Capítulo 5

161 3 4
                                        

Franzo o sobrolho.

- A tua também?

André põe o Tiago no chão que corre para o sofá, entretido com um novo episódio dos bonecos que costuma ver.

- Sim... Vão apresentar-me no novo cargo. Nas palavras deles é a melhor forma de mostrar à impresa de que estamos unidos.

Suspiro. Vejo pelo seu semblante que isto não lhe agrada nem um pouco. Na realidade não lhe agrada e não me agrada... Nada. Decido não lhe dizer isso, não vale a pena massacrá-lo. Já sei que estará nervoso até amanhã.

- Bem, eu... Se queres que te diga, não me surpreende. É o local perfeito para dar essa imagem, mas... A imprensa vai-te cair em cima.

- Claro... - André senta-se à minha frente - Apenas tenho de dizer a verdade, ou melhor meia verdade: tudo o que veio nos jornais é uma infâmia.

Inclino-me e pouso a minha mão sobre a sua.

- Queres que estejamos contigo na apresentação?

André pega na minha mão e beija os meus dedos.

- Sabes que sim, quero muito ter-te do meu lado, a ti e ao Tiago. É o que mais quero, mas... Não vos quero expôr. Eu saberei lidar com isto.

Este André... Sempre a proteger-nos. Sempre senti isso, mais desde que o Tiago nasceu. Há uns meses para cá sentia isso ainda mais. Agora consigo perceber o porquê... Afinal, ele queria-nos manter à margem, como se essa fosse a única forma de nos manter seguros. Que tolice da sua parte... Mas já chega de falarmos disso. E, nesta situação, sou obrigada a concordar com o André: o melhor para todos é não estarmos presentes.

Levanto-me e devagar sento-me no seu colo. André, circunda a minha cintura com o seu braço e encosta a sua cabeça no meu peito.

- Fazemos da maneira que queiras, embora concorde contigo neste aspecto... No de agora ficarmos por casa. Mas sabes que estamos sempre contigo e vamos estar a acompanhar tudo na televisão.

- Eu sei... Mas... Não me sinto bem com isto. Talvez... talvez tenha feito mal em aceitar o cargo no Benfica. Tudo o que se tinha passado durante a época... Isto não foi bem pensado da minha parte.

- André - desvio-me um pouco para que ele possa olhar para mim - já pensaste que quem fez sair toda esta história é alguém que queria este teu lugar?

- Achas?

- Não sei... É uma hipótese. É claro que serve sempre tudo para prejudicar o Benfica, independentemente de seres tu ou outra pessoa, entendes? Mas tudo isto teria uma simples explicação: alguém que não te quer na estrutura e que armou tudo isto para que tu tomasses uma decisão diferente e renunciasses ao cargo...

- Sim... Tem lógica, o que me dizes, mas qu-

- Papá, Mamã!!! Já posso voltar para o jardim? - o pequeno Tiago diz ao mesmo tempo que chega perto de nós. Sorrio. É mais do que horas do seu jantar, com tudo isto eu e o André distraímo-nos.

- Não, campeão. Vamos jantar. Eu e a mãe já deviamos ter tratado disso,  mas estávamos distraídos com outras coisas.

- Mas, pai... queria ir correr.

- Vamos - digo ao meu filho e estendo-lhe a mão, levantando-me do colo do André. O mais pequeno dá-me a mão, meio contrariado - Está bem... - ele diz baixinho e eu só me rio - Não há dúvida de que tem o génio do pai.

- E isso é mau?

Maneio a cabeça ao mesmo tempo que chegamos os três à cozinha. Decido aligeirar o ambiente.

A Vida em Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora