QUARTA-FEIRA, 13 DE MARÇO.
Faltam vinte e cinco dias.
Quando chego em casa depois da escola, minha mãe está sentada à mesa da cozinha. A cozinha é estreita e pequena, e se eu estender os braços posso tocar as duas paredes cor de menta com as palmas das mãos.
Minha mãe folheia contas, com o pescoço curvado pela concentração, mas quando ouve a porta se vira e olha para mim. E lá está. A mesma expressão facial com que me cumprimentou nos últimos três anos. É um misto de estremecimento e franzir de testa.
Até três anos atrás, eu passava os dias de semana com meu pai e os fins de
semana com minha mãe. Mas depois que meu pai foi preso, minha mãe não teve escolha a não ser me deixar morar com ela e Steve.Antes do crime de meu pai, minha mãe me olhava com um misto de amor e saudade, como se eu fosse um espelho de sua vida passada, uma memória agridoce. Os olhos escuros amendoados ficavam úmidos, ela inclinava a cabeça para a frente, os cabelos lisos, castanho-claros, caíam sobre os ombros magros, e apertava minhas mãos com firmeza, como se a força do aperto pudesse me fazer transportá-la no tempo. Era quase como se eu fosse um machucado que não sara. Não um machucado doloroso, mas delicado, feito de lembranças melancólicas.
Não me importava. No fundo, eu adorava ser o veículo para sua vida passada, sua ligação com Cuba, com meu pai e sua juventude.
Isso tudo mudou três anos atrás. Tudo mudou. Hoje, eu moro com ela, Steve, Taylor e Chris. Ela nunca admitiria, mas sou uma intrusa em seu lar feliz. Uma infestação. Passei de machucado para ferida aberta, purulenta. A evolução nem sempre é uma coisa positiva.
– Chegou cedo – diz ela por fim.
Todos os dias, seu sotaque fica cada vez menos cubano e cada vez mais norte-americano e sulista. Na verdade, “sulista” seria a palavra errada. O povo em Kentucky não tem sotaque sulista. Tem sotaque de música country. É muito menos charmoso que o do sul. É menos de E o vento levou… e mais do coronel Sanders, o velhinho do KFC. Eu me esforcei bastante para não pegar o sotaque.
Mas, se eu nunca vou completar dezessete anos, me pergunto o que terá adiantado aprender a falar normalmente.
– Não vou para o trabalho hoje.
Não menciono que me disseram para não ir porque eu deixaria os clientes
“desconfortáveis”. O sr. Palmer é, no mínimo, o rei dos eufemismos. É provável que ele e minha mãe se dessem muito bem, considerando que ela se refere ao que aconteceu com meu pai como “o infeliz incidente”. Pelo menos era o que ela dizia. Ultimamente, tem fingido que nunca aconteceu. Como se apenas deixar de falar sobre uma coisa a fizesse desaparecer. Posso contar um segredo? Não faz.Taylor entra marchando na cozinha. Ela solta os pompons na mesa de madeira riscada. Os cabelos castanhos caem lisos do alto do rabo de cavalo.
– Você vai ao jogo hoje à noite, não vai?
Ela está perguntando para minha mãe, não para mim. Sou invisível. Taylor é minha meia-irmã. Temos a mesma mãe, mas você nunca imaginaria se nos visse.
– Vou fazer de tudo para conseguir – diz minha mãe.
Tradução: pode chover canivete, ela vai assistir ao jogo. Taylor está apenas no primeiro ano, mas já é líder de torcida do time principal da escola.
Pelo visto, é uma grande coisa.
Embora me pareça que, diferentemente de outros esportes, em que o time de juniores e o time principal são determinados pelo nível de habilidade, para as líderes de torcida juniores e principais são determinadas pelo tamanho do sutiã.
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Parceiras de Suicídio
أدب الهواةLauren tem dezesseis anos e não quer mais viver. Só está à espera do momento certo para acabar com a própria vida. Há apenas um problema: ela não sabe se tem coragem de fazer isso sozinha. [Adaptação]