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QUINTA-FEIRA, 14 DE MARÇO.

Faltam vinte e quatro dias.

Por um tempo, seguimos em silêncio. Fico um pouco nervosa, pois AlmaCongelada pode abrir a porta do carro e se jogar na estrada. Não sei se o impacto a mataria, mas ainda me colocaria numa situação complicada.
Quando estende a mão para o botão do rádio, e não para a porta, dou um leve suspiro de alívio. Ela escolhe a rádio favorita de Taylor - aquela que toca o mesmo top five repetidas vezes. Todas as músicas parecem ser sobre tomar porres, usar vestidos curtos e brilhantes e dançar a noite toda. Faço uma careta.

- O quê? - pergunta ela.

- Não entendo. Você parece uma...

Ela faz um movimento, levantando o indicador perto do rosto, o que entendo como "cala a boca", e eu calo. A única coisa em que sou boa é obedecer a ordens. Espere, acho que não é verdade. Nunca obedeço às ordens do sr. Palmer, embora a maior parte do tempo eu tente fingir que obedeço.

Camila desliga o rádio.

- Desculpa. Não sabia que você era metida a besta com música.

- Não sou nada metida.

- Não é metida e não é mãe dondoca - diz ela. - Você está superbem na fita.

- Tudo bem - respondo, e em seguida mudo de assunto. - Tanto potencial
desperdiçado em sete de abril.

Energia potencial. Será que AlmaCongelada pensa na física da morte?

- Aí, sim - diz ela, fingindo erguer um drinque no ar. - Saúde!

Acho que as músicas na rádio de Taylor combinam bem com os interesses dela.

Sacolejamos mais um pouco pela estrada em silêncio. Mexo no botão do rádio e sintonizo uma estação de música clássica. Ela não comenta minha escolha. A paisagem aos poucos se torna mais acidentada.

Chegamos a uma curva fechada
na estrada e nos afastamos do rio, seguindo na direção das colinas. A grama ainda está marrom e seca pelo inverno, e a maioria das árvores ainda está desfolhada. A primavera está demorando a chegar este ano. Abro um pouco a janela e o ar úmido e frio entra no carro. Às vezes, dá para sentir o cheiro de uísque no ar, o aroma doce do centeio vindo da destilaria que fica a poucos quilômetros, mas hoje sinto apenas cheiro de lama e grama molhada. O vento bate no meu rosto, e seguro a vontade de olhar para ela, mantendo os olhos concentrados na estrada.

- Não posso mais dirigir porque aconteceu uma coisa no ano passado - revelou ela por fim. - Por isso você sempre vai precisar dirigir. Pedi para minha mãe me deixar na lanchonete mais cedo. Ela ficou empolgada por eu querer sair de casa pela primeira vez depois de meses para encontrar uma amiga.

Ela me olhou.

- Eu disse que você era uma amiga nova. Minha mãe ficou entusiasmada.

Então, os pais se preocupam com ela. Não é bom. Significa supervisão
dobrada. Mas acho que é por isso que ela precisa de mim, sua Parceira de
Suicídio.

- Entendi - comento. - Bem, acha que pode ao menos me dar instruções para eu saber onde eu te deixo?

Ela hesita, e seu lábio inferior se retorce, como se estivesse considerando se deveria falar ou não.

- Que foi? - pergunto.

- Posso pedir um favor?

Minha primeira tarefa como parceira. Algo dentro de mim sacode como uma cadeira de balanço em uma sala vazia - é solitário e confortável ao mesmo tempo.

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