Capítulo 10: Contraste entre aquilo que queria e o que precisava

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"[Estela] — Eu pensei muito em você.

[Pip] — É mesmo?

[Estela] — Muito, ultimamente. Por muito tempo, um tempo difícil, afastei a lembrança do que eu, por ignorar o seu valor, havia jogado fora. Mas, a partir do momento em que o meu dever já não era incompatível com a admissão dessa lembrança, dei a ela um lugar em meu coração." (Grandes Esperanças - Charles Dickens)

Yarin correu até Theodor, se ajoelhou ao lado de seu corpo e sacudiu os ombros do rapaz. Mas ele continuava sem dar qualquer sinal de vida.

– Senhor Delacroix! – gritou ao colocar suas mãos na cintura dele e tentar virá-lo.

Estava deitado com barriga para baixo e seu rosto desacordado tocava o chão gelado. A moça se esforçou e ao dar um grunhido conseguiu virá-lo.

– Hmm. – ele murmurou ao sentir mãos o arrastando e a luz do poste sobre seus olhos.

– Você precisa se levantar! – voltou a sacudi-lo. 

Ela estava com o cabelo bagunçado jogado para frente e parecia uma cortina na frente de sua face. Por detrás havia um semblante de preocupação.

– Me deixa. – foi tudo que ele conseguiu sussurrar ao permanecer de olhos fechados.

Ao ouvi-lo falar alguma coisa audível sentiu um grande alívio. A fazendo se sentar e tomar fôlego. Quando levantou o rosto, viu a distância Lee Kwan fechando a porta da biblioteca.

– Lee Kwan! – gritou ao acenar.

Antes de respondê-la, o rapaz analisou rapidamente a estranha cena que estava há poucos metros dele. Havia uma moça sentada ao lado de um corpo jogado ao chão.

– Yarin? – perguntou ainda em dúvida e andou rapidamente até ela – O que aconteceu? Achei que já tivesse ido embora! Você está bem? – abaixou-se e passou a mão sobre o cabelo da menina. Depois tocou em seus braços, como se procurasse algum machucado recente.

A moça se arrepiou ao sentir o toque inesperado de Lee Kwan.

– Estou bem! O Theodor que acabou caindo. Não sei exatamente o que aconteceu. – ao fechar a boca percebeu que o chamou pelo primeiro nome. Como se fossem amigos.

– Achei que ele tinha feito algo contra você e que, no final, você o tinha nocauteado!

– Ele pode parecer esquisito, mas acho que não é perigoso. – falou ao tentar forçar um sorriso.

– Vamos tentar levantá-lo então. Você o segura em um braço e eu no outro. Certo? – Lee Kwan falava ao fitá-la de perto e sem desviar o olhar.

O que a deixou meio desconcertada. Ele tinha belos olhos escuros puxados para as extremidades. Uma pele onde havia sequer alguma marca de expressão ou pequena cicatriz. Seus lábios finos costumam se contorcer em um sorriso sarcástico. O vento ama dançar entre sua franja de cabelos lisos e negros.

– Me ajude a levantá-lo. Esse Delacroix é um tanto pesado. – falou ao estar de pé e segurando o braço de Theodor.

Prontamente a garota ergue-se e pegou também um dos braços do rapaz.

– No três puxamos. Um... dois... três! – quando Lee Kwan bradou, ambos o puxaram para cima.

Logo o bibliotecário envolveu seu braço nos ombros de Theodor e o manteve firme apoiado em seu corpo.

– Aí! – grunhiu o jovem bêbado.

– Sabe me dizer se ele tem carro? Ou alguém para vir buscá-lo?

O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora