SEGUNDA-FEIRA, 1º DE ABRIL.
Faltam seis dias.
Quando saio da escola, ligo para o número que Jacob deixou na mensagem de voz. Liguei uma vez no domingo, após deixar Camila em casa, mas ninguém atendeu e eu não tive coragem de deixar mensagem.
Eu me encolho no banco do carro e encosto o telefone no ouvido. Toca
algumas vezes até uma voz opaca responder.– Hospital de Saúde Comportamental de Saint Anne, aqui é Tara. Como posso ajudar?
Engulo em seco.
– Hum, oi, Tara. Meu nome é Lauren Jauregui. Sou filha de Michael Jauregui. Fui informada de que ele foi transferido do Centro Correcional McGreavy para Saint Anne e…
As palavras saem aos tropeços da minha boca, mais rapidamente do que
quero, mas fico com medo de que, se não falar tudo de uma vez, ela vá desligar e eu perca a chance de encontrar meu pai.– Sei. – A voz dela falha. – Você é menor de idade?
– Como?
– Tem menos de dezoito anos?
Penso em mentir.
– E isso importa?
– Não estou autorizada a dar informações sobre pacientes a menores. Também não estou autorizada a dar qualquer informação confidencial por telefone.
– Mas… – Mordo o lábio inferior. – O que devo fazer? Quero muito ver meu
pai.Ouço um suspiro.
– Se seu pai for paciente daqui, o que não sou legalmente autorizada a
confirmar, seria preciso que seu tutor nos ligasse para agendar uma visita.
Dependendo do estado do paciente, a visita pode ou não ser possível.– Não pode me dar nenhuma informação além dessa? Nem uma pista se meu pai está aí?
– Acho que seria uma boa ideia falar com sua mãe sobre marcar uma visita. – Outro suspiro. – Ela pode ligar neste número.
Um pequeno sorriso se forma tímido no meu rosto.
– Obrigada.
– Por nada. Tenha um bom dia.
E desliga.
Boto o telefone de volta no bolso e desço o banco do carro para me deitar. O sol está à espreita atrás das nuvens e se espalha sobre meu rosto. Preciso falar com minha mãe sobre meu pai.
Imagino como seria visitá-lo. Será que estaria usando roupas brancas de
hospício? Ou pior, acorrentado? Aperto os olhos e tento vislumbrar seu rosto, mas tudo o que vejo é o homem de quem me lembro. O homem que nunca teria espancado um garoto até a morte com um taco de beisebol. Talvez todos tenhamos a escuridão dentro de nós, e alguns de nós sejamos melhores em lidar com ela que outros.O que meu pai fez foi errado, terrível, imperdoável, mas talvez ainda haja
esperança. Talvez, se ele conseguir a ajuda de que precisa, o homem que me ensinou sobre a tocata de Bach e a dormir na cadeira do quarto quando eu estivesse com medo do escuro possa ressuscitar.E, se há esperança para meu pai, ainda há esperança para mim. Talvez seja verdade que ele e eu temos a mesma lesma preta dentro de nós, mas depende de mim dominá-la. Devo isso ao meu pai. Devo isso a mim mesma.
Ajusto o banco do carro para a posição normal e ponho a chave na ignição.
Preciso falar com minha mãe. Quando saio do estacionamento da escola, faço uma promessa a mim mesma: Serei mais forte que minha tristeza.
Farei o melhor para me tornar a garota do desenho de Camila. A garota de olhos brilhantes. A garota esperançosa.
![](https://img.wattpad.com/cover/233773789-288-k302658.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Parceiras de Suicídio
Fiksi PenggemarLauren tem dezesseis anos e não quer mais viver. Só está à espera do momento certo para acabar com a própria vida. Há apenas um problema: ela não sabe se tem coragem de fazer isso sozinha. [Adaptação]