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SÁBADO, 23 DE MARÇO.

Faltam quinze dias.

Taylor e eu estamos sentadas à mesa da cozinha, e ela olha pela janela. Acho que espera ter um vislumbre de Tyler antes de irmos.

- Quem é a beldade?

Ela aperta o rosto na vidraça.

Dou um gole no café preto. Fico tentando me ensinar a gostar de café, mas, não importa o quanto eu tente, não suporto o sabor amargo.

- Achei que você conhecesse o Tyler.

- Para de brincadeira - diz ela. - Aquela garota não é o Tyler. É mais baixa e tem o cabelo mais comprido.

Olho pela janela e vejo o jipe vermelho de Sinu se afastando da calçada. A campainha toca e eu me levanto para atender a porta, mas Taylor corre na frente. Ela abre de uma vez, põe a mão na cintura e, em sua voz mais doce, diz:

- Olá, prazer em conhecê-la.

- Hum, oi - diz Camila ao entrar em casa.

Nunca tive vergonha de nada na casa de Steve, em grande parte porque passo todo o meu tempo envergonhada comigo mesma, mas no segundo em que Camila entra começo a perceber que tudo está errado. O carpete está manchado e há uma pilha de pratos sujos na pia. Não parece nada com sua casa imaculada, impecável.

Sei que não deveria me importar com o que ela acha. Não vai se negar a pular comigo do penhasco em Crestville Pointe porque minha casa é uma zona, mas não gosto da ideia de ela sentir pena de mim. Desejo que a lesma preta vá em frente e coma meu embaraço junto com minha alegria.

Ela estende a mão para cumprimentar Taylor como se fosse uma estadista. Os bons modos sulistas são duros de matar, acho eu.

- Sou Camila - diz ela. - Amiga de sua irmã.

Fico surpresa que tenha deduzido que Taylor era minha irmã, considerando a falta de semelhança.

- Meia-irmã - solto antes de Taylor dizer qualquer coisa.

Um laivo de irritação passa pelo rosto de Taylor, mas ela me ignora e volta a
atenção para Camila. Aproxima-se dela e puxa a ponta do rabo de cavalo
brilhante.

- Então, como conheceu Lauren?

Camila baixa os olhos e arrasta os pés.

- Nós nos conhecemos poucas semanas atrás em uma quadra de basquete em Willis.

Taylor gira para me encarar.

- O que estava fazendo em Willis?

- Por que você quer saber? - Aceno para Camila se sentar à mesa da cozinha.

- Quer beber alguma coisa?

Enquanto eu observo seus olhos percorrerem o cômodo, quero pegá-la e levá-la para fora de casa antes que veja mais alguma coisa.

- Minha mãe trabalha fora - digo, tentando inventar qualquer desculpa para justificar a bagunça em que a casa se encontra.

- É, ela trabalha no Swift Mart - acrescenta Taylor, saltitando pela cozinha. - Seis dias por semana, pobrezinha.

Pobrezinha? Há coisas piores na vida da nossa mãe do que o trabalho no Swift Mart. Por exemplo: seu primeiro marido é um assassino condenado. Ou: sua filha mais velha é estranha e depressiva.

- Você não tinha que estar em outro lugar? No ensaio de líder de torcida ou algo assim? - pergunto, abrindo a geladeira.

Camila não respondeu se queria beber alguma coisa, mas vou lhe dar suco de laranja mesmo assim. Eu sirvo e ponho o copo diante dela.

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