31

774 63 20
                                    

DOMINGO, 7 DE ABRIL.

Falta zero dia.

Hoje é o dia: o aniversário da morte de Sofi. Quase não tive coragem de vir
ao hospital, mas sabia que, se não viesse, nunca me perdoaria.

Pela primeira vez em três anos, estou usando algo diferente de camiseta preta e jeans. Peguei emprestado um vestido azul simples de Taylor, lavei o cabelo e fiz uma trança francesa. Não que eu ache que Camila se importe nesse momento com minha aparência, mas eu me importo. E estou tentando mostrar isso a ela.

As sapatilhas brancas que também peguei de Taylor estalam pelo ladrilho
enquanto atravesso o corredor. Assim que chego ao quarto de Camila, dou uma olhada lá dentro e vejo seus pais juntos ao pé da cama.

– Ah, Lauren – fala a mãe.

Ela me dá um sorriso alegre. Estou começando a acreditar que o carinho da mãe de Camila não é de fachada, como Camila diz; ela tem mesmo esse tanto de amor dentro dela. Alejandro está com o braço ao redor dela e, quando me vê, puxa Sinu para si.

– Entre – diz ele. Sua voz é menos efusiva que a da mulher, mas também não é fria.

Camila olha para mim. Não diz nada. Talvez seja minha imaginação, mas juro que seus olhos se iluminam um pouco. A pele ao redor ainda está manchada, mas está menos impressionante que na sexta-feira.

– Estou com fome, você não? – pergunta a mãe de Camila ao pai. Ele parece confuso por um segundo, mas entende a deixa.

– Ah, sim – responde ele. – Morrendo de fome.

Sinu vira-se para mim.

– Querida, se importa de cuidar de Camila por alguns minutos enquanto vamos comer alguma coisa?

– Sem problema.

Sorrio para ela a fim de agradecer a gentileza. Agradecer por ainda me deixar ver Camila, por me colocar na lista de visitantes e me tratar como família.

Sinu beija a testa de Camila e, assim que seus pais saem, me sento na poltrona ao lado da cama.

– Eu deveria estar diante do túmulo dela – diz Camila por fim. Sua voz ainda sai com esforço, mas mais firme que na sexta-feira. – Principalmente hoje, eu deveria estar lá.

– Ela não precisa que você esteja diante do túmulo para saber que se importa.

Ela aperta os olhos.

– Acredita mesmo nisso?

Faço que sim com a cabeça.

– Acredito, Camila. Talvez não esteja aqui fisicamente, mas ainda está aqui. E ela quer vê-la feliz. Sei que quer.

Ela fica em silêncio por alguns segundos. Os lençóis vão até o queixo, e ela está imóvel. Nós nos olhamos em silêncio até ela perguntar:

– Quando eu sair daqui você vai lá comigo?

– Ao túmulo dela?

Os lábios dela se retorcem, e eu interpreto como um sim.

– Vou a qualquer lugar com você.

Meu rosto fica vermelho. Não costumo dizer esse tipo de coisa, mas, quando vejo seu sorriso se abrir devagar, toda a minha vergonha desaparece.

– Olhe para mim, ainda estou sendo brega pra caramba. – Ela deixa escapar uma risada baixa, rouca. – Por falar nisso – digo, pegando minha bolsa. Puxo o livro que comprei sobre as praias da Carolina do Norte. Coloco na bandeja de comida para que ela o veja. – Pensei que quando você melhorar talvez a gente possa ir lá.

Parceiras de SuicídioOnde histórias criam vida. Descubra agora