Propósito

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Ploc... Ploc...

"Ela... nada... demais" ouço abafado e ao longe.

"Está... treino" uma segunda voz, mais grave e carente de emoção.

Aperto meus olhos para que a dor de cabeça que me irrita vá embora logo mas...

Tento me apoiar em meus braços para tentar me levantar quando olho para o lugar que estou me lembrando o que tinha me deixado assim. Sangue, ou pelo menos a falta dele. Eles estão tentando fazer algum tipo de experimento com o meu sangue, e consequentemente, me drenando. Fico muito fraca, sabotando assim qualquer resquício de fuga que poderia pensar em ter. Não que eu conseguisse, afinal estou enjaulada como um animal exótico, mas acho que eles não queriam alguém que fica se debatendo, ou seja, não querem muito trabalho.

Consigo então me levantar com bastante dificuldade e caminho a passos pesados em direção as barras de metal que me prendem nesse cativeiro, para então me deixar cair no chão, acabando qualquer energia que me restava. Com muita dificuldade consigo reunir algumas forças para fazer um pedido "água..." Minha voz sai bem rouca e mais baixa do que imaginei, mas mesmo assim consigo que me escutem e logo percebo uma movimentação.

Uma mão carregando um copo d'água foi estendida a mim, com a outra, fez com que minha cabeça fosse levantada para que conseguisse beber o líquido. Estava tão fraca que nem isso eu conseguia mais fazer. Ao levantarem minha cabeça percebo quem está me dando a bebida. O mesmo louco de sempre, cabelos platinados, um sorriso sarcástico com um olhar falso.

"Já acordou, ratinha?", fazendo menção ao que eu era no momento, um rato de laboratório na qual eles faziam seus experimentos e testes como bem entendessem. Sinto essas palavras com como uma faca adentrando meu estômago, me deixando altamente enojada e nauseada. Pelas grades, ele pega meu queixo com o mínimo de cuidado, o que não foi difícil já que meu rosto estava grudado na grade. Agarrando então minha mandíbula ele prensa ainda mais meu rosto contra a grade, me fazendo sentir mais dor ainda. "Sabe..." assim que começa a falar ele pigarreia, em sinal de fazer aquilo parecer mais tortuoso do que já é. "...Eu gostaria muito de te abrir para ver como é você por dentro". Ao falar isso, ele aproxima um bisturi do meu rosto e o passa pela parte que não havia corte, só para provocar medo, obtendo êxito total.

Em seguida ele me empurra para trás das grades, o empurrão sem aviso, fez com que eu caísse de costas em cima do meu braço direito, logo ouvindo um 'crec' e uma dor excruciante me arrancando um grito de dor que, no meu estado, não passou de um resmungo choroso. Ouço então ele abrir a cela, caminhando em uma velocidade dolorosamente calma, fazendo com que o meu medo sobrepusesse a minha dor. Com os olhos frios e quase sem emoção ele me observa, junto com um sorriso maléfico em seu rosto. Tento me afastar dele, usando a outra mão de apoio, mas sem sucesso. Ele se agacha para ficar na mesma altura, enquanto continuo tentando ir pra trás, instintivamente, porque eu sei que mesmo que consiga, há uma parede que uma hora ou outra irá me parar.

Ao se aproximar ele pega minha perna esquerda, puxando em sua direção e com isso, fico cara a cara com ele, seus olhos, sem emoção pararam de me encarar e então ele olha para o meu braço quebrado e fala em seguida "não se preocupe..." e tornando o olhar para mim para então eu perceber que agora há uma emoção naqueles olhos, a emoção de quando o predador consegue a presa "...nós vamos consertar isso."

"Kabuto!" ouço então uma voz rouca, quase como se fosse uma cobra que estivesse falando e então desvio o olhar para a nova voz. Não tão nova, já a conhecia há algum tempo, a ouvia tanto acordada, quanto invadindo meu sono na forma de pesadelo. "Pare de assustar a cobaia sem chakra, eu já sei o que vou fazer com ela mas para isso preciso dela viva" ao terminar, o pálido, vira de costas com intenção de ir a terceira pessoa apática desse grupo, mas se lembra de algo porque logo para de andar, virando apenas a cabeça em direção ao ombro "... e inteira. Faça como eu te disse, assim que voltar começaremos." E continua seu caminho para fora dessa sala.

Pensei que estava no fundo do poço, porém tinha uma portinha lá, na qual acabei sendo empurrada para dentro. Agora presenciava a emoção que ficava acima do medo, o pavor. O pavor me fez sentir como se meu coração fosse parar naquele instante. Ainda assim, torno a olhar para o platinado que ainda segurava firme minha perna, apertando ainda mais, me fazendo sair do estado letárgico em que brevemente me encontrava. "Parece que vamos ter esperar mais um pouco para o nosso divertimento, ratinha" ele então afrouxa sua mão que segurava minha perna para em seguida me dar um soco. Sinto algo quente saindo pelo meu nariz e indo em direção aos meus lábio e essa foi a última coisa que me lembro até voltar a escuridão.

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Começo a murmurar, logo percebo que estou sentada em uma cadeira, sinto meus braços presos aos braços do assento, imediatamente lembro que um deles foi quebrado quando cai em cima dele. De cabeça baixa, viro em direção a esse braço, o direito, e percebo que está... normal? Como? Uma fratura daquelas demoraria pelo menos umas 3 semanas para curar... Então percebo que posso ter ficado dias, ou semanas desacordada. Eu não aguento mais isso... Lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto sem eu perceber. "Por favor..." solto na esperança de que eles me ouçam, não tenho forças para levantar a cabeça.

Ouço passos em minha direção e sinto alguém pegar meu cabelos pela nuca, levantando minha cabeça para olhar meu rosto. "... me... mate" subo então meus olhos para a pessoa que segurava meus cabelos, "por favor..." Vejo então que o pálido, que estava a minha frente abre a boca e dela sai sua língua que se estica, humanamente impossível, chegando ao meu rosto, lambendo minhas lágrimas, fazendo com que ela aumentassem e não diminuíssem.

"Calma, criança. Seu propósito de vida já está definido." Aquela voz rouca que tanto me irrita a ponto de querer furar meus tímpanos para não ter que ouvi-la novamente. "... só precisamos te quebrar mais um pouco para que não reste nada do que veio com você". Ao terminar de falar ele solta minha cabeça, voltando ao estado inicial, vertendo dor na minha nuca pela falta de cuidado.

Kabuto então solta meu braço esquerdo das amarras o esticando e virando a palma da minha mão para cima. Amarra algo no meu bíceps provocando uma pressão. Para então enfiar uma agulha em minha veia com um tubinho que ia para cima da minha cabeça, acima do limite em que conseguia enxergar.

Após esse movimento, perco total lucidez, caindo na escuridão novamente.

Sem ChakraOnde histórias criam vida. Descubra agora