20

329 52 12
                                    

SÁBADO, 30 DE MARÇO.

Faltam oito dias.

Chego à casa de Camila um pouco depois das sete e meia. Estou prestes a
mandar uma mensagem de texto para ela sair quando a porta se abre. Sinu sai no alpendre com um roupão creme e pantufas cor-de-rosa. Ela acena para mim, e aceno de volta. Ela vem até mim, e eu saio do carro.

– Bom dia.

– Bom dia, Lauren!

Ela estende os braços para me abraçar e dou um pulo para trás. Não estou
acostumada a pessoas querendo me tocar; a maioria tenta ficar o mais longe possível, como se ao me tocar pudesse de alguma forma se contaminar com a loucura do meu pai.

Mas Sinu não sabe nada sobre meu pai, então me puxa para perto da maneira mais humana possível. Sinto o cheiro da pasta de dente mentolada e ouço as batidas rápidas de seu coração. Ela me solta do abraço apertado, mas mantém as mãos nos meus ombros.

– Então, empolgadas para o acampamento?

Acampamento? Acho que Camila deve ter dito a ela que íamos acampar para
explicar por que ficaria fora tanto tempo. Esqueci que a mãe dela se importa de verdade com os lugares aonde ela vai e o que faz no tempo livre. Eu disse para minha mãe que trabalharia até tarde no fim de semana, que não precisava esperar por mim, e Taylor em geral passa as noites de sábado na casa de uma amiga. Embora eu tenha certeza de que poderia fazer uma viagem de uma semana pela Antártida antes de alguém em casa ficar preocupado com minha ausência.

– Ah, sim. Faz uma eternidade que não acampo – digo à Sinu, e ela solta meus ombros e dá uma volta ao redor do meu carro, espiando o banco de trás. Nesse caso, eternidade quer dizer nunca.

Ela deve ter percebido minha ignorância a respeito de acampamento, pois pergunta:

– Você trouxe um saco de dormir?

– Sim, está no porta-malas – minto.

Camila e eu planejamos passar a noite em algum lugar perto do Centro
Correcional McGreavy para não precisar fazer a viagem duas vezes em um dia.

Além disso, quem sabe quanto tempo terei de esperar para ver meu pai. O plano original era parar em algum hotel mequetrefe de beira de estrada; ela poderia dormir na cama e eu, no chão. Mas acho que ela planejou um acampamento. Ou ao menos fez a mãe acreditar nisso, fingindo o planejamento.

– Bom, muito bom. Vai precisar de um saco de dormir com esse tempo – diz
ela. – De qualquer forma, Camila está um pouco atrasada. Não é muito boa
nessa coisa de acordar cedo. Quase tive de arrastá-la para fora da cama. Está no banho, mas vai sair logo. Quer entrar e tomar café da manhã?

– Eu já comi – minto mais uma vez, e xingo Camila mentalmente por não
estar pronta.

É exatamente o que estava tentando evitar. Não quero conhecer a mãe dela mais do que já conheço.

– Hum, bem, ao menos entre e tome um cafezinho. – Faço uma cara que
mostra, obviamente, que não sou fã de café. – Ou chocolate quente? Não precisa ficar aqui fora esperando.

Ela volta para a casa e acena para mim, ordenando que eu a siga. Resmungo de leve e vou atrás dela, mantendo os olhos grudados na areia bem-cuidada. Assim que entramos, ela pede para eu me sentar à mesa da cozinha.

Enche a chaleira com água e põe na boca da frente do fogão.

– A água vai ficar pronta em um minuto.

Faço que sim com a cabeça como se tudo o que eu quisesse no mundo fosse uma xícara de chocolate quente. Examino a cozinha dos Cabellos. As paredes são pintadas de amarelo-canário, e os armários são feitos de cerejeira. No tampo do
balcão de mármore, há um porta-retratos com uma foto de Camila e Sofi.

Parceiras de SuicídioOnde histórias criam vida. Descubra agora