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— Ótimo. — Ela estendeu a passagem e esperou, impaciente, enquanto o agente a reescalonava no outro vôo.

Apanhou então a passagem e seguiu em direção ao portão.

Foi a última da lista de espera a ser chamada e só quando o avião decolou, teve tempo para pensar sobre a ameaça que pairava sobre Cypress Key. Era cedo demais para se preocupar. Furacões tinham o hábito de mudar de curso ou de se transformarem em meras tempestades tropicais.

O furacão Ada, o primeiro da estação, não saiu de curso. Quando o avião de Camila aterrissou em Miami, os ventos haviam acelerado e começara a chover. Todos os vôos na região estavam cancelados. Não tinha escolha, precisava ir para um hotel.

Durante as doze horas que se seguiram, ela ficou grudada à televisão, assistindo à destruição causada pelo furacão que assolava a costa oeste da Flórida. O quadro era devastador: ondas derrubavam diques, barcos eram virados, casas viravam escombros. Os jornalistas corriam ao litoral para cobrir a tempestade, mas não havia notícias diretamente de Cypress Key, o local mais atingido pelo furacão.

Desesperada, Camila telefonou para todos os números que conhecia na cidade. As linhas pareciam desconectadas. Estava louca de preocupação, não só por Lauren, mas por todo o pessoal do SummerSun. Tudo acontecera tão rápido: só podia torcer que eles tivessem sido avisados a tempo de irem para o interior, em busca de segurança.

Quando compreendeu que não havia nada a fazer além de esperar, ela tentou se acalmar, pediu um sanduíche ao serviço de quarto e telefonou para a mãe. Antes de desligar, confortou a velha senhora:

— Eu também te amo mamãe. E a papai. Não se preocupe. Telefono quando chegar lá.

Camila descansou a cabeça no travesseiro e olhou para o teto. Amava seus pais e os entendia. De certa forma, não voltara a Atlanta só pelo dinheiro, mas pela sensação de segurança que sempre a cercara naquele lugar. Mesmo assim, descobrira que não queria mais viver daquela forma.

Também sabia que os pais a tinham mantido longe de Alejandro não porque o odiassem, mas porque tinham medo de perdê-la para ele. James e Sinuhe tinham passado toda a vida com medo: de Alejandro Cabello, de perderem dinheiro, de competirem pelo amor e respeito da filha, de ficarem inseguros financeiramente. Eles não mudariam, mas isso não queria dizer que ela não pudesse mudar.

Não era mais uma menininha e não tinha medo. Estava a caminho de construir sua própria vida, com seus próprios valores e objetivos. E Lauren estava no centro daquilo tudo. Ela queria aproveitar as oportunidades, lutar pela felicidade e abraçar a vida. Com Lauren a seu lado, iria conseguir tudo isso. Voltar a Cypress Key daquele jeito louco e precipitado era apenas o primeiro passo.

Pela manhã, o pior havia passado, mas a chuva continuava. Até em Miami havia sinais de estragos, telhas arrancadas e galhos quebrados bloqueando as ruas. Camila decidiu não esperar mais. Se não houvesse vôos, alugaria um carro para chegar a Cypress Key.

Já passava do meio-dia quando ela saiu da cidade e, no meio da viagem, desejou ter ouvido os conselhos do recepcionista do hotel e do gerente da agência locadora de automóveis, que lhe haviam dito que esperasse até o dia seguinte. A Everglades Parkway, estrada que ligava a costa leste à costa oeste da Flórida, era uma longa pista de duas mãos apelidada de Estrada dos Crocodilos. Com rios lamacentos de ambos os lados e várias placas avisando do cruzamento de ursos e pumas, não era fácil dirigir por ali nem com o melhor dos climas. Numa tempestade, era um verdadeiro pesadelo.

Com as palmas suadas, o pescoço duro e o coração em disparada, Camila finalmente chegou a Naples, o fim da Estrada dos Crocodilos. Entrou numa lanchonete para tomar um café, comer um sanduíche e descansar um pouco. Conseguira chegar até ali, mas ainda havia muita estrada pela frente. Embora o tráfego da Interestadual do Norte se apresentasse tranquilo, ela estava a quilômetros de seu destino.

Saiu da lanchonete e dirigiu de modo mecânico, com os faróis dianteiros se refletindo na estrada molhada pela chuva. Imaginava mil cenários de desastre envolvendo Lauren e o SummerSun. Só quando se aproximou do acesso a Cypress Key é que tomou consciência da extensão dos estragos provocados pelo temporal.

A palavra “furacão” nunca significara muito para Camila: evocava-lhe imagens de marés altas em praias varridas pelo vento, trailers virados de cabeça para baixo e, de vez em quando, um carro esmagado por uma árvore caída. À sua frente, agora, havia isso tudo e muito mais. Ficou estarrecida diante da terrível força dos ventos que tinham assolado a costa oeste da Flórida. Fileiras inteiras de pinheiros haviam sido destruídas, os troncos arrancados do solo como se tossem palitos. Imensos carvalhos arrancados jaziam no solo, inertes como cadáveres.

Quanto mais perto chegava de casa, mais assustada ela ficava. Então viu os carros da polícia, com as luzes vermelhas piscando. Era um bloqueio que se estendia por toda a estrada de acesso a Cypress Key.

Camila baixou o vidro da janela.

— Desculpe, senhorita, vai ter de voltar. — A chuva escorria pela capa impermeável do exausto policial.

— Voltar? Não posso! Tenho de prosseguir!

— Está tudo fechado na costa, devido aos estragos do vento e das ondas. Há fios elétricos por toda a estrada. É perigoso demais para turistas.

— Mas não sou turista! Estou indo para casa. Sou dona do Summersun.

— Do SummerSun, é?

— Sim, sou Camila Cabello, sócia de Lauren Jauregui. Tem alguma notícia do SummerSun?

— Não tenho notícias detalhadas sobre nenhum dos prédios da costa, mas a situação está preta por lá. Não deveria deixá-la passar…

— Por favor! Tenho de ir para casa. Minha nam… minha família depende de mim.

— Bem, já que mora lá… Mas prometa-me que dirigirá com cuidado. Há uma equipe de limpeza na estrada da costa e talvez a façam parar de novo. O fato é que, mesmo que chegue perto do SummerSun, talvez não consiga passar.

— Então irei a pé!

— Está certo, mas tenha cuidado e fique longe dos fios, certo? 

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