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SEGUNDA-FEIRA, 1º DE ABRIL.

Faltam seis dias.

Quando chego em casa, minha mãe está ao lado da pia, descascando batatas.

Vou até o armário e olho a parte dos biscoitos, tentando encontrar uma barrinha de granola com gotas de chocolate.

– Lauren – diz ela, me dando um aceno tímido.

Viro para encará-la segurando a caixa vazia de barrinhas de granola.

– Chris sempre pega a última e nunca joga a caixa fora. Que coisa irritante.

Minha mãe abre um sorriso cansado. Os cabelos castanho-claros estão presos em uma trança frouxa. Quando seus cabelos estão assim, expondo a testa e as maçãs pontudas do rosto, ela fica mais parecida com Taylor que o normal.

Minha mãe deixa o descascador de batatas de lado e seca as mãos.

– Podemos conversar?

Parece que ela não vai dizer nada sobre as barrinhas de granola. Deixo a caixa na mesa.

– Claro.

– A TMC ligou hoje. O sr. Palmer queria saber onde você esteve. Você não foi até lá no sábado e deveria ter ido trabalhar hoje também, certo?

Ela parece indecisa, como se tivesse medo de me repreender. Mas está certa.

Eu cabulei o trabalho. Achei que, se fosse morrer, não seria tão importante manter o trabalho. Dinheiro é inútil para uma pessoa morta. Mas a questão é que, mesmo se eu não pular de Crestville Pointe, tenho certeza de que nunca mais quero trabalhar na TMC.

– Vou sair do emprego – digo.

– O quê? – pergunta ela em uma voz calma e comedida.

– Pode gritar comigo – falo. – Sabe, eu não sou ele. Talvez seja como ele, mas
não vou acabar do mesmo jeito.

Sinto o peso crescer atrás dos olhos. Eu me esforço para reter as lágrimas.
Minha mãe se encolhe como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa. Ela leva a mão ao rosto.

– Ah, Lauren. Ah, querida.

Ela estende a mão. Eu deixo que me abrace, mas não retribuo. Despenco
contra seu corpo e sinto-a se enrijecer ao segurar o peso do meu.

Ela toma minha mão e me leva até seu quarto. Não entro ali desde que me
mudei. É o quarto principal da casa, mas isso não diz muita coisa. Não é muito maior que o quarto que Taylor e eu dividimos. Vejo algumas camisas sujas de Steve num canto, mas, fora isso, parece que minha mãe trabalha duro para manter o local limpo. É seu único santuário longe do furacão de bagunça que é o resto da casa.

Sentamos na cama. Apoio a palma das mãos no edredom floral. Os fios estão
esgarçados, o que faz as rosas parecerem difusas e machucadas. Pego um dos fios soltos.

Ela se afasta um pouco para fitar meus olhos.

– Lauren – diz ela –, você não é como ele.

Sinto o coração batendo, e parece tão pesado e grande que me pergunto se é a única coisa que a lesma preta me deixou. Como se por dentro eu estivesse vazia, e tudo o que me restasse fosse meu coração solitário, palpitante.

– Mas eu sou como ele.

Ela toca minha mão de leve.

– Como assim?

Minha respiração está trêmula, e eu engulo em seco algumas vezes para tentar me controlar. 

– Sou triste, mãe. Sou triste o tempo todo. E eu acho que ele era também.

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