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QUINTA-FEIRA, 21 DE MARÇO.

Faltam dezessete dias.

Hoje é o aniversário de dez anos de Chris. Estamos todos reunidos no salão de festas ao fundo do Pirate Jack's Laserplex. O Pirate Jack's Laserplex é exatamente o que o nome sugere: uma arena decadente de laser tag com cenário de piratas. Fica em um prédio parecido com um bloco de cimento, com pequenas janelas e assoalho de ladrilho manchado.

Steve sempre tem as quintas-feiras de folga, e minha mãe usou um dia das
férias. Taylor e eu fomos direto da escola para ajudar nossa mãe a decorar o salão com bandeirinhas pretas e vermelhas, tampões de olho e moedas de ouro falsas. Se fechássemos os olhos, cobríssemos os ouvidos e girássemos algumas vezes, quase poderíamos acreditar que estávamos em um navio pirata, e não encalhados em Langston, Kentucky. Quase. Estou sentada no fundo da sala, sozinha a uma mesa, com o presente de Chris no colo, segurando um copo de plástico com refrigerante de laranja na mão esquerda, tentando fingir que não me sinto ridícula usando um chapéu de pirata de papelão. Steve está diante dos colegas, tomando latas e mais latas de cerveja barata e aplaudindo toda vez que Chris abre uma bola de basquete ou uma luva de beisebol. Taylor, minha mãe e algumas amigas da minha mãe estão sentadas à mesa ao lado de Steve, fofocando sobre as líderes de torcida e lamentando que Christine Beth Thomas venceu Sandra Dewitt no concurso de beleza do mês
passado.

De vez em quando, minha mãe me olha. Como eu já comentei, ela e Taylor tem olhos iguais, mas minha mãe tem cílios diferentes. Os dela são opacos e têm aparência de gastos. Tem uma tristeza neles. Ela me flagra olhando para ela, e eu desvio o rosto.

Chris está rasgando a pilha de presentes como um tornado. Acho que é minha vez. Estendo a mão e deixo o copo de refrigerante com cuidado na mesa. Uma gota do refrigerante açucarado pula pela borda do copo e pinga na minha mão.

Limpo-a na camiseta e pego o presente de Chris. Parece leve nas mãos, mas quero que seja pesado, significativo. Vou até ele. Chris toma o presente.

- Ei, Lauren - diz ele, e os olhos se iluminam.

É assustador como Chris se parece com Steve, uma versão em miniatura.

- Oi, Chris. Feliz aniversário.

O restante do salão ficou em silêncio, nos observando. Embrulhei o presente em papel com estampa da fórmula E=MC 2. Parece que ele não nota. Rasga o papel rápido e, quando vê o presente, seus olhos se arregalam como bolas de beisebol.

Chris dá um gritinho e sacode no ar o presente, uma revista em quadrinhos. É uma edição de O Espetacular Homem-Aranha, autografada por Stan Lee. Ele abraça a revistinha e abre um sorriso para mim.

- Homem-Aranha? Que demais!

Ele olha a capa e corre o dedo pela assinatura, como se estivesse hipnotizado por ela. Depois, deixa a revistinha com cuidado na mesa ao lado dele e abre bem os braços, me puxando para um abraço apertado.
Minha boca fica seca, e o estômago, pesado como uma bola de boliche.
Retribuo o abraço sem muita força e corro os dedos pelos seus cabelos.

- De nada, cara. Espero que curta ler essa revistinha nos próximos anos.

Ele aperta os olhos para mim como se soubesse que tem algo de errado no que acabei de dizer. O problema é que não consigo dizer o que queria. Deveria dizer que gastei quinze salários para comprar a revistinha porque queria muito que ele tivesse algo legal para se lembrar de mim. Para pensar em mim como uma pessoa legal, bacana, carinhosa. Não como a cria psicótica de um assassino que se suicidou quando ele tinha dez anos.

Quero ser mais que isso para ele. Sei que talvez nunca aconteça, mas sonho
que daqui a alguns anos, quando eu tiver ido embora e Chris sentir minha falta, ele pegue a revistinha e se sinta melhor. Seguro. Vai saber que pode derrotar seus demônios exatamente do jeito que não consegui.

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