Desavença Escolar

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E então na próxima manhã, Clara se aprontava para o serviço e a Doutora terminava de comer o café da manhã, por insistência da morena que brigou consigo que não estava comendo, e estavam prontas, trancou a porta e saiu para a manhã de inverno com um cachecol rosê no pescoço, um suéter preto, uma saia lisa vermelha, meia calças decoradas e uma bota cano curto marrom, as mãos estavam sem luvas por estarem aquecidas na da Doutora; o trajeto para a escola foi tranquilo e particularmente rápido, de modo que absorta na conversa com a amiga e acostumada com a rotina do metrô não demorava tanto, observando a paisagem e vendo os ingleses apressados para irem para seus empregos, se embrenhando através das ruas, trajados profissionalmente com ternos e gravatas, a alienígena inclusive cogitou utilizar ternos como roupa fixa, da próxima vez.

A calçada da escola, estava completamente apinhada de alunos vestidos com o uniforme, alguns pais se despediam dos filhos e outros encaminhavam-os para as salas de aula, quando avistaram a professora de Inglês, os alunos a cumprimentaram e começaram de cochichos, e então percebeu que ainda estavam de mãos dadas, Clara sussurrou para a Doutora lhe aguardar no intervalo, para então irem conversar com a diretora e após, saiu arrebanhando os alunos para as salas, esclarecendo algumas dúvida dos responsáveis presentes e quando insistiram, os mandou comparecerem na reunião de pais; na sala de aula, enquanto escrevia o assunto da aula de hoje, percebeu que a turma estava completamente irrequieta e conversadeira, como não era de costume e por incrível, o sexteto que estava cuidando e ajudando, então compreendera que eles haviam se aproximado e o segredo entre eles compartilhado, mas não se preocupou, eles manteriam guardado entre eles e estava feliz por isso, afinal eram cicatrizes dentro de cada um.

Na hora do intervalo, porém Clara desejou que não estivessem se aproximado, percebeu que os seis simplesmente estavam lhe seguindo e espionando a todo o momento, nos corredores eles passavam rindo por si e quando os olhava, se dispersavam fingindo se despedirem; e então encontrou a Doutora no repartimento reservado para os zeladores.

Lhe deu um beijo saudoso com um sorriso ansioso.

— E então, vamos? Eu já falei com a diretora Valerie Seyfried e ela está lhe esperando, conforme eu comuniquei. — Informou para a amiga e a conduziu para fora da casinha de zelador, nos corredores acrescentou. — Embora eu não faça ideia de como você irá requerer uma atitude dela, se eu que sou funcionária não consegui!

— Só confie em mim, Clara! — Rebateu confiante.

Na sala de espera, a diretora, uma mulher loira, formal e séria as recebeu e a cumprimentou.

— Boa tarde, Doutora! Sou a diretora desta escola e você é...?! — Encarou de cima a baixo à quem se referia, não escondendo o descontentamento da vestimenta.

— Ah sim... isso, espera só um segundo...aqui! — Retirou do bolso da blusa sua carteirinha de identificação, que sempre deixava consigo e que antes emprestara para Yasmin, na identidade estava escrito Ministra da Educação. — Eu sou a Ministra da Educação!

Clara fez esforço para fechar a boca e não olhar incrédula para a companheira; a diretora, no entanto engoliu em seco e continuou mais séria.

— Eu não sabia que o Ministro da Educação, havia cedido o cargo para uma mulher! — Respondeu afiada e suspeita.

— Sabe como é, a vida é cheia de transições! — Sorriu largamente concluindo as conversas moles.

Clara jurou que viu a superior lhe encarando com rancor quando os olhares se cruzaram, mas deu de ombros, a prioridade ali eram as crianças e para aproveitar o tempo ganho, trouxe as reclamações de todos os professores do turno, como a um debate.

— E então, Doutora, a que honra devo a sua visita? Afinal os índices de minha escola estão a melhorar desde a troca de diretor e se caso ainda esteja com reclamações, garanto ser pela presença dos antigos professores! — A professora sentada ao lado se remexeu inquieta e engoliu em seco, fora uma indireta para si; a companheira percebeu e estreitou os olhos.

Enviada ao ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora