Capítulo 1 - 1999

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Senti o suor escorrendo pela minha nuca, meus dedos se agarravam ao cabo do meu facão como se minha vida dependesse daquilo... e dependia.

O cheiro de putrefação enchia meus pulmões e meu coração bombeava adrenalina para todo centímetro quadrado do meu corpo. Agachei sentindo dor em cada junta das minhas pernas, me escondia atrás de uma árvore com o tronco largo só ouvindo o passo lento dos mortos, eram três, uma mulher, um homem caindo aos pedaços e um fresco, tinha acabado de se transformar pela aparência, precisava acabar com eles logo para seguir viagem.

Espiei rapidamente para me situar sobre as posições deles, bem devagar eu deixei minha bolsa que continha minhas poucas armas e munições no chão, não precisaria delas agora, chamar atenção de outros mortos e dos vivos era o que eu menos precisava no momento.

Assim que me eu saí do meu esconderijo pude ver as três carniças se virando na minha direção com grunhidos escapando por aqueles dentes podres, a mulher foi a primeira a chegar perto o suficiente para eu conseguir desferir um golpe. Ela tinha metade do rosto comido, pingando uma gosma quase verde as roupas totalmente rasgadas deixando à mostra o corpo esquelético. Com um único movimento eu cravei meu facão na cabeça dela quase rachando a metade o crânio mole e já parti para o próximo que se aproximava lentamente. Empurrei o corpo do que deveria ser de um jovem negro com a mão desarmada e enfiei a ponta do facão no seu olho esquerdo fazendo com que um sangue preto voasse na minha direção, fechei meus olhos quando senti o liquido no meu rosto, um grande erro!

O terceiro, o fresco, só tinha uma mordida no pescoço, veio para cima de mim já mordendo o ar, e eu só percebi quando a mão dele tocou meu rosto em desespero para me comer. Droga, acabei de fugir do inferno para morrer dessa maneira pateticamente? Não, eu sobrevivo! Não irei morrer na mão dessas carniças, não admito que isso aconteça comigo.

Caí com as costas no chão e o morto em cima de mim tentando ao máximo me morder de qualquer jeito. Firmei minha mão no facão, segurei ele pelo pescoço e atravessei aquela lamina por sua têmpora.

— Mil novecentos noventa e oito — Resmunguei ao jogar o corpo mole dele ao lado do meu. Fiquei uns segundos deitada na grama, senti o sol tocar o meu corpo e assim que meu ouvido captou de muito longe o som de mais mortos eu me obriguei a levantar.

Peguei minha bolsa de armas e rumei na direção contrária do som.

Nunca me sentirá tão sozinha quanto estava me sentindo agora, meu estomago doía com a fome que eu estava sentindo, meus pés já não estavam tão rápidos quanto eu desejava, meu corpo gritava de dor a cada movimento brusco, o sol trazia à tona o suor que eu não tinha para gastar, sendo que minha única maneira de repor isso era os dois goles de água que eu tinha em uma garrafinha suja que carregava. Roupas sujas, lama, sangue, gosma, minha bota mais gasta do que eu queria e meu querido amuleto da sorte fixado na minha cabeça, meu boné do exército americano.

Mas eu precisava seguir sobrevivendo, sabia que em alguma hora as coisas iriam melhorar, tinham que melhorar! Me agarrava nesse fio de esperança e continuava andando, o sol do final de tarde sempre a minha direita, para o mais longe possível do meu último cativeiro.

Tentava não pensar nisso, tranquei as memórias ruins em um lugar escuro do meu cérebro e planejava não libertá-las, pelo menos não por enquanto.

Precisava achar um lugar para me abrigar à noite, queria achar algo para comer já que estava quase comendo as pedras que achava no caminho. Considerei sair para caçar algo, mas meu corpo estava muito fraco para isso, então deixei essa ideia de lado. 

De acordo com meu mapa mental da Virginia eu deveria estar chegando em um vilarejo pequeno passando a cidade de Arligton, lá eu iria vasculhar por comida e tentar achar um lugar para ao menos relaxar meus músculos tensos e banhados de adrenalina.

Safe Zone / Rick GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora