Alucinação

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Saio em direção a rua. Toda essa claridade faz com que não consiga abrir meus olhos diante de um dia totalmente ensolarado. Saio do prédio já com um cigarro na boca só para ter o mínimo de trabalho assim de estiver do lado de fora. Estava precisando desesperadamente de uma tragada para aliviar meus pensamentos devido a quantidade de informação que estava, praticamente, absorvendo sobre a história da vila, suas guerras, seus inimigos. Tudo até onde consegui chegar, há uma parte que infelizmente não possuo acesso. Será que se pedir a Tsunade-sama ela me concederia? Penso olhando o movimento da rua.

Porém meu olhar é logo preso em uma figura que andava na multidão. Acho que não tenho dormido direito, estou começando a alucinar, mesmo após esfregar meus olhos e me atentar novamente a figura percebo que não é miragem e nem alucinação. Seu rosto, sua feição... "Lavi?" pronuncio a mim mesma e antes que pudesse perceber já estava indo em sua direção. Porém, imediatamente a rua começa a ficar mais populosa, como se não me deixassem chegar perto dela. "Laviiiii!!" Grito, com a esperança que ela me ouça, ela está viva! E imediatamente meus olhos começam a ficar embaçados, para que eu pudesse enxergar melhor os limpo com a manga da blusa, mas ao procurá-la novamente, não a encontro.

Percebo que minhas pernas não dão mais conta do meu peso e vou ao chão, não acreditando que a deixei escapar por entre os dedos. Logo me levantei, as pessoas já estavam me olhando com certa desconfiança. Vou em direção ao prédio da Hokage, logo relatar o que vi.

No caminho, após o susto e o pico de adrenalina que foi vê-la novamente. Meu lado mais racional toma um pouco mais os meus pensamentos. Começo então a duvidar do que posso ou não ter visto. Lavínia tinha o cabelo loiro, assim como os meus, mais claros até. Já essa pessoa tinha os cabelos pretos, quase azulados. Mas seu rosto... Era ela, tenho certeza! Por favor, eu a vi nascer, crescer e se tornar a pessoa brilhante que é... era. Tento em vão, racionalizar comigo mesma, tão perdida dentro da minha cabeça que quando percebo, já estou em frente ao prédio da Godaime-sama.

Jogo meu cigarro fora, que a essa altura nem aceso estava mais. Peço para que poça me receber e por sorte, recebo uma afirmação. Ao entrar em seu escritório percebo que talvez a permissão seja muito pela bondade porque sua mesa está repleta de papéis, alguns fazendo pilhas que... não sei se seriam possíveis. Pigarreio afim de chamar sua atenção e então Tsunade e Shizune levantam a cabeça em minha direção e eu logo me curvo em comprimento.

"Diga logo Li, estou cheia de trabalho." Como era um pouco recorrente eu vir em seu escritório, eu já havia me acostumado com seu jeito as vezes de ser curta e grossa. "Tsunade-sama, tenho algo que gostaria de relatar" e imediatamente ela fala, seca e um tanto quanto grossa, mais do que antes "já pedi para pararem com qualquer vigilância que possam ter com você." Ao falar isso nem se dá ao trabalho de olhar pra mim, porém continuo. "Não é sobre isso. Eu vi a Lavínia hoje, minha irmã."

Imediatamente, tanto ela quanto Shizune param o que estão fazendo e começam a me encarar, prestando mais atenção a minha presença, "apesar de estar com o cabelo escuro, eu tenho certeza que era ela." Ao ouvir isso, Tsunade se vira para Shizune e diz algo, inaudível para mim e imediatamente a morena sai da sala, nos deixando a sós. Então, a loira aponta para a cadeira que fica a frente de sua mesa, indicando para que eu me sentasse.

Ela suspira, gira a cabeça em seu pescoço, afim de ter algum alívio em seus músculos que aposto que não mexiam por um bom tempo, ao voltar a posição anterior me olha com seus olhos cansado e com um fio de tristeza neles. Depois disso me preparo para o pior. "Li eu..." ela pigarreia, me deixando mais apreensiva do que já estava, vi um fantasma? "Logo depois de você chegar aqui nós recebemos uma informação de que..." Quer me matar suavemente, só pode, tento disfarçar mas minha expressão só vai ficando mais fechada, com a demora em revelar, o que quer que fosse.

Ao perceber isso ela corta logo o desnecessário e vai direto ao ponto. "Bom, no dia que você chegou também recebemos informações de que uma pessoa, com as caraterísticas parecidas com as suas foi vista sendo levada pelo Orochimaru". Suspiro, pesadamente. Já havia ouvido falar dessa pessoa e nada do que havia ouvido era bom. Passo da raiva para a apatia. Creio que, quando estou raciocinando não consigo manter expressões falsas. "Algum tempo depois, em um dos esconderijos dele, achamos alguns papéis que indicavam que o novo experimento deles envolvia uma espécime sem chakra."

"Espécime" digo, sem perceber e com um olhar perdido, nem sei onde mas eu não conseguia ver mais nada devido a formação de lágrima e mais lágrimas sem poder conter aquilo. Tsunade para me acalmar decide colocar uma mão sobre a minha, que estava em cima da mesa. Mas ao perceber isso logo retraio a mão em direção ao meu colo e subo o olhar para ela. "E por que não me avisaram?" Junto as sobrancelhas em uma pequena expressão de raiva, mas a tristeza era quem tomava conta dos meus sentimentos. Secretamente eu sabia que se a Lavi estava na posse desse monstro, com certeza ela...

"Porque você tentaria ir atrás dela e isso seria suicídio para você, ou pior. Com ele sempre há algo pior que uma simples morte." Não tenho mais forças para tentar contestar nada e somente continuo ouvindo, mas dessa vez ela torna sua voz dura e rígida, diferente da anterior que estava calma, tentando me confortar. "Com essa nova informação eu consigo deduzir a que ela está sendo usada. Como não tem chakra, consegue entrar aqui sem disparar nenhum alerta. E se de fato ela estiver trabalhando com ele, preciso presumir o pior, já que ela não pode ser controlada por genjutsu."

Torno a voltar o olhar para ela, agora destilando ódio. "Existem x maneiras de se quebrar uma pessoa, ela só tem 16 anos... E vocês a vão tratar como uma inimiga..." Sem querer ouvir ou ter paciência para isso, logo me levanto indo em direção a porta na qual abro e saio em desespero. Corro em direção a saída do prédio e ao passar pela porta inalo o ar como se estivesse segurando o fôlego há um tempo. Respiro rápido e descompassado, até que consigo me acalmar e minha respiração voltar ao normal. Fecho os olhos, sem lembrar que existem pessoas na rua e que provavelmente devem estar olhando para essa louca que parece que saiu de um prédio em chamas.

Consigo levantar com um ligeiro esforço, tateio meus bolsos a procura daquele vício que se tornou meu companheiro nessa longa e dura jornada. Coloco um cigarro na boca e ao acender e tragar parece que parte da ansiedade que estava sentindo foi embora. Me xingo por ceder a uma coisa tão idiota quanto a isso, mas me apego porque sei que deve ser o único em que não vai me deixar na mão. Olho para o maço e percebo que está acabando, não vai me deixar na mão, até o maço se esvaziar.

Vou então em direção para casa, a espera de uma visita, mas não sem antes passar no mercado para conseguir mais do meu calmante em fumo.

Sem ChakraOnde histórias criam vida. Descubra agora