É meu coração que está quebrado. Você pode sentir isso?" (Grandes Esperanças - Charles Dickens)

Theodor não iria mais para a aula naquela noite. Saltou no ponto de ônibus próximo da estação de metrô. Ao atravessar a rua sobre a faixa de pedestres e descer a escada subterrânea. Foi direto para o guichê comprar o bilhete para ir ao aeroporto em um distrito distante. Atravessou a catraca e correu ao ouvir o som do trem se aproximando.

Afundou a mão nos bolsos enquanto esperava o veículo parar. Ficava mudando o peso de seu corpo sobre os pés. Não conseguia ficar parado. Até que a porta automática se abriu e entrou já procurando um lugar vazio para sentar.

O som do transporte andando sobre os trilhos, encheu todo o ambiente. Olhou através das largas janelas de vidro a estação ficando para trás. Entraram em um túnel, o que lhe lembrava que na sua cidade aquilo não existia. Andava somente em um carro antigo ou na bicicleta de seu tio. Ou até mesmo no trator que usavam no plantio.

Sua mente foi vagando para certa ocasião em que precisou pegar emprestado o carro da empresa que trabalhava.

Eram quase cinco e meia da manhã. Por mais que não fosse trabalhar aquele dia, Theodor levantou cedo e foi sentar-se do lado de fora, sobre os degraus debaixo da porta azul. Seus joelhos tremiam e ficava passando o dedo indicador no braço. O céu ainda estava escuro. Devagar aquela penumbra dava lugar aos raios solares que saíam detrás das nuvens cinzentas. Iluminando o cume das montanhas que rodeavam Killarney.

O punho esquerdo de Theodor estava fechado com força. Um metal circular estava sendo comprimido na palma de sua mão como se fosse possível transformá-lo em pó. Se decidisse ir até o fim com aquela decisão, não poderia mais voltar atrás. Engoliu em seco e parou de coçar sua pele. Passando os dedos entre seus cabelos bagunçados e mordendo o lábio inferior.

Naquele dia faria um ano que conheceu Amanda O'Connor em um pub. Também completaria, naquela ocasião, um ano e seis meses da pior coisa que havia lhe acontecido. Por mais que continuasse se convencendo que já estava melhor, ainda lhe faltava ar quando as lembranças lhe invadiam. Quando a voz e a risada enchiam sua mente. A saudade lhe sufocava. Assim aquele objeto dourado que segurava poderia ser a chave que o tiraria daquela situação de se afligir com a culpa. Teria que se tornar seu recomeço.

Esperou até o sol aparecer e trazer luz sobre a modesta fazenda de seus tios. Voltou ao quarto para se aprontar para o passeio que faria com Amanda. Iria levá-la ao Castelo Ross para lhe fazer a pergunta mais importante de sua vida. Seria uma surpresa.

Queria que ela chorasse e se jogava sobre seu pescoço, o enchendo de abraços e beijos. Seria incrível se a visse emocionada. Porque nunca a tinha visto derramar uma só lágrima durante aquele relacionamento. Enquanto Theodor já havia pranteado sobre o colo da moça várias vezes.

Não que quisesse vê-la chorando por ter a decepcionando ou mentido, por exemplo. Queria apenas que a moça se sentisse totalmente confortável como ele se sentia. Para poder desabafar o que lhe doía e permitir lágrimas rolarem trazendo alívio a sua alma. Porém quanto mais ele se permitia ser sensível, mais ela mantinha a sua posição de durona.

- Você vai fazer isso mesmo? - Sarah lhe perguntou enquanto colocava um cesto com pães frescos sobre a mesa da sala de jantar.

- Minha mãe disse que eu deveria assim proceder quando encontrasse a pessoa certa. Durante todo esse tempo, nunca me relacionei com alguém como a Mandy. Ela se importa comigo de verdade, tia. Por mais que venha de uma família mais abastada que a nossa. Ainda sim quis ficar com alguém como eu!

O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora