A Vida em Livro II

Capítulo 9

- É do departamento de comunicação... - aceno e ele atende o telefone. Passados poucos minutos ele termina a chamada.

- O primeiro trabalho... Vou amanhã para Madrid.

- Já?

- Sim... Vou com o Luisão e mais algumas pessoas do marketing. Vamos até à Casa do Benfica... Dois dias fora.

- Ok... Bem, era expectável que isso acontecesse em breve. Estamos na época de férias dos jogadores, em breve começa a pré-temporada.

- Sim...

- André, toma cuidado, por favor.

Ele fita-me e dá-me a mão.

- Eu sei... Eu sei que já estás a pensar em mil e uma coisas, mas tem calma.

- E... E se ela for também?

Ele suspira.

- Se ela for também pode ser uma oportunidade... Quem sabe se não a apanho em falso.

- André, fala, por favor, com alguém. Não te armes em agente secreto.

- Não me estou a armar em agente secreto, Luísa. Só não quero que duvidem de mim.

O nervosismo acaba por tomar conta de mim. Levanto-me da cama.

- Duvidarem de ti?! André, há quanto tempo estás naquela casa?? Há quanto tempo serves o clube? Como podem duvidar de ti em detrimento de uma tipa qualquer?!

Ele fica a olhar para mim como se estivesse a processar tudo aquilo que lhe estou a dizer. Ou, então, estará a tentar perceber como me pode responder.

- Ouve, eu sei que nem eu nem tu passámos por uma situação destas. Mas eu só quero ter provas, não sei. Quero ter algo de concreto.

Suspiro longamente. Aquilo começa mesmo a enervar-me.

- André, ouve o que te estou a dizer. Tu és o André Almeida. Capitão do Benfica. Aceitaste este cargo. Fizeram o que fizeram para te manchar e quem manda no clube quer que tu lá fiques. Qual é a parte de eles confiarem em ti que tu não entendes? Para quê pronlongar isto? Já sabes o que se passou e é fácil de perceber o porquê. Fala com alguém!

- Luísa, deixa-me tratar disto. Eu saberei quando falar com alguém, podes confiar em mim?!

Olhamos um para o outro.

Estamos os dois nervosos. Bem sei que o André não saberá muito bem o que fazer, o que o deixa meio enervado.

Mas... Porra. Ele deveria ouvir-me.

Começo a andar pelo quarto. Também sei que quando ele mete uma coisa na cabeça, tem de a levar até ao fim. Mesmo que todas as evidências mostrem que não é o caminho certo.

- Luísa, eu não quero discutir contigo. És a última pessoa com quem quero discutir sobre isto.

Paro de andar e volto a olhar para ele, agora em pé.

- Isto... Eu não te sei explicar, mas isto não me soa nada bem.

- Desde quando somos supersticiosos?

- Deixa-te de tretas...

- Luísa, confia em mim. É só isso que te peço. E sabes que serás a minha confidente...

Sinto um embrulho no estômago. Tudo isto está a deixar-me mal disposta. Sempre que me enervo, o meu estômago é o primeiro a ressentir-se.

Tento acalmar-me.

- Está bem - digo, simplesmente, ao mesmo tempo parece que desfaleço. Credo, que fraqueza é esta?

- Luísa? - o André está do meu lado e segura-me no braço - sentes-te bem?