capítulo 1

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Quarenta e cinco dias depois...

Capítulo 1

Dulce Maria

Estava terminando de arrumar meus materiais após mais um dia cansativo como professora, eu amo meu emprego e lecionar sempre foi um sonho desde criança. Agora com a gravidez e minha pequena barriga de cinco meses as coisas ficavam três vezes mais exaustivas, o ato de ficar em pé me deixa moída no fim do dia. Lidar com adolescentes estava sendo o perfeito teste para meu controle, meus hormônios fervilhando a mil e ainda tenho que aturar jovem imaturo e desagradável com cordialidade.

Cheguei a frente da escola e encontrei Paco parado em frente ao seu carro, estranhei, morávamos a 3 quadras e nunca foi um problema caminhar ate lá, aliás era de muito gosto meu, me ajuda a relaxar depois da aula.

- Aconteceu alguma coisa, amor? – perguntei me aproximando de forma cautelosa.

- Não, se acalma. – soltei o ar. – eu só queria vir te dar uma carona, acho perigoso você andar até em casa.

- São apenas três quadras Paco. – o excesso de cuidado dele esta me deixando maluca.

- Você esta grávida Dul, quero ter certeza que você esta 100% bem e segura. – ele abriu a porta do passageiro para eu entrar, sem muita escolha me sentei.

- Tinha todo esse cuidado em todas a gravidez da sua ex-mulher? – Perguntei assim que o vi entrar e se acomodar.

- Bom na primeira sim, nas outras acredito que já estava com mais certeza de como o corpo dela lidava com toda a transformação da gravidez.

- Entendo.

O assunto morreu, sempre que tocava em sua ex-mulher Paco agia com pedras na mão, quando assunto era os filhos piorou, não gostava de maneira nenhuma que eu me metesse, mesmo discordando de muitos métodos educativos usados por ele.  Entramos em casa e fui trocar minhas roupas depois me juntei com Paco para almoçar.

- O seu ex- sogro ligou hoje. – ele falou com naturalidade, eu não via e nem falava com Luis a quase 5 anos. Ele ficou tão mal que precisou ser internado diversas vezes, alegando ver Christopher em lugares como mercado, padarias e até no shopping.

- Ele precisa de algo?

- Pediu uma foto. – foi difícil engolir o que estava em minha boca.

- Foto? Para que uma foto?

- Para finalmente colocar no tumulo dele e deixar o Christopher descansar em paz.

Eu me calei diante de suas palavras eu não tinha pensado muito em Christopher desde que fui ao cemitério, eu nunca deixei colocar uma foto lá eu jamais aceitei a ideia de encarar aquilo como o lugar onde jazia o homem que foi Christopher Uckermann, só que eu desisti e agora eu teria a dor de procurar sua foto, deveria ser mais leve, mas não é. Esse fardo que serei obrigada a carregar por toda a minha vida, a duvida e a dor de uma viúva que nunca pode dizer adeus ao homem de sua vida.

- Vou procurar e levo até ele. – consegui dizer após colocar meu prato na lava louças.

- eu posso procurar você, não precisa fazer isso.

- preciso, ele era meu marido. – caminhei até nosso quarto.

Dentro de meu guarda roupa eu tinha uma caixa onde eu mantinha as poucas coisas que me restaram dele, sentei-me na cama e pus a olhar as recordações do que um dia foi minha vida. Fotos do nosso namoro, viagens, formatura, faculdade, casamento, lua de mel, sua entrada na polícia, o dia em que ele levou um tiro no braço e eu quase morri do coração. Olhava tudo com tanta dor por saber que aquele homem teve esse fim, parecia tão pouco e desonroso.

Christopher era lindo, sempre foi muito cobiçado por todas as meninas. Era galante me conquistou com uma facilidade, beijava muito bem, sempre sabia fazer sexo na medida certa e como fazia, nossa lua de mel foi intensa, muito intensa. No fundo da caixa eu encontrei uma foto dele, ele usava um cavanhaque que eu detestava junto com um terno, eu tirei aquela foto o sorriso sacana que ele me deu foi o que a câmera capturou.

É desse homem que eu quero me lembrar para sempre!

Peguei a foto e sai para entregar ao pai dele, o caminho todo fui me despedindo dele. Era isso! O fim! O ponto final nessa história. Eu só não conseguia entender o motivo do meu coração não aceitar isso e muito menos minha mente, eu estava apenas me sabotando e me forçando a aceitar que eu realmente poderia ter paz.

- olá querida. – Luis me deu um sorriso torto quando me viu em sua sala.

- olá sogro, como está? – eu sempre o chamei assim e isso jamais mudaria.

- sobrevivendo.

- entendo.

- olha só, então esse vai ser meu primeiro neto? – ele apontou a pequena protuberância em meu ventre.

- seu primeiro neto ou neta, ainda não deu pra saber o sexo.

- fico contente, talvez isso seja um renascimento não acha?

- sim, é uma forma de renascimento.

Deixei a foto com ele e voltei para casa, não tinha muito animo o clima de luto me pegou, mas a fala do senhor Uckermann ficou em minha cabeça. Será que meu filho significaria um renascimento para minha paz?
Quando a noite caiu e eu estava na cama com os olhos fechados o dia havia sido pesado. Senti Paco me puxar para ele, coloquei a cabeça em seu peito e inalei seu perfume, ele sempre tinha o dom de me acalmar.

- Está tudo bem?

- Vou ficar, eu só tenho que me acostumar com a ideia. – Trocamos um beijo e fechei os olhos me rendendo ao sono.

Uma semana mais tarde eu recebi uma foto de Luis, era de como tinha ficado a Lápide em homenagem a Christopher. Uma foto, uma frase, uma caixa de madeira cheia de objetos e lágrimas foi a isso que uma das pessoas mais incríveis desse mundo se resumiu.

"Christopher Uckermann excelente marido e filho exemplar"

𝓔𝓼𝓽𝓪𝓻𝓪́𝓼 𝓮𝓷 𝓶𝓲 𝓬𝓸𝓻𝓪𝔃𝓸́𝓷Onde histórias criam vida. Descubra agora