Fim do mundo

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Aqui nesse laboratório, nem sei há quanto tempo que já não volto pra casa. Não há mais descanso, não há mais ninguém me esperando, nem sei porque continuo ainda tentando salvar esse mundo de merda se foi a mesma espécie que o desgraçou. Olho para o relógio, 2:30 da manhã, o sono está querendo voltar mas eu não posso deixar ele me vencer, não agora quando estou tão perto... Pego minha caneca, já vazia e o que restava de café, que outra hora estava quente e líquido, agora era uma crosta negra preta no fundo da caneca. "Eca, preciso lavar isso" fala consigo mesma antes de servir uma nova dose daquele líquido dos deuses, que infelizmente ela teve que aprender a gostar durante a sua pós-graduação.

Era normal falar baixinho consigo mesma, não que ela tenha algum distúrbio, e nem poderia, no laboratório no qual trabalhava, todos os funcionários precisavam passar por avaliação psicológica, afinal, não queríamos outro cientista louco por aí desenvolvendo armas de destruição em massa. Apesar de essas teorias ficarem apenas a literatura infanto-juvenil, ela trabalhava sim em um laboratório de desenvolvimento de armas para o exército, porém sua divisão era a de controle de dano... Afinal é preciso criar algo que possa parar o que a divisão de criação criar, não é mesmo?

Após se servir de um novo café, quentinho ela ouve alguém a chamar, em uma voz firme e que sempre lhe causava arrepios, porque sempre que ouvia seu nome sabia que ou era cobrança, ou era bronca. "Dra. Rurik?".

Acordo, de novo esse sonho. Porque essa lembrança sempre atormenta nas horas que preciso dormir, sem dormir meu cérebro não funciona. Sem o cérebro funcionando não há chance de tentar salvar o restante das pessoas. Estamos no limite, na borda do mundo. Está acabando, fomos tão gananciosos que o mundo, a Terra está literalmente morrendo. Nada que a gente planta cresce. Os animais estão quase mortos e os que ainda restam, são tidos como iguarias, o que às vezes eu ainda acho que é lenda isso, que os animais, inclusive os de corte, já foram extintos faz um tempo. Nossa alimentação é basicamente ração para humanos e o mínimo de água possível para viver. Não é que a água acabou, jamais vou contra a Lei de Lavoisier, não tem como destruir a água, suas moléculas, mas é que a maioria encontra-se tão poluída que vai além da despoluição.

Minha missão? Tentar sair daqui, não temos tempo para construção de naves ou qualquer outro tipo de quinquilharia para sair desse planeta, e se sairmos, para onde? Quanto tempo iria levar? E, será que estaríamos vivos até chegar em um possível destino? Com essas perguntas intentas eu encerro a discussão sobre como poderemos manter a humanidade viva. Outra forma seria procurar por universos alternativos, o que é outra idéia um pouco incabível mas não impossível. Lembro da primeira vez que tive contato com a ideia dos universos paralelos, fisicamente falando e não hollywoodiano, quando o astrofísico Neil deGrasse Tyson em um dos milhares de vídeos que assisti disse que o problema não era viajar para outros universos. O problema seria se esses universos também seriam regidos pelas mesmas leis da física que temos aqui.

Aquilo, de fato, me intrigou muito. Se é possível então por que não? Estávamos mortos, praticamente, que mais mal faria eu buscar um novo universo para podermos ter a chance de sobreviver?

Nosso espaço físico, onde estamos nos abrigando se tornou uma pequena parte do país Russo, já que a maioria dos países foram inundados pela constante alta no nível dos mares, uma das consequências do aquecimento global. Sim, essa poha é real, tudo bem que demorou uns 2 séculos, mas veio. Literalmente como uma onda e engoliu países que eram ilhas como o Japão, Havaí e às costas dos continentes. E por que a Rússia? Bom, primeiro porque já estava aqui, sou meia Russa e meia Chinesa. Outro ponto é que por extensão, o país é um dos maiores e estamos praticamente no meio, já nem é tão frio quanto antes...

Enfim, depois desse curto descanso, pego meu jaleco, força do hábito, e sigo em direção ao laboratório. "Lavi, como está a procura?" Olho para uma das físicas que estão nesse projeto. Estamos com quase tudo pronto, só procurando, com a ajuda de cálculos, um universo que seja regido pelas leis da física, parecida com as daqui. "Achei um Dra. Rurik, apesar de eles terem um tipo de força, uma energia desconhecida" ela olha novamente para os cálculos no monitor, comprovando que não há nada aqui que se assemelhe a algo por aqui. Ela se volta pra mim, com olhos cansados e quase sem nenhum brilho "é... só esse mesmo".

Logo após ela dizer isso sentimos um tremor gigantesco. "Não, não era pra acontecer agora." Digo, indignada, frustrada. Lavi, sabia sobre o que estava falando. A Terra estava com seus dias contados mas achei que teríamos mais tempo para explorar outros universos e então assim nos mudarmos para lá. Lógico que com o aval de qualquer que fosse quem regia aquele mundo. Ela me olha com medo, sem saber o que fazer.

Algumas partes do teto começam a cair, nossa moradia estava ruindo. Em um ato desesperado ela segura meu braço. "Vamos para lá, depois de anos procurando é o único que poderemos viver, eu acho" E imediatamente ela volta ao computador, digitando algumas últimas linhas do código para que a viagem seja completa. "Lavínia, não podemos..." Assim que começo a falar um pedaço enorme do teto cai, impossibilitando a única passagem para o laboratório. "É agora ou nunca" Ela me olha, determinada e então fecho os olhos, na esperança de abri-los novamente.

Acordo, tusso. O ar daqui é meio pesado. Começo a olhar em volta, então é assim que é uma árvore ao vivo? Estava em um cenário bucólico, daqueles que eu via nas imagens de como era a Terra antigamente, bem antigamente. 'Acho que não é o ar que é pesado, é que ele é mais limpo mesmo' penso, chego até me permitir rir dessa piada infame. De repente me vem ultima lembrança do universo natal. E a Lavi? Será que ela conseguiu vir? Preciso procurá-la. Olho em todas às direções mas não a vejo.

Contudo, vejo dois indivíduos ao longe com uns sobretudos pretos com umas nuvenzinhas vermelhas, até acho fofo. Me aproximando percebo que um deles aparentava ser uma pessoa normal porém o outro... Era meio um humanóide-peixe... É não haviam cálculos para o tipo de vida que iriamos encontrar por aqui. Por mais que isso seja perigoso, preciso de alguma forma de comunicar por aqui. Me aproximo deles e os chamo.

Mas antes disso, em qual língua? Começo pelo inglês porque... enfim era a língua padrão no meu universo...

"Ah, com licença" De imediato, ambos se viram em minha direção. E observo a linguagem universal da expressão em seus rostos. Surpresa? Mas imediatamente o mais baixo, que se parece mais humano fala em... Japonês?! Estranho, meu japonês está um pouco enferrujado mas ok. Ele diz algo como... me matar?

Sem mais nem menos eu nem percebo seus movimentos já perto os suficiente para agarrar meu pescoço me colocando contra uma árvore. Ao olhar seus olhos percebo que suas íris mudam, fazem desenhos, meu nível de espanto sobrepõe ao nível de curiosidade e interesse. "Que foda, seus olhos são diferentes, é algum tipo de lente?" Ele me olha espantado e assustado ao mesmo tempo e diz indignado. "O Genjustu não funcionou?" Imediatamente sua indignação se transformou em ódio e com isso ele apertou mais meu pescoço.

"Me... Solta... Idiota." Imediatamente pego um frasco no meu bolso, spray de pimenta, nunca se sabe o que encontraria em outros universos, não é mesmo? "Hentai!!" E espirro em seu rosto, imediatamente ele me larga e eu corro na direção oposta, como se minha vida dependesse disso... Que na verdade depende.

Sem ChakraOnde histórias criam vida. Descubra agora