Esconderijo

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Eu me escondi tão bem escondida, que não me acho mais! Sério! Quem envelhece antes da hora?

Eu fiz isso comigo. Aos 60 e pouco  eu me autodenominei  idosa. Perante a família, as pessoas, o mundo. Mas eu sei que não é verdade! Foi um comodismo que hoje está me incomodando! Sabe porquê?  Porque já perdeu a graça. O meu medo é não conseguir mais largar esse disfarce.

E se não conseguir, pronto! Nem bem fui moça, nem bem fui mulher, e nem bem serei idosa! Que destino trágico terei tido! Não, eu não quero isso!

Eu preciso construir a mim mesma. Eu tenho essa missão. Sou um ser pensante tenho então que fazer reflexões e saber o que eu sou ou quero ser.

Se eu me afasto e me isolo sinto que estou me acovardando. E isso eu acho pequeno. Do ponto de vista humano eu acho pequeno...

Onde está a minha impetuosidade dos 30 anos?

Cadê a minha inquietação da adolescência?

A minha energia dos 40 anos?

O meu furor dos 50? Quando toda a paciência já se esgotara e a menopausa começava a se instalar em meu corpo, e secaria meu útero, branquearia meus cabelos, ressecaria minha pele e faria esvair-me em suores?

Um corpo marcado e uma alma furiosa?

Furiosa com o quê, alguns se perguntarão. E eu nem me dignarei a responder.

E chegou os sessenta! O que significou isso?

A que corresponde essa idade? Ao fim da vida como um ser do sexo feminino? A ser invisível? A ter que escolher um papel na família e na vida?

Mais uma vez na vida eu deixarei
que a inércia me leve para onde ela quiser?
Eu simplesmente fiz isso! Antecipei o meu papel de idosa.

Mas eu quero isso? Me afasto, me isolo, interajo só superficialmente. Estou confortável e isso me basta?  Não sei... antes que esse papel fique impregnado em mim, eu decidirei. Isso! Eu decidirei!

Não é justo comigo que pelo menos agora não seja eu a saber o que sou ou quero ser! Ah não!

Contos da Quarentena2 AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora