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— Pois é… Temos de ser mais cuidadosos. Afinal, o oceano pertencia a eles antes de aparecermos.

Camila olhou para ela de um jeito engraçado, com a cabeça inclinada para um lado e a testa levemente franzida.

— Não é muito lisonjeiro — falou Lauren.

— O que?

— O modo como me olha… Estou me sentindo um ser do outro mundo.

— Desculpe. É que… — Ela ainda não conseguira organizar os pensamentos. — Fiquei surpresa ao ver que você… que você parecia tão interessada…

— Interessada em quê? — Os olhos dela brilharam.

— Em salvar o pelicano, é claro.

No que mais poderia ser, pensou Camila. Lauren desviou o olhar.

— Surpresa porque eu demonstrei um pouco de afeto e decência? Seria mais típico de uma pessoa como eu ter batido no pássaro com uma enxada?

— Não, claro que não! Quero dizer… — A voz dela foi sumindo. Não estava certa se gostara de ver esse lado-humano e vulnerável de Lauren. Aquilo interferia fortemente na imagem que tinha dela. — Faz isso com freqüência?

— Isso?

— Essa espécie de resgate — explicou ela, na falta de outra coisa a dizer.

— Sempre que possível.

— É… é…

— O que, Camila?

Lauren chegou mais perto, fitando-a. O ar estava quente e úmido, sem vestígios da brisa marinha. Camila notou o suor brotar na testa de Lauren e sentiu-lhe o calor da respiração contra a sua pele.

— É uma bela ação — ela falou, enfim.

Lauren riu. Ela tentou desviar o olhar, mas os olhos dela a hipnotizavam. Bob voltou e deitou-se a seus pés. Camila mais sentiu a presença do cachorro do que o viu. Na verdade, só conseguia ver Lauren.

— Sou uma pessoa legal. — Ela ergueu a mão, passando-a suavemente no rosto dela. — Não sabia disso, não é? — Camila sacudiu a cabeça numa negativa, dando-lhe a chance de acrescentar: — No fundo, você não sabe nada sobre mim. Mas eu sei muito a seu respeito. Sei o que pensa de mim, por exemplo.

— Não, não sabe. Eu…

— Sei, sim.

— Bem, eu lhe disse…

— Isso não interessa, Camila. O que se diz e o que se pensa, muitas vezes, são coisas completamente diferentes.

Ela tentou dar uma resposta rápida, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Lauren estava tão perto… perto demais. A mão dela tocou seu ombro, depois deslizou-lhe pelo braço.

Então, ela sussurrou em voz rouca:

— Neste exato momento, está pensando que não sou uma pessoa tão ruim quanto posso parecer. Está se perguntando se me julgou mal. Está se perguntando se não poderíamos ser amigas.

— Bom… — Ela não conseguia articular um pensamento.

— Esta pensando se não poderíamos ser mais do que amigas. — A voz dela era hipnótica.

— Não, não estou — Camila conseguiu dizer.

— Sim, está.

Sempre acabavam negando o que a outra dizia. Mas uma coisa era negar palavras ou afirmações: outra, muito mais perigosa, era negar sentimentos.

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