A garota e a idosa IV

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A idosa está meio baixo astral. Não está de muita graça, nem leveza. Também pudera: não pode sair de casa, não pode pegar o elevador e ir ali no apartamento de cima ver seu filho e seus netos, ir a casa da irmã ou da prima, nem pensar. As outras filhas e netos que moram em lados opostos da cidade parece que nem moram mais na mesma cidade. Vamos falar a verdade: tá uma m..... essa vida! Opa!
— Opa digo eu, diz a garota. O que é isso? Está tomando meu lugar? Você não é de falar palavrão!
— Sabe o que é diz a idosa. Você não tem noção do que é tirar a liberdade de um idoso!
— Como assim, pergunta a garota?
— Simples, diz ela. Nós, com o passar dos anos e da idade vamos perdendo muitas coisas, como por exemplo, só podemos comer comida saudável, temos que evitar ar condicionado, não podemos tomar tantos chopes como queríamos,  mais um monte de coisas. E a liberdade que é uma das coisas boas e até incentivadas, de repente, não temos mais? Não está nada fácil!
— Poxa, diz a garota, agora entendo porque voce está assim.
— Vamos fazer o seguinte, diz a garota
vamos contar histórias, daquelas bem impossíveis de ser verdade, vamos? Assim nós duas nos distraímos.
— O que você acha? pergunta a garota.
— Tá bom, diz a idosa. Histórias de quê? Fala aí que que escrevo a história.
— Oba, diz a garota, já animada com essa perspectiva! Conta a história da Loira do Banheiro!!!
Humm... vamos lá, diz ela, vamos sim. Contando histórias as horas passam e logo poderemos ir dormir.
Amanhã é outro dia e quem sabe eu esteja de melhor humor?                             

                  A Loira do Banheiro

Alguma coisa deve ter acontecido com ela no banheiro.

Seria no banheiro de sua casa? Ou no banheiro da escola? Talvez num banheiro de uma estação onde os ônibus param e os passageiros descem para ir ao banheiro.
E se a pessoa não é esperta e não olha o número do ônibus, quando sai do banheiro lá estão DEZ ônibus todos naquele barulho VRUM...VRUM... que os motoristas fazem para apressar os passageiros.

Aí vc entra no ônibus e não vê ninguém conhecido, desce e entra noutro e noutro, até que finalmente você encontra seu ônibus e senta com uma cara de quem nem estava apavorado.

Pode ter sido nesse banheiro que aconteceu alguma coisa com ela, a Loira do Banheiro.

Também penso que foi talvez no casamento dela, porque ela está sempre de branco. Ou então num hospital e ela saiu com o lençol branco que a cobria para ir ao banheiro onde tudo aconteceu e por isso ela usa o lençol até hoje.

O que sei é que ela gosta muito de banheiros de cinema, de escolas, de parques. Dos lugares onde tem mais pessoas, para que a correria e a gritaria sejam vistos por muita gente.

Nunca ouvi falar que ela apareceu num banheiro de uma casa onde morava poucas pessoas.

Eu acho que ela precisa de plateia!

Eu mesma nunca a vi. Mas conheço um monte de meninas e meninos que a viram. Talvez quando eu estudava e ia ao cinema e aos parques ela ainda não aparecia para ninguém. Não sei.

O que sei é o apavoramento que ela causava, não há quem a tenha visto que não conta como foi, uns ficam com tanto medo, que  contam pouco e outros não param mais de falar de tantos detalhes que se lembram.

Então, a Loira do Banheiro foi uma lenda urbana lá pela década de 70 a 90. Depois ela sumiu.

Ahh, ia me esquecendo do mais importante: o que dava o pavor e medo é que ela tinha dois chumaços de algodão tapando suas narinas. 

Uma alma penada, com certeza! Se vc sentiu um vento frio passar por aí agora, cuidado: pode ser a Loira do Banheiro!

Credo diz a garota e ambas caem na risada!

Contos da Quarentena2 AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora