Capítulo 29

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•/Matheus Mendes/•

Estaciono meu carro e saio do mesmo. Entro na delegacia e vejo Carlos sentado tomando algo que deduzo ser café.

Sento ao seu lado e ele explica que devemos esperar o pessoal chegar para falar com o delegado.

Minutos se passam e a delegacia continua no maior silêncio, apenas com os funcionários trabalhando.

Carol e Peter entram e Carlos se levanta. Me levanto também e o sigo até a sala do delegado.

- Bom dia! - Nos comprimenta animado se sentando em sua cadeira.

- Bom dia. - Falamos em um coro desanimado. Carlos e eu nos sentamos nas cadeiras em frente a mesa e o Peter e a Carol se sentam em um sofá preto de couro pequeno que tem aqui.

- Bom, identificamos e localizamos o carro que foi usado para o sequestro. Encontramos ele caído de uma ponte. Sem ninguém dentro. - fala nos fazendo suspirar aliviados - Mas...

- Mas? - Incentivo a continuar vendo que ele parou para ler um papel que estava sobre a mesa.

- Identificamos o DNA do sangue na rua. Um dos sangues é realmente de Luísa, causado, provavelmente, pela pancada na cabeça. Mas o outro é do sequestrador, que foi causado por um soco da vítima em seu nariz, é de um homem chamado Vinícius Moura. Estamos tentando localiza-lo.

- Ele tem parente ou algum conhecido? - Pergunto apressadamente.

- Não encontramos ninguém. Mas estamos confiantes. Nesse exato momento, a perícia está a caminho do local onde o carro foi encontrado.

- Aqui está! - Digo entregando um pouco dos papéis que eu fiz anunciando o desaparecimento da Luísa

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- Aqui está! - Digo entregando um pouco dos papéis que eu fiz anunciando o desaparecimento da Luísa.

- Obrigada! - Agradece Carol pegando os papéis de minha mão e abraçando um pouco mais Peter com o outro braço.

- Vamos por onde? - Peter se pronuncia olhando os papéis que antes eu já tinha entregado a ele.

- Carol, vai pela rua da escola, pode ser? - Ela assente com a cabeça. - Peter vai pela rua da casa dela e onde ela desapareceu. - Peter faz o mesmo que a Carol. - Eu vou pelo resto da cidade.

- Onde está o Carlos? - Peter olha para a namorada com um olhar de reprovação como se dissesse para ela não de meter em nada. Ela apenas o ignora.

- Estava na delegacia. A essa hora ele já deve estar a caminho do local onde está o carro. - Encaro os dois e pego a minha quantidade de papéis. - Vamos?

- Claro! - Dizem em coro.

Colo mais um papel em um poste. Pego outro ao ver um casal passando. Mostro a foto da minha morena para eles e pergunto se eles a viram. Agradeço após ouvir a resposta negativa que infelizmente eu já estava esperando.

Estou me sentindo tão inútil. Nem sei exatamente o porquê que estou distribuindo esses papéis. Por que alguém sequestraria uma pessoa e sairia com ela por aí? É claro que vai deixar ela trancada. Sinto que não posso fazer nada. Estou me sentindo inútil e insuficiente.

Luísa não sai da minha mente. Fico pensando em tudo o que ela deve estar passando.

Eles estão torturando ela?

Fazendo algo pior?

Sequestraram ela por dinheiro?

Qual foi o motivo de a sequestrarem?

Entro no meu carro, coloco o resto dos papéis no banco do carona, ligo o carro e dou partida.

Saio sem rumo. Não irei distribuir o restante dos papéis. Não faz sentido. Vai ser mais inútil que eu, ou não.

Paro o carro e olho pela janela. A casa da Marina? Por que eu dirigi até aqui?  O que eu estou fazendo? Vim para ver quem? Alex? Marina?

Desligo o carro e saio do mesmo. Olho em volta pensando uma última vez se devo apertar a campainha. Vejo um carro se aproximando.

O carro para na calçada. Marina sai do mesmo e me encara surpresa. Se aproxima e para na minha frente.

- Boa tarde! - Comprimento sem jeito colocando as mãos no bolso.

- Boa tarde! - força um sorriso - O que faz aqui? - Pergunta ajeitando a bolsa em seu braço.

- Ficou sabendo sobre o sequestro da sua filha? - Pergunto fitando o chão e logo depois encarando a mulher na minha frente.

- Fiquei. Veio aqui para isso? - Fala indiferente.

- Como você consegue? - Deixo as palavras escaparem. Preciso controlar minha boca. Ela arqueia a sobrancelha e me encara com uma cara nada boa.

- Eu vou fingir que não ouvi esse comentário do meu genro. - Solta as palavras arrogantes. Posso sentir sarcasmo e deboche na palavra "genro''.

Balanço a cabeça negativamente e viro para o meu carro. Entro nele e o ligo. Antes de dar partida posso ver Marina entrando em casa. Saio de lá antes que eu cometa alguma besteira.

Viro uma esquina e percebo que já está anoitecendo. Desvio meu olhar rapidamente para o céu. Lembro de quando Luísa me contou que ama admirar-lo.

Suspiro frustrado. É difícil estar nessa situação. Lembrar da vítima, pensar em todos os momentos bons e pedir que eles se repitam, lembrar dos momentos ruins e pensar em como poderia ter sido diferente...

Fico pensando em todas as pessoas que estão nessa situação. Ficar pensando em uma pessoa que sumiu a dias, semanas ou até anos. Pedir incessantemente para que a pessoa volte para casa, volte para seus braços. É uma situação muito agoniante. Sua mente te machuca com todas as coisas que podem estar acontecendo com a vítima. Muitas pessoas são sequestradas por dinheiro, outras por obsessão, algumas por vingança, mas tem pessoas que são levadas aleatoriamente. A família deve se torturar, colocando culpa sobre si mesma. É horrível, por mais empatia que nós tenhamos, nós nunca pensamos que isso realmente vai acontecer com a gente. E quando acontece, você fica sem chão. Tudo acontece muito rápido e todas as suas emoções e sentimentos se misturam. Você se vê perdido, tenta se encontrar, mas é aí que você percebe como essa pessoa faz falta e é seu lugar seguro. Quase sua vida toda passa diante de seus olhos, mas especificamente sua vida ao lado da pessoa. A sensação é angustiante, mexe com todo o seu psicológico.

Saio do meu transe com uma luz muito forte na minha direção. Um caminhão está vindo em minha direção.

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