Capítulo 28

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/Luísa Souza/

Depois de muito irritar a minha sequestradora, me sento na ponta do colchão e fico encarando meu tênis branco que está bastante sujo.

É difícil de acreditar que a pessoa que me criou, que eu amei e que eu chamei de mãe fosse trair meu pai, fingir a morte dele para mim, querer me usar para ganhar dinheiro, fingir uma outra traição, fingir laços sanguíneos entre eu e meu namorado e me sequestrar.

Ainda não entendo o motivo dela ter me sequestrado. Ela tem direito de me ver. Isso não faz sentido. O que mais quero é entender o que está acontecendo.

Minha vida é uma bagunça a muito tempo. Mas eu achei que ela já tinha se organizado ou que não isso não importava mais.

Meu coração se aperta em pensar o quanto estou fazendo os outros sofrer. Isso me faz ter vontade de nunca ter entrado na vida deles. Faz eu me sentir insuficiente e incompetente.

Percebo que as lágrimas caem dos meus olhos como cachoeiras. Me ajeito sentando ainda no colchão, mas encostando minhas costas e minha cabeça na parede.

Chorar é um jeito de a alma se aliviar. Mesmo sendo algo cansativo, é necessário. É um jeito de sua alma gritar e colocar para fora o que está sentindo.

Sinto como se as minhas lágrima estivessem me afogando. Sinto como se o meu coração já fosse pequeno demais para bater.

O choro silencioso me faz entender que somente eu sou capaz de dar um fim ao meu sofrimento.

Apoio meus cotovelos nos meus joelhos, apoiando minha cabeça em minhas mãos.

Abro a boca na tentativa de colocar para fora toda a dor e angústia que eu estou sentindo. Mas nada sai. Nenhum som sai da minha boca e isso me deixa angustiada, porque sei que só eu posso acabar com a minha dor, mas eu não sei como.

O silêncio do quarto se mistura com o escuro cada vez mais. A luz amarelada da lâmpada fica cada vez mais fraca. O silêncio fica cada vez mais ensurdecedor. Tudo ao meu redor está mais angustiante.

Fecho meus olhos com força na intenção de parar de chorar, de parar de me sentir fraca.

Não aguento mais colocar uma capa em mim, uma máscara em meu rosto, uma muralha em volta do meu coração.

Estive eu durante todo esse tempo, me fazendo de forte e insensível para afastar as pessoas de mim só para não me machucar.

A verdade é que eu não passo de uma pessoa fraca que tem medo de se machucar.

Uma pessoa que correu, tropeçou, ralou o joelho e por esse motivo não vai mais correr.

Uma pessoa que foge de tudo e de todos para tentar se manter intacta, quando na verdade, está toda quebrada por dentro.

Uma pessoa que tem medo de se quebrar de novo sendo que nunca foi concertada.

Uma pessoa que quer depender do tempo invés dela mesma.

Pois o tempo não cura as feridas sozinho. Ele precisa da sua ajuda.

O meu problema é que eu sei de tudo isso, sei que só depende de mim mesma, mas não sei como fazer para que tudo dê certo.

Não sei onde está a agulha e a linha para eu costurar meu coração.

Será que é tão difícil de entender que eu estou perdida?

Que eu estou dando voltas e voltas e não chegou em lugar nenhum?

Que estou andando em círculos e, no fundo, sei disso?

ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora