Assim que ele abre a porta eu levanto-me e vou ao seu encontro.
- André - digo no meio de um suspiro. Quando ele olha pra mim, esboço um sorriso. Agora percebo que algo o está a perturbar.
- Luísa - Ele dá dois passos e abraça-me.
Abraço-o de volta e encosto a minha cabeça ao seu peito, sentido que aquele é o meu porto de abrigo.
- Estás bem? - Ele pergunta-me ao ouvido.
Provavelmente, sentiu como o meu abraço foi mais forte do que o habitual.
- Sim... - digo no meio de soluço. Merda. Não queria chorar.
- Luísa.
O André diz o meu nome de forma firme.
- O que se passa? - ele move-se um pouco para olhar para mim - Porque estás a chorar? O que se passa? É o Tiago?
- Não... o Tiago está bem-
- Papá?
O nosso filho está no cimo das escadas. Eu não digo que ele anda por todo o lado?
O André sorri para o filho e eu desvio-me.
Estava a prestes a dizer-lhe o que tinha acontecido, mas... mas agora não vai acontecer. O André abraça o pequeno da maneira que pode:
- O que te aconteceu, campeão?
- Caí... - Tiago encolhe os ombros. Olho para as horas. Tenho de lhe dar algo de comer. Vou para a cozinha.
—
Em menos de um minuto, o André entra na cozinha com o Tiago. Ele chega perto de mim, coloca a sua mão ao fundo das minhas costas.
- Estás a deixar-me preocupado.
- Não fiques - olho para ele, a emoção nos meus olhos - Falamos depois. Também tens muito para me contar.
—
Acabámos de jantar. O tempo que o André teve foi para estar com o filho. Ele estava preocupado, era evidente. Mas, cedo percebeu que o Tiago não tinha nada de grave. Os olhares furtivos que me enviava, diziam-me como ele estava inquieto quanto ao meu estado de espírito.
Nós os dois deitámos o Tiago. O miúdo estava cansado, não demorou muito a adormecer. Em silêncio, eu e o André saímos do quarto do pequeno.
- Vou ao quarto mudar de roupa. Já vou ter contigo à sala.
Aceno.
O André precisa ao menos de se refrescar. Ainda não parou desde que chegou a casa.
—
Termino de lavar a louça. Entro na sala e oiço os seus passos. Estou nervosa, não sei porquê, estou nervosa. Não devia. O André está comigo e tenho de partilhar isto com ele.
- Luísa, podes explicar-me isto?
Viro-me e fito-o. Ele traz uns papéis e vejo como o seu semblante está carregado. Merda. São os papéis do hospital.
Não consigo formular nenhuma palavra. Faz tempo que não me sentia aterrada desta maneira.
- Podes explicar-me isto ou não?!
O André deixa agora os nervos entrarem na sua voz.
As lágrimas vêm aos meus olhos e coloco as minhas mãos sobre o meu ventre.
- Eu... André eu... tive um aborto.
O rosto do André endurece.
- Quando?

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A Vida em Livro II
RomanceContinuação da história de André Almeida e de Luísa. Juntos há quatro anos, com um filho de três, Tiago. André Almeida assume um novo desafio no SL Benfica como representante do clube, ao mesmo tempo que termina a sua licenciatura em gestão. Tudo pa...