22 - penultimo cap

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Camila agradeceu e seguiu devagar rumo à cidade. Perplexa, notou que quadras inteiras continuavam intactas. Então, a alguns metros de distância, terrenos baldios cheios de entulho surgiram onde antes havia prédios. O banco fora poupado, assim como a igreja do outro lado da rua, embora a torre tivesse ruído: mas o Hotel Palms, onde passara as primeiras noites em Cypress Key, não era mais que uma pilha de vidros estilhaçados e madeira lascada. A rota de destruição do furacão não parecia fazer nenhum sentido. Esperava que o SummerSun tivesse sido poupado pelos ventos avassaladores.

Mesmo sem o aviso do policial, Camila teria guiado com a máxima cautela, atenta aos fios de eletricidade e às árvores caídas: estava apavorada demais para agir de outro modo. Ao se aproximar do Golfo, viu os barcos, não ancorados no porto, mas espalhados pela praia como se uma criança tivesse jogado seus brinquedos no chão ao acaso: Havia um barco a vela na varanda de uma casa e uma lancha no alto do que sobrara de uma loja. Nada restara do cais de pesca, exceto algumas estacas. Os postes de telefone tombavam sobre a estrada.

Sentiu o estômago apertar e o coração bater acelerado. Enquanto atravessava aquela devastação, Camila movia os lábios murmurando uma prece:

— Que Lauren esteja bem. Por favor, meu Deus, que ela tenha sobrevivido a este horror.

Camila parou o carro e avaliou a estrada a sua frente: completamente bloqueada e uma equipe de limpeza trabalhando. Mas não precisava ir mais adiante. Chegara ao SummerSun.

Ou ao que restara dele.

Camila saltou do carro. Imediatamente seus sapatos afundaram na areia molhada e a chuva chicoteou-lhe o rosto. O SummerSun era uma confusão de destroços espalhados na areia.

Ela conteve um grito e caminhou sobre o cascalho. Embora fosse fim de tarde, o céu estava escuro e mal podia enxergar devido à chuva e a neblina. Procurou em vão por algum sinal de vida. Não havia nada.

Então uma sombra apareceu por trás de uma pilha de tábuas destroçadas. Camila deu um pulo, o coração batendo rápido enquanto ela corria em sua direção, quase derrubando-a.

Caiu de joelhos e agarrou o cachorro molhado e sujo.

— Bop! Você está bem! Onde está Lauren? Ache-a para mim!

Teve uma premonição repentina, louca. Via Lauren presa sob os escombros. Com as pernas trêmulas, seguiu o cachorro, pisando em cima do que um dia havia sido o balcão reluzente, caminhando sobre os restos do freezer de Arthur, atravessando um mar de cadeiras e mesas quebradas.

— Lauren, onde você está? — As palavras eram levadas pelo vento.

Algo se moveu a distância. Camila forçou os olhos para ver através do vento e da chuva, e avistou uma silhueta agachada, curvada, como se procurasse algo no chão.

— Lauren!

Lauren se endireitou, olhou para Camila e começou a correr, chutando os destroços à sua frente.

— Camila, você voltou! Você está aqui! — Havia alivio e alegria em sua voz.

Ela se precipitou de encontro ao peito forte, com Bop latindo e pulando ao seu redor. Os braços de Lauren a envolveram, com força.

Camila agarrou-se a Lauren, beijando-a sem parar.

— Você está bem! — gritou. — Graças a Deus que está bem! Fiquei tão apavorada!

— Sim, estou bem. — Lauren segurou a cabeça dela entre as mãos e fitou-a em meio à chuva. — Você voltou, voltou de verdade!

— Voltei, Lauren, voltei querida. Teria voltado antes, se tivesse conseguido. Onde ficou durante a tempestade? O que aconteceu com os outros?

— Estão todos bem. Avisaram-nos a tempo e fomos para o interior. — Lauren apontou para os destroços encharcados e patéticos do SummerSun. — Nunca imaginei que isso pudesse acontecer.

— O que importa é que todos estão bem. Podemos recomeçar tudo, Lauren.

Lauren se inclinou e recolheu um caco de louça.

— Minha xícara, ou melhor, um pedaço dela. Foi o que fiz o dia inteiro hoje: andei por aí, tentando achar algo para guardar de lembrança.

— Encontrou algo. Eu.

Lauren a abraçou com força.

— Mas não posso levá-la para casa comigo, querida. Isso foi tudo o que restou da minha casa.

— Temos o barco. — Mal acabara de dizer isso, entrou em pânico. — Ainda temos o barco, não temos?

Lauren começou a rir alto, jogando a cabeça para trás. Atônita, Camila perguntou:

— Lauren, o que foi? Qual é o problema? Pare com isso, está me deixando assustada.

— Temos o barco, mas há um pequeno problema — respondeu ela, rindo ainda.

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