Aviso (é capítulo)

48 12 6
                                    

Ele me segurava tapando a minha boca com uma das mãos e com a outra segurava meu pulso para baixo, deixando minha mão direita livre. Acredito que o intuito de segurar meu pulso seria para prendê-lo para trás, em minhas costas, porém como estava segurando a sacola com aquela mão, acabou dificultando sua abordagem. Instintivamente eu levo a mão livre em direção a sua mão que me calava, com o intuito de tentar tirá-la para assim poder gritar, chamar, qualquer coisa que pudesse me ver livre daquele monstro.

Porém, a cada vez que tentava, mais ele apertava meu rosto e prevendo que ele facilmente poderia quebrar meu maxilar, deixo essa ideia de lado antes que eu me machuque mais ainda. Lembro então das pimentas na sacola, como estava de costas, não sabia para onde estava olhando e quais seriam minhas intenções, quando levo um susto ao ouvir ele se pronunciar novamente junto com um suspiro pesado "eu vou tirar minha mão da sua boca" aquela voz tão perto e seu hálito tão quente em meu ouvido, me fazem tremer mais ainda. Olho novamente para a sacola e penso que se eu tentar alcançar o conteúdo dentro dela ele pode acabar descobrindo o que pretendo.

"Promete..." mas ele não consegue terminar, logo é interrompido por uma outra voz, praticamente vinda do além porque não consigo enxergar de onde, já que estava um breu.

"Ibiki!" logo reconheço aquele timbre, agora menos amigável do que antes, mas não deixa de me causar certo alívio. "De novo? As ordens da Tsunade-sama não foram explícitas?" Ao se pronunciar, sua voz vai ficando mais próxima de nós, só então percebo que um de seus olhos, o que geralmente ficava encoberto, exibe agora uma coloração avermelhada junto com um brilho intenso. Porém esse olhar, não era destinado a mim e sim ao meu captor.

O que me segurava, permaneceu em silêncio, deixando o mascarado mais sério ainda. A madrugada estava quente, mas tudo o que conseguia sentir era um frio fora do normal, fazendo com que meu corpo tremesse além do que conseguisse me controlar. Mas eu sabia que aquilo não era frio. Em meio ao monólogo, consigo então alcançar o conteúdo. Ao amassar as pimentas, não penso em nada a não ser tentar me livrar daquele abraço de urso, porém lá no fundo eu sei que dependendo do tipo de pimenta, ela poderia ser tão forte podendo causar queimaduras quando manuseadas sem luvas. Mas eu to pouco me fodendo pra isso, antes ter a mão queimada do que não ter... vida? Sanidade?

Ele então sussurra algo em meu ouvido, "se quiser saber a verdade, fico feliz em te dizer" e me solta porém sem esperar por aquilo minhas pernas falham e vou direto ao chão, tentando para a minha queda com as mão lembro que uma de minhas mãos estavam cobertas das pimentas amassadas, formando um purê. Consequentemente, a minha pela estava mais sensível do que o normal, ao parar minha queda com as mãos, logo veio uma dor da mãos esquerda, a que estava mais sensível.

Diante todo aquele momento, não percebi quando o suposto sequestrador havia sumido, ficando apenas eu e o platinado naquela rua deserta. Absorta em meus próprios pensamentos, não percebo quando ele tenta se aproximar de mim a fim de me ajudar a levantar. Contudo, o salvador da cena é recebido com soco no olho que fica sempre exposto, imediatamente ficando vermelho, por conta da pimenta empastada em minha mão.

Logo ao perceber isso a minha primeira reação foi arregalar os olhos percebendo a merda que eu havia feito. "Desculpa..." tento falar mas tudo o que sai são sussurros, quase inaudíveis. Percebo que ele entendeu, já que mesmo com o olho um pouco inchado, vertem em sorriso... A pessoa que consegue sorrir com os olhos.

Percebendo que não vou conseguir andar por conta própria ele acaba me pegando no colo, como se fosse uma noiva, que constrangedor, mas na atual situação é o mínimo que tenho que me preocupar. Aquele frio que estava sentindo, logo vai embora com o calor que seu corpo emana. "Onde fica seu apartamento?" Em um quase estado de torpor consigo com que meu último gesto seja apontar para o prédio na rua seguinte e murmurar o número seis, que era o número do meu apartamento e enfim me entrego a escuridão.

Acordo minutos depois ao sentir o movimento de ser colocada sentada na cadeira, desnorteada olho em volta demorando para reconhecer onde estou, me deixando mais zonza ainda. "Leite..." sussurro ainda percebendo que minha mão ardia muito, estava vermelha e um pouco inchada. Sem conseguir levantar a cabeça percebo que um copo de leite é posto no meu campo de visão com um canudinho. Retiro o canudo e mergulho a mão sem pensar nas consequências de derramar o líquido ou mesmo me sujar.

Alívio, ao sentir isso me permito soltar um pequeno gemido. Arrumando meus pensamentos que estavam em total bagunça, respiro fundo e levanto a cabeça para encarar meu salvador. Percebo e lembro novamente o que causei ao observar seu único olho que está amostra, agora inchado e vermelho. "Pegue algodão... No banheiro" percebo que ele não faz de imediato, fica apenas encarando aquela cena que seria cômica, uma pessoa que parecia bêbada com a mão enfiada em um copo com leite. Assim que desvia o olhar para o meu rosto, percebe que eu ainda espero o pedido que havia feito e logo vai em direção ao banheiro.

Ao voltar, me entrega um pedaço, de fato até grande, do que havia pedido. "Sente-se" e eu indico a cadeira que estava a minha frente. Ao falar isso percebo que a sobrancelha, do olho vítima, se levanta em uma expressão de descrédito por ter tido a pachorra de lhe dar uma ordem. Mas mesmo assim acaba obedecendo. Com a mão que estava ilesa, pego o algodão, molho no leite que havia caído quando mergulhei a outra mão e pela surpresa em que seu rosto se tornou, ele não esperava pelo que estava por vir. Peguei aquele algodão, encharcado do líquido e coloquei em seu olho, fazendo uma leve pressão, enquanto pude perceber que eu corpo, que antes estava tensionado, agora havia um ligeiro relaxamento acompanhado por um suspiro quase imperceptível.

"Agora segure" digo quando percebo que sua mão já está no algodão, e assim consigo retirar a minha mão. Quando penso que vou conseguir encostar minhas costas para ter um certo alívio nos músculos, um barulho de alguém batendo a porta me faz voltar aquele estado total de alerta, enrijecendo novamente meus músculos, causando uma dor aguda.

Ao ouvir isso, o mascarado retira a compressa do olho e vai em direção a porta para conferir quem estava do outro lado. Ao perceber que a porta estava se abrindo, começo, involuntariamente, a me retrair na cadeira. Quando percebo que se tratava de uma moça, de cabelos rosa, curtos e com um ornamento parecido com o da líder da vila, na testa. "Vim o mais rápido de pude Kakashi-sensei" sua voz é doce e calma porém logo se torna o total oposto ao perceber a vermelhidão no olho de seu professor. "O que houve?" e imediatamente olha pra mim, naquela cena cômica com uma das mãos em um copo de leite.



Sem ChakraOnde histórias criam vida. Descubra agora