Prólogo

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Oi, é o Tayler.

Caso você não me conheça, prazer, eu sou um estudante de música de 20 anos. Entretanto, eu tenho quase a certeza que sim, você me conhece. Além disso, eu sei que você não me esperava aqui. Talvez estivesse esperando o amor mais uma vez ou até mesmo outra pessoa. Esperasse ela, quem sabe? Mas infelizmente, ou felizmente, não sei, eu fui encarregado de estar aqui hoje.

Acho que você me odeia agora, não é? Veja bem, eu não te julgo. Vá em frente, desconte suas frustrações em mim, alivie as mágoas que você carrega no seu coração. Eu também me odeio. Eu me odiei por muito tempo, por muitas noites... Em cada lembrança, em cada letra de música que escrevi, eu me odiava um pouquinho mais. Mas você conhece um sentimento pior do que o ódio? Pena. E no momento é o que eu sinto por mim mesmo, porque dois anos depois, eu estou encarando Amber Eloise, enquanto ela sorri para outro alguém que não sou eu.

Apesar de ser uma cópia bem fiel, não sou eu.

Ela não me vê, e eu me retraio no sofá da cafeteria garantindo que isso continue assim, abaixando a cabeça e sendo capaz apenas de ouvir o som da sua risada enquanto eles esperam pelo pedido deles. Não preciso olhar para saber o dela. Chá gelado e um muffin de morango. Não esqueci de nada, tenho todos os detalhes vivos em minha mente. Se eu fechar os olhos agora, ainda sou capaz de sentir a textura de seus cachos contra meus dedos, o calor da sua pele contra a minha.

Involuntariamente, a tatuagem em minha mão queima, e eu solto o lápis sobre meu caderno de partituras. Se você folhear as páginas dele, vai ver que pelo menos dois terços das canções que já escrevi são para ela. Não que eu não tenha tentado - ou sido obrigado por alguns professores a escrever coisas novas, músicas que fugissem da melancolia do amor não correspondido, porém é difícil quando sua mente continua te puxando para o mesmo lugar. Eu sempre volto para aquelas férias de verão.

É óbvio que eu sei que ela estaria aqui em Los Angeles. Amber pode achar que não, mas eu sei absolutamente tudo que posso saber sobre a vida dela. Eu acompanhei cada dia desses anos, mesmo que distante. Eu estava lá, em silêncio, quando ela ligou para Jade para contar que havia sido aprovada na UCLA. Eu sabia que hoje era o dia da recepção dos calouros nos dormitórios. Talvez tenha sido esse o motivo que eu saí tão cedo de casa, evitando encontrar com qualquer pessoa que pudesse me levar até ela. Então, eu não esperava vê-la aqui. Não na minha cafeteria preferida, o meu refúgio para compor. E principalmente, não acompanhada.

Ele - eu sei seu nome, mas não me obrigue à dizê-lo - faz alguma piada que a faz gargalhar. Seu sorriso parece duas vezes maior do que antes. É, ela realmente parece mais feliz. A pontada que esse som causa em meu coração é tão vívida que eu quase levo a mão ao local, tentando amenizar a dor. O bolo em minha garganta cresce e eu aperto as pálpebras para segurar as lágrimas. Não quero chorar, não posso chorar.

Porque eu sei até onde vai a minha culpa, eu não tenho direito de sentar aqui e chorar, não quando eu fiz uma escolha. Eu sei que ninguém nunca a machucou como eu fiz, sei disso. Eu sei de cor cada palavra daquele áudio que ela me mandou ligeiramente bêbada, no meio de uma festa. Sei que nunca respondi, mas eu ouvi. Ouvi várias vezes, tantas que perdi a conta. Sentado no canto do meu quarto, segurando uma garrafa de cerveja, a milésima da noite, porque tudo me lembrava os momentos que passamos juntos.

E mesmo que ele jamais a ame como eu, não posso culpá-la por tentar seguir em frente. Porque foi o melhor não foi? Ela está mais feliz, não está? Eu quero acreditar que sim. Porque é a única coisa que me impede de segui-la quando os dois cruzam a porta, atravessando para o lado de fora do estabelecimento. Meus, digo, nossos amigos vivem me dizendo que um dia eu vou me sentir assim também, mas eu não sei se é real, porque para mim, eu sei que estive muito mais feliz ao lado dela.

O vento da Califórnia bagunça os cabelos volumosos e ele ergue a mão para colocá-los atrás da orelha de Amber. Será que ela é capaz de lembrar de quando eu costumava arrumá-los assim? Acho que não. Quando eles dobram a esquina, o peso em meu peito parece dobrar. Cada tijolinho que eu construí para conter a enxurrada de memórias se solta, deixando que minha mente se inunde com tudo que pertence à ela. Inconscientemente, eu pego meu celular em meu bolso, mexendo no aplicativo de mensagens e encontrando seu número antigo, bloqueado. Meus dedos me traem, clicando no botão que desfaz a ação. Uma única mensagem pisca na tela. Outro áudio. Cerca de três meses depois do primeiro. E se fui capaz de segurar as lágrimas até agora, eu não acho que vou conseguir pará-las novamente depois que aperto o play.

Wrong OneOnde histórias criam vida. Descubra agora