A Casa do Rio Vermelho

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Nas minhas andanças por várias cidades e países sempre tem uma livraria, um espaço cultural, algo que me remeta a um universo que eu gosto muito: escritas e escritores.
Há muitos anos atrás, quando ainda não era moda colocar estátuas  dos escritores como a de Carlos Drumond de Andrade, no calçadão do Rio de Janeiro, ou o poeta Manoel de Barros no canteiro central de uma avenida em Campo Grande-MS, eu já buscava em minhas viagens uma referência literária, mesmo que fosse a livraria da cidade.
Agora então, não perco a chance de ir visitar e tirar fotos com as ilustres estátuas dos escritores.
Em minha primeira viagem fora do estado lembro duma estátua tríplice no Largo da Glória, no Rio de Janeiro. Cheguei perto para ler e uma das estátuas era de Pêro Vaz de Caminha homenageado como o primeiro escritor que pisou neste país!
Fiquei supresa, pois não tinha ideia da importância que um escritor poderia ter. Sempre que posso vou a lugares que evocam livros ou escritores.
Em Salvador a minha experiência foi muito intensa.
Ela foi visual, auditiva e sensorial.
Emocionei-me ao adentrar o portão da Casa do Rio Vermelho, um espaço cultural onde morou o casal Jorge Amado e Zélia Gattay.
Ao subir as escadinhas e empurrar o pequeno portão você é absorvido pela atmosfera de um lindo jardim, com alamedas que norteiam o seu passeio. Andando pelo jardim, chega-se a uma sala onde estão expostos  objetos de candomblé em referência à crença dos antigos moradores. A casa foi construída em um terreno que fica num aclive no Bairro do Rio Vermelho em Salvador. Foi uma construção coletiva, todos os amigos participaram de um jeito ou outro, da para imaginar o clima que envolveu a construção, era como se fosse uma desforra, já que a história de como Jorge Amado rendeu-se ao capitalismo, ao vender os direitos autorais de Gabriela para Hollywood para poder construir a casa, está contada em algum lugar dessa casa museu.
Depois um salão das lembranças das viagens, souvenires de todos os lugares do mundo; a sala de estar tão singela com a TV de tubo e as duas poltronas lado a lado, sinônimo da parceria e cumplicidade do casal. O quarto, a cama, a cômoda com as gavetas semi abertas contém cartas desde chefes de estado como Charles de Gaulle, até cartas carinhosas trocadas entre avós e neta.
Na porta do guarda roupa, um alfinete prende uma folha de papel com o desenho muito bem feito de um modelo de vestido, com todos os detalhes e recomendações escritos à mão e mandado para a costureira. E no cabide, o vestido.
Na cozinha, as panelas, os livros de receita, o ambiente onde eram preparados o alimento para quem estivesse ou chegasse à casa do casal.
O laguinho do pátio, um mimo feito por ele, a pedido da esposa.
E a cereja do bolo uma sala multimídia, onde num telão passa as imagens dos livros transformados em filmes e diversos amigos e atores fazem a leitura dos livros de Jorge Amado.

Sentar-me naquela arquibancada e ouvir as histórias narradas dos livros que li e reli em diversas épocas da minha vida foi um desses momentos mágicos, em que você sabe que a vida te deu um presente!

Contos da Quarentena2 AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora