Capítulo 13: Ele pediu-lhe um recomeço sincero

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"Assim é que no decorrer de nossas vidas, nossas maiores fraquezas e mesquinharias costumam ser motivadas pelas pessoas que mais desprezamos." (Grandes Esperanças – Charles Dickens).

As mãos de Lee Kwan acariciavam as costas de Yarin e, desse modo, a menina ia se acalmando gradativamente. Ao retirar seu rosto que estava afundado no moletom cinza, logo enxerga manchas escuras e outras em cor bege. O pano estava encharcado. Havia sujado de maquiagem e ainda molhado de lágrimas a roupa do rapaz. O que só aumentou seu sentimento de constrangimento.

Não queria ter que virar-se e dar de cara com as pessoas que a encaravam como se fosse emotiva demais. O que era verdade.

– Está tudo bem. – falou Lee Kwan quando se deu conta das marcas que ela havia deixado em sua roupa – Vamos. – pegou novamente em sua mão e a puxou até o carro.

Abrindo a porta do passageiro e apontando para ela entrar. Fez tudo isso sorrindo de modo singelo e sem reclamar ou comentar sobre a cena que Yarin tinha feito. Os outros tentavam esconder o espanto de verem a senhorita Davies daquela forma. Apesar de a garota frequentar a mesma igreja que a deles há tantos anos, sentiam que mal a conheciam. Parecia que sempre seria uma recém-chegada que prefere se manter afastada.

Yarin entrou no veículo e Lee Kwan fechou a porta. Em seguida todos os outros entraram também.

– Por contar do horário avançado, – já era quase seis horas da tarde – primeiro vou deixá-los e por último te deixo em casa. Está bem? – informou o motorista, que se inclinou em direção à ela para poder falar perto de seu ouvido.

– Tudo bem. – respondeu ao se encolher no banco.

Lee Kwan esticou o braço e abriu um compartimento que ficava de frente a Yarin. Retirando de lá uma caixinha de lenços umedecidos.

– Pegue.

A garota segurou a caixa e se olhou no pequeno espelho que estava próximo ao para-brisa. Assustou-se ao ver o rímel escorrendo debaixo de seus olhos e a camada de base também toda borrada. Logo passou os lenços sobre o rosto ao pensar que os planos de ir finalmente ao culto naquela noite, estavam totalmente frustrados. Não queria encará-los após esse ocorrido.

Nesse ínterim, já fazia cinco minutos que Theodor estava esperando qualquer sinal de Yarin, de sua mãe ou de qualquer morador daquele prédio que pudesse dar alguma informação sobre ela. Já havia batido no portão da frente, mas ninguém apareceu.

Procurou também por alguma caixa de correspondência que pudesse ter o nome da família Davies, mas não havia nada. Só tinha os botões do interfone correspondente a cada apartamento. Mas como não sabia qual era o dela e não queria incomodar os vizinhos ao chamar na casa errada, sabendo como os coreanos eram desconfiados e o seu sotaque logo o denunciaria, não iria fazer isso.

Sentou-se sobre a calçada e ficou encarando o buquê que levava em suas mãos. Seu maior medo era que as flores murchassem completamente antes de poder lhe entregar. Até pensou em ir embora. Talvez não valesse a pena tentar uma aproximação da garota que poderia jamais confiar nele. Mas havia aprendido uma grande lição na infância e adolescência que iria levar por toda sua vida. Havia encontrado esse ensinamento enquanto lia seu mangá favorito.

Quando não queria mais ouvir o barulho que seus pais faziam quando brigavam, pegava uma lanterna e um livro. Ia correndo para debaixo da cama e lia até acabar dormindo sobre as páginas. Quando a confusão acabava, sua mãe entrava no quarto que Theodor dividia com seus irmãos mais velhos.

Claire, sua mãe, enxergava a luz que emanava da lanterna, se abaixava e o via dormindo apesar da poeira que havia debaixo o móvel. O puxava calmamente e o colocava sobre a cama de casal que ele dividia com seu irmão Peter. Depois tempos, no meio dos dois ficaria o corpinho de Amélie, todo envolto por uma manta amarelada.

O Livro Perdido de Yarin Davies (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora