- Em quê? - o André pergunta, delicadamente.
- Nada de importante - acabo por não lhe dizer tudo. Mas ele tem aquela expressão de quem não acredita nem em uma palavra que eu acabei de lhe dizer.
- Receber o carinho do Tiago tornou tudo mais leve... Obrigada.
Maneio a cabeça.
- Eu sei que precisas de sentir que estamos contigo.
Ele acena, levemente.
- Estive a falar com o Rui Costa ao telefone. Foi ele que me ligou. Disse-lhe o que aconteceu e que não tinha sido capaz de passar mais informações falsas.
- Tenho a certeza de que não te vão julgar por isso.
- Sim, não me julgam. Eu... - o André senta-se na cama - Estou cansado disto. Estou cansado de estar contrariado, estou cansado de te fazer sofrer.
Devagar, sento-me ao seu lado, ao fundo da cama.
- Estou magoada, mas eu sei que não és tu que estás com ela - tento ser forte pelos dois.
Ele nada diz e talvez... Talvez tenha de ter coragem para usar as palavras certas.
- André... Tens falta de sexo? - Ele baixa a cabeça - Sabes que me podes dizer a verdade...
O André maneia a cabeça.
- Não...
Ele não me está a dizer a verdade. Suspiro.
- Sê sinc-
- Eu sinto falta de fazer amor contigo. Não de sexo.
A sua resposta apanha-me de surpresa. Engulo em seco e tento acalmar-me. É suposto conversarmos sobre isto de forma adulta.
- Não te sentiste à vontade para mo dizer, não foi?
O André volta a levantar a cabeça e olha para mim.
- O que a Susana ouviu foi uma conversa entre mim e o Pizzi. Foi nesta última viagem, não sei como ela ouviu aquilo. E sim. Eu disse isso ao Pizzi. Faz-me falta estar assim contigo. Sinto falta disso.
Agora que o André verbalizou aquilo que já sabia não sei bem o que lhe dizer.
- Luísa, não fiques assim. Eu estou a ser sincero e temos de ser sinceros um com o outro-
- Não te sentiste à vontade para mo dizer? - insisto.
- Não. Não, porque... é egoísmo da minha parte. Como... - ele olha em frente - eu não te podia dizer isto quando te vejo assim. Quando te vejo destroçada e a tentar aguentar tudo isto sozinha, a lidar com esta merda da Susana ao mesmo tempo - Fecho os olhos - Isso era ser cruel. Eu não sou cruel. Nunca o fui com ninguém. Nunca o poderia ser contigo.
- Não é ser cruel, é...
- Mas, o que estamos para aqui a dizer?
Abro os olhos e vejo como ele tem toda a atenção em mim.
- Sim. Estás a dizer-me que eu deveria ter-te dito que sinto falta de fazer amor contigo? E eu estou aqui a fazer o quê? A nossa... Aquilo que fazemos os dois na cama não pode estar acima do teu bem-estar. Bem-estar que eu continuo a destruir com toda esta história da Susana, com a mania de que vou salvar tudo e todos.
- Tenho medo de te perder - as palavras saem-me de repente. Como se a minha fala fosse mais rápida do que qualquer raciocínio. Os olhos dele parecem que ganham outra dimensão. Ou então são os meus nervos.
- Não podes continuar a fazer isto.
As suas palavras deixam-me, mais uma vez confusa. Vejo-o a levantar-se e a andar de um lado para o outro.
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A Vida em Livro II
RomanceContinuação da história de André Almeida e de Luísa. Juntos há quatro anos, com um filho de três, Tiago. André Almeida assume um novo desafio no SL Benfica como representante do clube, ao mesmo tempo que termina a sua licenciatura em gestão. Tudo pa...