Capítulo 14

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- Esta, sim... Esta é a minha verdadeira Luísa.

- Hum? - Olho para ele confusa.

- Sim, esta és tu. A mulher corajosa, que não se esconde atrás dos seus erros.

- Como?

- Ao dizeres-me que eu não posso desistir da verdade... e... reconhecendo a tua fragilidade. Não podias ser mais corajosa, meu amor.

Os meus olhos enchem-se de lágrimas. O André consegue ver e mim características que eu penso não terem nada que ver comigo. Desde quando sou corajosa?

- E sabes uma coisa, Luísa? Eu também estou com medo. Estou com medo por ti. Nunca te vi tão desesperada como hoje. Só Deus sabe como eu gostaria de te retirar toda essa dor. Sinto-me impotente por te ver assim, por não te poder retirar essa ansiedade que te consome.

Maneio a cabeça.

- Não, André. Tu fazes tudo o que preciso, estás comigo. Hoje é que... A minha ansiedade tomou conta de mim, porque... Não sei, nos exames não consegui perceber nada. Fizeram-me perguntas e mais perguntas, mas não tive resposta. E comecei logo a pensar que isto era mau sinal. Foi isso, foi por isso que disse o que não penso, relativo à... relativo à Susana. Por favor, perdoa-me.

André coloca a sua mão na minha face.

- Não me peças perdão. Está esquecido. Porque não partilhaste isso comigo logo?

Encolho os ombros.

- Luísa, quando te digo que temos de dividir tudo, falo também disto. Daquilo que pensas, da tua ansiedade. Isto é mais importante do que tudo o resto.

Aceno ao de leve.

- Sim... Eu... Eu estive mal, eu... 

O André envolve-me no seu abraço e deixa-me um beijo na testa.

- Pronto, pronto... Eu sei. Eu percebo. Amo-te, amo-te sempre.

- Mesmo que eu não tenha mais filhos? - a pergunta sai sem ter sido pensada. Nem sei como fui capaz de o fazer. Será que esta questão estava já na minha mente, mas não a tinha conseguido colocar a mim própria?

Sinto o André a suspirar.

- Como... - ele afasta-se um pouco de mim e fixamos o olhar um no outro - Isso nunca vai fazer com que te deixe amar, Luísa.

O conflito que vejo no seu olhar ainda me provoca mais medo. Nunca vi aquele conflito nos seus olhos, mesmo depois de tudo aquilo que passámos.

- Eu não estou bem... Não sei como isto me passou pela cabeça.

- Luísa, nunca... Eu não te amo por termos ou não filhos. Temos o Tiago que é fruto do nosso amor e é maravilhoso. Gostava de te ver grávida outra vez, passar por uma segunda viagem, claro que sim. Mas se isso acontece ou não, não define o meu amor por ti. Se não tivéssemos o Tiago, eu amar-te-ia da mesma maneira.

Encosto a minha testa no seu peito.

- Desculpa, desculpa. Eu... Não sei como pude sequer questionar-te isso.

- Deves perguntar tudo e mais alguma coisa, Luísa. Não me peças desculpa por isso. Até porque... Não te esqueças: aquilo que nos une é puro e só se mantém puro se tivermos esta abertura um com o outro.

Levanto a minha cabeça para poder vê-lo de novo.

- André, mas isto magoa-te, não? Todas as minhas perguntas magoam-te.

- Perfiro que me magoes com as tuas perguntas do que guardes tudo isto para ti e depois... depois criam-se histórias que não são verdade, tu sofres tudo sozinha. Não. Isso é muito pior.

A Vida em Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora