29

328 47 8
                                    

QUINTA-FEIRA, 4 DE ABRIL.

Faltam três dias.

Estou dirigindo até a casa de Camila. Mandei uma mensagem de texto para
avisá-la da minha chegada. Ela não respondeu, mas às vezes é lenta para
responder.

Eu a imagino no quarto. Jogada na cama de barriga para cima, observando o Capitão Nemo, desenhando distraidamente, o lápis fazendo marcas leves pelo papel. Será que ela e o Capitão Nemo ficam em silêncio o dia todo ou Camila fala com ele? Será que Camila fala com ele sobre mim? Queria que Capitão Nemo pudesse revelar todos os segredos de Camila.

Agarro o volante e me lembro de que não preciso que ninguém me conte os
segredos de Camila. Que vou fazê-la me contar. Porque vou ser sincera sobre tudo. Tiro os olhos da estrada por um segundo e olho o banco do passageiro, onde deixei o livro que comprei, chamado Explorando as Praias da Carolina do Norte. Imagino que vou começar vendendo para ela a ideia da viagem até o mar e espero que o restante venha naturalmente.

Camila ainda não respondeu à mensagem de texto quando chego à sua casa. Fico sentada no carro por alguns segundos, encarando a conhecida caixa de correio caramelo. Envio mais uma mensagem e, como ela não responde, tento ligar. Sem sucesso.

Dou um pulo no banco do motorista quando ouço a porta da frente se abrindo, mas relaxo assim que vejo que é a mãe dela. Saio do carro e aceno para ela.

– Lauren – diz ela enquanto se aproxima.

Está usando um suéter cor-de-rosa e os tamancos de margaridinhas. Os
cabelos pintados de castanho estão amarrados em um coque. Faz com que pareça mais jovem que o habitual.

– O que está fazendo aqui? – pergunta.

Abro um sorriso como um pedido de desculpas.

– Ah, eu estava na vizinhança e quis ver se Camila estava em casa. Semana
passada combinamos de nos encontrar hoje.

Sinu franze a testa, juntando as sobrancelhas.

– Camila não está em casa.

– Sério?

Tento não parecer chocada. Pensei que ela nunca saía de casa, a menos que estivesse comigo.

– É. Ela me disse que estava indo para sua casa.

Sinto o queixo cair.

– O quê?

Ela abraça o corpo como se de repente sentisse muito frio.

– É, ela me pediu o carro emprestado para ir à sua casa. Não sei se você sabe, mas Camila ficou sem dirigir por algum tempo. Mas parece que ela está tão melhor, saindo com você, então pensei… – Ela para de falar.

Um pensamento terrível me atinge com a força de um tsunami. Sinto como se eu estivesse me afogando quando consigo gaguejar:

– Posso ir lá em cima?

Ela hesita, me encara, uma expressão confusa no rosto. Então seus olhos se
arregalam e ela corre para a casa. Eu a sigo.

Atravessa às pressas a cozinha, tirando a cadeira do caminho, que bate no balcão e faz uma xícara de chá cair da beirada e estilhaçar. Salto sobre os cacos e fico bem atrás de Sinu enquanto ela corre escada acima.

Subimos voando até o primeiro andar, e meu coração fica um pouco aliviado quando vejo a porta do quarto de Camila aberta. Talvez esteja lá dentro. Talvez esteja apenas com fone de ouvido, ouvindo suas músicas horríveis, viajando, esquecido do mundo.

Parceiras de SuicídioOnde histórias criam vida. Descubra agora