10

357 59 7
                                        

SEGUNDA-FEIRA, 18 DE MARÇO.

Faltam vinte dias.

Segunda-feira de manhã é provavelmente o pior momento da semana. Não consigo nem ficar quinze minutinhos a mais na cama porque Taylor sempre acorda mais cedo para escarafunchar o armário inteiro. Deus a livre de escolher o modelito errado.

Pelo visto, a aparência da segunda-feira é muito importante – segundo Taylor, o que você veste nesse dia determina como será o restante da semana. Tipo, se você se vestir realmente bem e receber toneladas de elogios, vai passar na prova de matemática na quinta-feira. Não acho que polinômios tenham algo a ver com saltos plataforma ou jeans skinny, mas Taylor está convencida disso. O bom é que uso uma variação das mesmas coisas todos os dias – camiseta de manga longa cinza listrada, jeans pretos, tênis cinza –, então não há como as coisas serem diferentes para mim.

– Lauren – sibila ela. – Lauren, acorda.

– Taylor – gemo, rolando para o lado.

Aperto o rosto com mais força no
travesseiro na esperança de abafar seus ruídos.

– Não quero saber se você vai usar o vestido-suéter roxo ou a saia-lápis vermelha. Tenho certeza de que vai ficar bonita de qualquer jeito.

Ouço a ponta da minha cama ranger. Taylor começa a me cutucar na
cintura, e eu me retorço para me afastar dela, minhas pernas e braços enrolados nos lençóis.

– Droga, o que foi?

– Acorda! – Ela quica na cama e fica em pé. – Olhe pela janela.

Esfrego as têmporas. Planejava dormir ao menos mais quinze minutos, vinte se eu decidisse não pentear os cabelos. Suspirando, me esforço para sair da cama. Tropeço até a pequena janela que fica bem no meio da parede ao fundo do quarto.

Essa janela tem sido nossa linha divisória nos últimos três anos – lado esquerdo para mim, lado direito para Taylor. Seu lado é coberto com páginas que arrancou de revistas de moda, fotos de amigos e sua coleção de saleiros. Ela tem essa estranha obsessão por saleiros únicos – em forma de corujas, caminhões, lobos – que encontra em lojas de um e noventa e nove. Minha parede não tem nada.

– Olha – insiste ela, apontando para a janela.

Lá fora, vejo que a grama está coberta de neve. Pisco porque o sol faz o
jardim inteiro reluzir. A neve está empilhada nos troncos dos carvalhos e, pelo que vejo, deve ter ao menos uns dez centímetros de altura.

– Não é incrível? – diz Taylor, batendo palmas atrás de mim. – A escola vai
fechar!

– Nunca neva em março – observo.

– Nevou uma vez, quando éramos pequenas, lembra?

Lembro. Foi um dia legal. Eu não tinha mais que nove anos, Taylor devia ter uns sete na época, e Chris, dois. Meu pai me levou para passar o dia lá porque insistiu em trabalhar na loja, esperando talvez conseguir alguns clientes de passagem, pois nenhuma criança iria à escola.

Naquela manhã, minha mãe fez panquecas com gotas de chocolate para nós, depois passamos o resto do dia montando bonecos de neve no quintal e escorregando a ladeira da rua Vine com trenós. Parecia mesmo um dia em família – eu não me senti uma intrusa que aparecia de visita apenas aos fins de semana.

Isso foi há muito tempo.

Tudo fica silencioso por alguns momentos. Eu encaro a neve fresca pela janela, e Taylor me observa. Nenhuma de nós sabe mais como conversar.

Parceiras de SuicídioOnde histórias criam vida. Descubra agora