Aftercare

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"A pervert is anybody kinkier than you are." (Wiseman, 1996, p. 23).

"Um pervertido é alguém mais excêntrico do que você."

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Ao tentar me mexer minimamente  lembro instantaneamente do dia anterior. Sinto que estou totalmente 'coberta' pelos dois. Me abraçando por trás está o ursão, posição que já estava acostumada. A novidade era o platinado bem a minha frente, ambos dormiam ressoando baixo, imagino que devam estar tão ou mais cansados do que eu. Observo o Kakashi e fico o encarando, gravando bem aquela imagem na minha cabeça. Não sei quando vou poder ver seu rosto novamente.

"Acho bom não contar nem ao Naruto e nem a Sakura que viu meu rosto." Sou surpreendida pela sua voz, um pouco rouca, ele diz sem nem abrir os olhos, mas ao final os abre para logo após fechar o qual havia a cicatriz. "Não entendo..." digo a esmo, finalizando meu pensamento somente falando isso.

O platinado, que brincava com meus cabelos faz uma cara de dúvida e decido externalizar o que havia pensado "acho que aqui, na Vila, há muitos segredos... Que talvez se revelados às coisas poderia ter tomado rumos diferentes..." em silêncio ele dá de ombros mas então decide falar "isso é questão que só os Hokages e o conselho podem responder...", agora acariciando minha bochecha e eu derretendo de tanto carinho fecho os olhos mas então ele pigarreia e volta a falar "e suas costas? O que aconteceu?" imediatamente meu rosto se transforma em dor.

Abro os olhos só para ver a cara de espanto que ele fazia "se não quiser, não precisa contar..." balanço minimamente minha cabeça em negação "tudo bem, não gosto de mal entendidos..." digo e então respiro fundo para começar o relato. Mas antes ele faz menção ao maior, atrás de mim "ele já sabe?" e antes que pudesse responder, levo um susto com um sim de sua voz grossa e totalmente grave. Ao sentir meu corpo estremecer com o susto, Ibiki me abraça mais ainda, me puxando mais contra seu corpo, quase me esmagando. "Ibi...ki..." e então ele me solta e ouço um riso baixo, sarcástico no meu ouvido. Me fazendo arrepiar mais ainda.

Ele tenta me distrair sobre o tema mas sabe o quanto aquilo, aquela lembrança me machuca. Esse abraço foi uma 'força' não verbalizado.


"Quando Lavínia tinha uns 8 anos e eu 16 estávamos no laboratório junto com meu pai e a mãe dela. Já não tínhamos recursos suficientes para viver normalmente, então papai que também era cientista estava sempre elaborando e desenvolvendo ideias para que a vida se tornasse mais... Suportável. Eu estava aprendendo algumas coisas com meu pai, que estava desenvolvendo um dispositivo mais eficiente para dessalinizar a água do mar e também purificá-la."

Suspiro, chegando na pior parte. "Contudo, alguns exilados também queriam a tecnologia, ou ninguém teria. Como era um projeto, meio que secreto, ninguém sabia o nosso paradeiro. Mas infelizmente, eles descobriram. Não sei porque, se ficaram com raiva ou se queria que todos morrêssemos, eles bombardearam o laboratório." Decido pausar para pegar fôlego e preenchendo o silêncio que havia ficado, continuo.

"Quando soubemos a ameaça, até então não tínhamos certeza e meu pai cético como sempre, ficou até o último minuto pegando os dados e projetos do dispositivo. Estava junto da Lavi, ela brincava com umas plantinhas, já demonstrando seu amor pela botânica."

Nessa hora fico perdida em meus pensamentos, minha irmãzinha, meu ponto fraco, faria qualquer coisa por ela. Sinto então ambos me darem carinho, me tirando daquele transe. Ibiki beija meu ombro e Kakashi pega minha mão e às beija. Lágrimas já saem sem aviso dos meus olhos, pigarreio para que minha voz não fique tão embargada e continuo "quando ouvimos a primeira explosão, a mãe da Lavi nos pega e empurra para a próxima sala. E então eles são consumidos pelas explosões. Lavi estava desesperada com o barulho e logo vejo que o cilindro de hidrogênio estava a explodir cobri seu corpo com o meu e vários estilhaços da explosão cortaram e alguns ficaram presos em minhas costas. Na hora nem percebi, acho que a adrenalina estava a mil, minha maior preocupação era em proteger minha irmã" solto um sorriso sem ter graça nenhuma "até hoje..."

"Então, desde meus 16 anos sou a irmãzona/mãe dela. Por isso meu coração é dilacerado ao vê-la daquele jeito" então sinto um beijo do platinado em minha testa, me fazendo chorar mais ainda. Ele logo se levanta e pega uma caixa de lenços para eu limpar meu nariz. Ibiki me abraçava tão forte, que eu acho que ele queria era compartilhar minha dor por osmose.

Ficamos assim, abraçados, os três. Por um tempo, até que o platinado nos deixa, a muito custo, pois tinha uma reunião com a Hokage. Ibiki então começa a se arrumar, muito a contra gosto, eu continuo na mesma, porém agora ajoelhada na cama e decido quebrar aquele silêncio de palavras. "Obrigada" e sorrio, logo começando a ficar vermelha pelo o que estava ensaiando em minha cabeça, olho para baixo, tentando tomar coragem "ah... Como vai ser agora?"

Até então ele não tinha parado de se arrumar, até ouvir a pergunta, ele se senta ao meu lado e levanta minha cabeça pelo queixo, me fazendo olhar em seus olhos "eu percebi que naquele dia às coisas tinham ficado bem estranhas para apenas uma visita de cortesia" sua mão passa então para o meu pela minha bochecha e termina com o polegar me fazendo carinho "você gosta dele, não é?" a pergunta veio tão natural que me custou a acreditar, não tinha ciúmes, não tinha ódio, apenas... Curiosidade. Sem saber lidar com tudo aquilo e sem ter como fugir sem parecer suspeita de algum crime (afinal ainda estava nua), suspiro e revelo o que nem mesmo eu sabia "talvez... Acho que sim" e logo me adianto "mas eu" não saia "eu... Te amo".

Exponho o que há alguns dias estava dentro de mim e não sabia o que era. Todo o cuidado, carinho, preocupação, fez crescer algo que aquecia meu coração quando o via, mas depois de hoje cresceu mais ainda. Ele então sela aquela confissão com um beijo calmo e amoroso, fazendo meu coração pular. Ao término ele me olha, observando cada detalhe do meu rosto, percebo seus olhos fazendo isso, e então se emparelham com meus olhos "eu também te amo" e beija minha testa "sobre como vai ser daqui em diante, eu não me importo, desde que você não se machuque. Gosto dessa brincadeira a três e adoro te ver constrangida" ele ri, bem sucinto, como sempre. Ao terminar de se arrumar e ir em direção da porta ele encerra "é mais uma pessoa para ficar de olho na pequena pirralha" e logo fecha a porta se defendendo do travesseiro que joguei nele.

Sem ChakraOnde histórias criam vida. Descubra agora