Camila ficou dois dias em Atlanta, dormindo no quarto de hóspedes da residência dos Cabello, numa missão que acabou se revelando infrutífera.
— Querida, gostaria que não partisse tão cedo.
Camila ergueu os olhos da mala que estava arrumando.
— Já sei o que queria saber, mamãe. James não vai me dar o empréstimo.
O padrasto fora inflexível como sempre em sua política de não conceder empréstimos, mesmo que Camila tivesse feito um pedido estritamente comercial, prometendo-lhe altos lucros. Ele não se comovera.
— Não é porque ele rejeitou seu pedido de empréstimo que ele não te ame, Camila.
Sinuhe Cabello afundou na cama. Bem arrumada como sempre, os cabelos muito bem penteados, a blusa de seda e a saia de linho impecáveis.
— Sei disso mamãe. — Camila dobrou um vestido e enfiou-o na mala.
— Só não entendo essa sua obsessão por um boteco velho na Flórida. Pensei que você quisesse dirigir uma galeria de arte, minha filha. Achei que esse era o objetivo de sua ida à Flórida: vender o tal lugar. Mas, agora que pode vendê-lo, você já não quer mais fazer isso.
— Descobri que o SummerSun não é só um bar, boteco como a senhora diz, o SummerSun é o que eu quero para minha vida mamãe, e eu tenho uma espécie de galeria lá. Comecei a expor o trabalho de artistas locais e alguns são excelentes. Tudo virá a seu tempo: primeiro, precisamos salvar o prédio.
— E o que me diz do convite de Deena Caldwell, para que você gerencie o pequeno antiquário que ela vai abrir em Decatur?
Camila fechou a mala.
— Não estou disposta a administrar o antiquário de Deena. Eu já tenho um emprego e é como gerente do SummerSun… quero dizer, espero que ainda tenha. De qualquer modo, vou sublocar meu apartamento aqui e me estabelecer em Cypress Key.
— Num barco? — Sinuhe arqueou as sobrancelhas.
— Que talvez tenha de ser vendido — admitiu Camila. — Por falar nisso… Fui até o banco e retirei as pérolas que vovó me deu do cofre de segurança. Sinto muito, mamãe, mas acho que vou ter que vendê-las também.
— Oh, Camila…
— Preciso do dinheiro. — Ela deu um beijo no rosto tristonho da mãe. — Lauren e eu precisamos do dinheiro.
— Nem sabemos nada dessa mulher, essa tal de Lauren, de onde ela vem, quem são seus pais…
— Estou certa de que assim que conhecerem, vocês irão gostar dela mamãe. — Camila lançou os olhos em volta do quarto. — Esqueci alguma coisa?
— Não tente mudar de assunto, querida. Parece estar falando a sério a respeito dessa mulher, você nunca havia dito de outra pessoa com tanto brilho no olhar minha filha. Isso está sério até demais.
— Sim mamãe, é algo sério. Mas não a despreze assim de cara, antes de conhecê-la, ela é uma pessoa difícil no início, mas se revela maravilhosa com o passar do tempo.
— Sei apenas que ela dirige um bar, como seu pai. Essa não é vida para alguém como você, viver com o dinheiro contado.
O avião de Camila partiria em duas horas: aquele não era o momento adequado para uma conversa franca com a mãe. Mas haviam evitado aquela conversa durante anos e talvez, nunca mais houvesse uma oportunidade.
Camila se sentou na cama e colocou o braço em torno dos ombros eretos da velha mulher.
— Você e eu somos diferentes, mamãe. Queremos coisas diferentes da vida. Você sempre quis segurança…
— Um teto em cima da cabeça, pelo menos. E quem poderia se sentir segura ao lado de Alejandro Cabello?
— Aprendi muito sobre meu pai Alejandro através das pessoas que conviveram com ele. Era um bom homem, mamãe. Talvez não fosse o homem certo para você, mas era leal e bondoso. Sinto não tê-lo conhecido melhor.
Sinuhe se levantou e foi até a janela, de costas para Camila.
— Eu sempre me senti culpada por isso, por mantê-lo afastado de você: mas James temia, e eu também, que ficaria confusa se dividíssemos o seu tempo dessa forma. James queria tanto ser seu pai… Ficou todo orgulhoso quando você adotou o sobrenome dele. — Virou-se para Camila. — Espero que não fique magoada com seu padrasto por causa do empréstimo. Sabe que ele lhe daria o dinheiro se achasse que fosse para o seu bem, que fosse um bom investimento para você.
— Conheço James e seus investimentos. Têm de ser sólidos como uma rocha.
— Ele é muito cuidadoso hija, mas sempre foi muito generoso com você, Camila. Você é a nossa única filha.
— Sou filha de Alejandro, mamãe — falou Camila, com brandura. — Às vezes, fico pensando como seria se o tivesse conhecido de verdade.
Os olhos de Sinuhe se encheram de lágrimas.
— Entendo isso Camila. Também me pego pensando como seria se você tivesse ficado com Alejandro.
Camila se aproximou da mãe e as duas se abraçaram. Então, inesperadamente, Sinuhe sussurrou:
— Alejandro Cabello era um homem bonito, forte e fascinante, sabe? Nunca me esqueci disso. A sua Lauren também deve ser bonita, encantadora e fascinante. Volte para ela, querida. Espero que com você dê certo.
Horas mais tarde:
— Este vôo foi cancelado — declarou o funcionário, quando Camila colocou sua bagagem no balcão de check-in.
— Cancelado, por quê?
— Condições climáticas.
— Mas o tempo está bom.
— Há um furacão se aproximando da área de seu destino.
Camila se lembrou de algo que ouvira de manhã, no rádio, a respeito de um furacão. Não prestara muita atenção, porque não parecia ameaçador.
— Estava indo para o mar — argumentou ela.
— Derivou para leste, e cancelamos todos os vôos para a costa da Flórida. Gostaria de mudar de rota?
— Para onde?
— Para onde gostaria de ir?
— Gostaria de ir para Cypress Key. — Camila estava se desesperando.
— Senhorita, acabei de lhe dizer que…
— Eu sei. Quero chegar o mais perto possível.
O funcionário verificou no computador.
— Há um vôo para Miami em meia hora, mas está lotado. Se quiser ficar na lista de espera…
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SummerSun
FanfictionEla Conseguia Deixá-la Fora De Si! Quando Camila Cabello herdou metade do SummerSun - um bar no Golfo da Flórida -, viajou para lá com o intuito de vendê-lo. Isso até conhecer sua sócia, a rude mas incrivelmente charmosa Lauren Jauregui... Lauren...